Canela,

21 de abril de 2024

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O editor desocupado e sensacionalista

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Por Francisco Rocha
francisco@folhadecanela.com.br

 

No Brasil, criou-se a cultura de culpar a imprensa por tudo. Na verdade, por tudo o que caminha em direção oposta à noção da verdade de cada um.

Veja bem, a verdade de cada um…

O brasileiro gosta de ler notícias sobre crimes e comentar indignado com os amigos no churrasco de sábado que o país só tem corrupto, que ninguém respeita leis e que lugar de bandido é na cadeia. Mas se ele próprio for flagrado bêbado ao volante por uma câmera de TV, não hesita em chamar o repórter de “urubu” e a imprensa de “sensacionalista”.

É assim desde que o mundo é mundo. Quantos filmes você já viu que o rei manda cortar a cabeça do mensageiro porque este trazia más notícias?

A “mídia” posou de culpada no golpe militar, na redemocratização, na derrocada de Sarney, na era Collor, nas privatizações, no mensalão mineiro, no mensalão federal, no Petrolão, na queda de técnicos da seleção, nas crises, marolinhas, tapiocas e mandiocas.

Ah, a mídia… O problema para os censores da vida moderna é que esse conceito foi ampliado e não cabe mais apenas aos grandes veículos de comunicação.

Os portais de notícia, os pequenos jornais… Foi-se o tempo em que trabalhar na imprensa era sinônimo de revelação de fatos. O máximo que conseguimos hoje em dia é levar a culpa pelas adversidades na qual o país, o estado ou a cidade enfrenta, aliás, não enfrenta. Sim, por que se depender do poder de convencimento dos nossos representantes, o Brasil não vive um momento de crise. É tudo fruto da imaginação da imprensa.

Ah, a mídia, que filha ingrata. Não tem cumprindo seu papel com dignidade e excelência.

Alguém poderia me explicar qual o papel da imprensa, por gentileza. Acho que o que aprendi em mais de 18 anos de profissão não condiz mais com a atual realidade. Será que mudaram a prerrogativa do jornalismo e não avisaram aos jornalistas?

Nesta semana, fui acusado de ser sensacionalista. Claro, afinal, não devo ter mais nada o que fazer do que no exercício do meu ócio cotidiano escolher a vítima da vez e atacá-la impiedosamente com mentiras e colocar a sociedade contra ela.

“Cortem a cabeça do editor desocupado e não leiam mais este jornaleco”.

Mas antes, lembre-se que não é a imprensa que atrasa salários de médicos, não é a imprensa a responsável pela gestão das entidades e órgãos públicos. Não é a imprensa que nomeia os ocupantes de primeiro escalão em qualquer esfera do poder.

Aliás, não é a imprensa que redige e vota projetos de lei. Não é a imprensa que destina o uso das verbas públicas. Não é a imprensa que desaprova contas, não é a imprensa.

O fato é que não é a imprensa que é de oposição: a imprensa apenas faz aquilo que qualquer boa imprensa em qualquer democracia deve fazer: fuçar naquilo que não se quer debater, fazer as perguntas que precisam ser respondidas, evidenciar aquilo que se quer esconder. Se quem errou é desse ou daquele partido, não lhe deve importar. O que deve importar é o conteúdo. O problema existe justamente quando o oposto ocorre: quando ela não põe o dedo na ferida.

A verdade amigos, é que imprensa serve a todos, até mesmo a quem precisa muito de um culpado pelo próprio fiasco.