Canela,

18 de abril de 2024

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Gigante por natureza?

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Foto: Mário Bertolucci/Especial - Manifestação em seu ponto final, no Km 40 da RS 235

Filas gigantes? Preços gigantes? Prejuízos gigantes? A greve dos caminhoneiros e seus reflexos na Região

Às 15h de quarta, 30, quando alguns manifestantes se reuniam na Praça João Corrêa, para caminhar até o ponto onde os caminhoneiros estavam paralisados, na RS 235, em frente ao Oásis Santa Ângela, em Canela, os rumos da manifestação já estavam definidos, não só na cidade, como no Brasil.
Um acordo havia sido fechado cerca de uma hora antes entre os representantes dos movimentos dos caminhoneiros e o Ministério Público local, para que o encerramento das manifestações acontecesse às 17h.
Ao nível de Brasil, bloqueios de rodovias e pontos de manifestação já estavam se dissipando e a greve dos caminhoneiros chegando ao fim, porém, os reflexos deste desabastecimentos serão sentidos pelos brasileiros durante todo o ano.
Com cerca de 80% de seus pedidos atendidos, os caminhoneiros aos poucos abandonavam o movimento.
João Port Silveira, um dos representantes da categoria em Canela, afirmou à nossa reportagem, ainda nas marges da RS 235, na quarta à tarde, que a referência dos manifestantes de Canela era a cidade de Três Cachoeiras, no litoral gaúcho, a qual também já estava deixando a paralisação.
Foram 10 dias de greve e paralisações, que provocaram corridas aos postos de combustíveis e mercados, além de manifestações de todos os sentidos.

Foto: Mário Bertolucci/Especial – Manifestação no Km 40 da RS 235

Caminhoneiros
Em Canela, as primeiras manifestações ocorreram na quinta, 24, com um bloqueio na RS 235, no bairro Canelinha. Já na sexta, os caminhoneiros se mudaram para o ponto em frente ao Oásis Santa Ângela, no Km 40 da mesma rodovia.
Ali permaneceram até a quarta, 30. Durante alguns dias, caminhões de carga foram barrados, em outros, o trânsito fluiu livremente.
Os piores bloqueios para a Região das Hortênsias eram os de Araricá, Vale dos Sinos, na RS 239, e na Refap – Refinaria Alberto Pasqualine, em Canoas.
Mesmo com a ideia de um movimento pacífico, alguns incidentes foram registrados no ponto de manifestação em Canela, em Gramado, na RS 235, pórtico da Várzea Grande, e até mesmo na R$ 466, estrada do Caracol, utilizada como via alternativa, aonde foram encontrados pregos e parafusos na via.
Os caminhoneiros canelenses afirmaram que manifestantes de outras cidades vieram para cá e acabaram se envolvendo em atos não pacíficos.

Foto: Francisco Rocha – Na terça, 29, a reportagem da Folha flagrou um momento de diálogo entre a Polícia Rodoviária Estadual e os manifestantes. Uma motorista que passava pelo ponto de manifestação, no Km 40 da RS 235, apoiou os caminhoneiros
Foto: Mário Bertolucci/Especial – A terça-feira, 29, foi o dia de maior movimentação de manifestantes na Estrada Canela-Gramado

Combustível
O combustível acabou na quinta, 24, tanto em Canela quanto em Gramado. O desabastecimento fez também acabar o estoque de gás de cozinha e diversas distribuidoras fecharam as portas durante a semana. Quem tinha gás para vender, não tinha gasolina para entregar e o consumidor teve que buscar o produto na revenda.
A notícia de que algum posto iria receber gasolina fez com que se formassem filas gigantescas de veículos em estabelecimentos sem combustível, as quais se desmanchavam quando a gasolina não chegava.
Muitos motoristas utilizaram álcool doméstico para abastecer os veículos.
As primeiras cargas de combustível chegaram à região na quarta, em Nova Petrópolis, Gramado e São Francisco de Paula. Canela só recebeu combustível na quinta, 31.
As filas seguem se formando pela cidade, os postos têm recebido cargas menores de combustível e a situação ainda vai levar alguns dias para normalizar.
A Brigada Militar iniciou na noite de terça, 29, a escolta dos caminhões de combustíveis e de distribuidoras de gás para a região.

Foto: Filipe Rocha – Filas para abastecimento e muita confusão no trânsito em busca do líquido dourado

Situação de emergência
Durante a semana que se passou, o Governo do Estado suspendeu as aulas nas escolas estaduais. Gramado já havia decretado situação de calamidade pública na quinta, 24, suspendendo as aulas e serviços não essenciais.
Canela demorou um pouco mais, as aulas da rede municipal foram suspensas na sexta, 25. O prefeito Constantino Orsolin, que estava em Brasília, retornando a cidade apenas no sábado, decretou situação de emergência na segunda, 28. Aproveitando o feriado de Corpus Christi, diversos setores da cidade paralisaram atividades no final da tarde de quarta, 29.

População confunde presença do Exército com intervenção
Durante todo o período da greve dos caminhoneiros, o WhatsApp, aplicativo de mensagem, e a rede social Facebook foram usados para a comunicação da população, o que proliferou diversos boatos e notícias falsas.
Uma das mais curiosas se disseminou na noite de terça, 29, quando militares foram vistos na Várzea Grande e populares acreditaram se tratar de um início de intervenção militar. Mensagens diziam que as cidades iriam ser tomadas à zero hora de quarta.
Em função disso, a Brigada Militar emitiu um texto de esclarecimento sobre a vinda do Exército Brasileiro à região devido a disseminação de mensagens com interpretações erradas.
Segundo o texto emitido, o Rio Grande do Sul firmou uma parceria para o mapeamento hídrico do Estado, em novembro de 2017. A missão do EB na região é atualizar a carta topográfica existente.

Manifestação de populares
Na quarta, 30, diversos manifestantes se reuniram por volta das 15h, na Praça João Corrêa, para uma caminhada até o Km 40 da RS 235, na altura do Oásis Santa Ângela. Organizada por um empresário, contou com a presença da comunidade, lideranças políticas e alguns empresários.
Foram cerca de 200 pessoas que empunhavam cartazes, bandeiras e balões. Entre as manifestações, apoio aos caminhoneiros, pedidos de “fora Temer”, fim da corrupção e até mesmo intervenção militar.
A intenção era se somar ao ato dos motoristas, mas, aquela altura, os caminhões já haviam deixado o local, devido ao acordo firmado com o Ministério Público.
Os manifestantes permaneceram na RS até por volta das 17h.

Foto Francisco Rocha – Caminhada da Praça até o Oásis Santa Ângela
Foto: Reprodução – Manifestantes pedem a intervenção militar em frente ao quartel da BM, na terça, 29

Apelo dos empresários
A Região das Hortênsias vai viver seu pior feriado de Corpus Christi dos últimos 40 anos.
Além das rodovias bloqueadas, muitas reservas estavam sendo canceladas e os turistas com certea não viriam para a região.
O quadro assustador moveu entidades empresariais, como a ACIC, que se reuniu com representantes dos caminhoneiros na Câmara de Vereadores.
O  SindTur (Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Similares, Parques e Museus da Região das Hortênsias) recorreu ao Ministério Público, pedido que deu origem à audiência com o MP e acordo para o fim da manifestação.
“Estamos nos sentindo abandonados”, disse Fernando Boscardin, presidente do Sindtur/Serra Gaúcha, em nota à imprensa.

Foto: Reprodução/BM