Canela,

22 de abril de 2024

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Dia da Mulher: algumas conquistas, mas muito ainda deve acontecer

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Sempre acontece a mesma coisa no dia 08 de março: todos os meios de comunicação preparam matérias exclusivas que dizem a mesma coisa: o Dia da Mulher é importante. Sim, a mulher ela é importantíssima não só hoje, mas em todos os outros dias. E isso é um clichê que sempre falamos nessa data.

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O problema dos clichês é que, com o passar do tempo, eles vão se tornando momentos previsíveis: chega o dia da mulher, todo mundo fala que mulher é importante, o dia acaba e as coisas voltam para sua habitual rotina. Nosso texto especial de dia da mulher vai hoje ser diferente.

Já dissemos em outros 08 de março a importância das mulheres, e hoje é o dia de fazer nosso balanço: o que mudou das últimas comemorações pra cá? A mulher é mesmo tão valorizada assim? Ela nota seu valor em todos os outros dias, excluindo a comemoração de hoje? Talvez não.

Conforme a juíza Simone Chalela, responsável pela 2ª Vara Judicial de Canela e também as áreas de família e infância, o valor de cada mulher deveria ser notado em todos os dias do ano, independente de dia comemorativo, já que estamos ocupando a cada dia mais espaço na sociedade. Espero que essa geração possa deixar o legado de que “lugar de mulher é onde ela quiser” para as gerações futuras. “O que precisa mudar é que cada mulher deve se valorizar em primeiro lugar, reconhecendo seu potencial. Só assim se conquista o respeito e admiração do outro”.

Para a presidente da OAB – subseção Canela/Gramado, Mariana Melara Reis, as mulheres conquistaram espaços importantes no mercado de trabalho e na política o que trouxe reconhecimento da sociedade, “entretanto ainda há um longo caminho a percorrer na busca efetiva da igualdade e da valorização da figura feminina sobretudo no que diz respeito à intimidade, sexualidade e violência doméstica.

Segundo ela, infelizmente, Canela tem uma situação precária sobretudo no aspecto social e estrutural sendo falha a assistência. No ano de 2016 a OAB/RS Subseção Canela Gramado, através da sua Comissão da Mulher Advogada, efetuou uma pesquisa ampla nas cidades de abrangência da Subseção e constatou que, em que pese os esforços da Policia Civil e do Ministério Público, a parte assistencial peca. Falta rede de apoio às mulheres e ações de reeducação aos agressores. “Recentemente a OAB/RS foi contemplada com uma cadeira no Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e esperamos poder contribuir para uma maior e melhor estrutura às mulheres vítimas de abuso e desrespeito”, finaliza Mariana.

A psicóloga Mônica Boeira, da Prefeitura de Canela, acredita que a verdadeira valorização da mulher deve começar em casa, não com um Feliz Dia da Mulher, mas com a divisão das tarefas da casa, o respeito incondicional ao direito dessa mulher de estudar e ganhar seu dinheiro, como também denunciar qualquer tipo de violência que uma mulher da família sofra.

Mônica salienta que as mulheres recebem cerca de 30% do salário de um homem fazendo a mesma função, a cada 11 minutos no Brasil uma mulher é estuprada e teme denunciar e ser humilhada; mulheres têm a responsabilidade de cuidar das crianças e idosos de cada família, abrindo mão de seus estudos ou trabalho remunerado fora de casa.

Sobre o número de casos, ela não tem dúvidas, não diminuíram, “houve o aumento de denúncias. Não acredito que os casos de abuso e desrespeito tenham aumentado, mas sim que as pessoas estão denunciando casos que já ocorriam há tempos. Isso é o correto! Agora, os serviços devem ser rearranjados para dar conta do grande número de denúncias e atendimentos necessários depois das denúncias”.

A juíza Simone Chalela traz dados do sistema Judiciário quanto à violência. Nos anos de 2015 para 2016 houve um aumento significativo de pedidos de medidas protetivas. Em 2015 foram aproximadamente 180 pedidos, enquanto 2016, 360 novos requerimentos de medidas.

“Estamos atentos e buscamos resolver, em cada caso, não apenas a ocorrência, mas sim a questão que originou o conflito. Não adianta resolver o processo apenas, porque além do problema jurídico normalmente existem graves questões sociais, psíquicas e econômicas que precisam ser resolvidas.

Disponibilizamos atendimento psicológico gratuito para as partes, não apenas para as mulheres; bem como fazemos, em parceria com a rede municipal, todos os encaminhamentos necessários para a resolução do conflito. Muitas vezes, o que se vê, é a baixa adesão das pessoas, e a acomodação com a situação existente, o que é uma pena”, finaliza Chalela.

Mudou mesmo?

Décadas de luta não foram suficientes para mudar a lista de reivindicações. Fim da violência doméstica, aborto legal, seguro e gratuito, igualdade salarial, fim da dupla jornada de trabalho, entre outras tantas bandeiras compõem o grito feminista neste dia 8 de março.

VIOLÊNCIA

Uma a cada três brasileiras com 16 anos ou mais foi espancada, xingada, ameaçada, agarrada, perseguida, esfaqueada, empurrada ou chutada nos últimos 12 meses.

É o que aponta a pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, realizada pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que entrevistou mulheres de todo o país e revelou: 29% delas afirmaram ter sofrido violência física, verbal ou psicológica no ano anterior.

De acordo com a pesquisa, financiada pelo governo do Canadá e pelo Instituto Avon, o agressor era conhecido das vítimas em 61% dos casos relatados. As agressões ocorreram principalmente em casa (43%) e na rua (39%), mas também no trabalho (5%) e na balada (5%) e foram mais frequentes entre mulheres de 16 a 24 anos (45%).

QUESTÃO RACIONAL

Discrepância maior surgiu quando as questões eram relativas a assédio: 35% das mulheres brancas reportaram terem sido alvo de comentários desrespeitosos ou contatos físicos indesejados contra 89% das negra.

A pesquisa mostrou que mais mulheres pretas (32%) e pardas (31%) relataram violência nos últimos 12 meses do que as brancas (25%).

NO TRABALHO

Apenas 50% das mulheres estão representadas na força de trabalho global, comparado com 76% dos homens. Elas também ganham menos do que os homens, mesmo quando realizam o mesmo tipo de serviço. Se as mulheres tivessem o mesmo papel dos homens no mercado de trabalho, seriam gerados, até 2025, lucros de US$ 12 trilhões na economia global.

O PRÓPRIO CORPO

O corpo, símbolo da própria existência, é também um território da luta feminina. Historicamente tratado como um objeto de controle e dominação, ele é hoje um dos exponentes de uma luta secular: o direito de ser mulher e viver a plenitude dessa condição diante de uma ambiente de igualdade de gênero. Para a psicóloga Mônica Boeira, atualmente se discute sobre o que é assédio, violência psicológica/física/sexual, para que muitas mulheres tentem romper com o ciclo de violência que são submetidas todos os dias.