Canela,

17 de abril de 2024

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Pesquisa inédita revela que mulheres são maiores vítimas de vazamento de conteúdo íntimo

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Foto: Getty Image - O estudo indica que o meio de compartilhamento mais comum foi a plataforma Whatsapp, seguida pelo Facebook

Projeto Vazou recolheu 141 depoimentos anônimos ao longo de 2018 no RS

No dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, uma pesquisa gaúcha traz dados pouco animadores para a luta feminina: as mulheres são as maiores vítimas dos crimes virtuais. Elas correspondem a 65% dos casos de cyberbullying e ofensa (intimidação na internet) e 67% dos casos de sexting (mensagens de conteúdo íntimo e sexual) e exposição íntima. O número de casos de vingança pornô no Brasil, que atingem majoritariamente mulheres, quadruplicou nos últimos anos.

O compartilhamento de conteúdo íntimo tem se tornado bastante comum na rede, e às vezes acaba gerando exposições indesejáveis. O vazamento, que é considerado crime desde 2012, levou o Grupo de Estudos em Criminologias Contemporâneas (GECC) – coordenado pelo professor de Direito da Faculdade Estácio do Rio Grande do Sul, Leandro Ayres França, a investigar a incidência.o dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, uma pesquisa gaúcha traz  dados pouco animadores para a luta feminina: as mulheres são as maiores vítimas dos crimes virtuais. Elas correspondem a 65% dos casos de cyberbullying e ofensa (intimidação na internet) e 67% dos casos de sexting (mensagens de conteúdo íntimo e sexual) e exposição íntima. O número de casos de vingança pornô no Brasil, que atingem majoritariamente mulheres, quadruplicou nos últimos anos.

O Projeto Vazou, finalizado em dezembro de 2018, recebeu 141 depoimentos anônimos, sendo 84% mulheres. A pesquisa identificou que, em média, as mulheres tinham 24 anos ao responderem a pesquisa, mas 19 anos quando o fato ocorreu. A maioria (81%) informou conhecer quem vazou os arquivos. Estes eram majoritariamente do gênero masculino (84%), com idade mediana de 23 anos à época da gravação. O estudo também indica que o meio de compartilhamento mais comum foi a plataforma Whatsapp (70%), seguida pelo Facebook (26%).

A maior parte das vítimas (82%) relataram ter tido algum tipo de relacionamento afetivo com a pessoa responsável pelo vazamento não consentido. Mais da metade (60%) sabia da gravação e a havia autorizado ou fornecido e cerca de 44% acredita que o motivo do vazamento foi por “vingança”. Na maioria dos casos registrados na pesquisa, não houve investigação policial (82%), nem processo judicial (86%).
Os efeitos mais recorrentes sobre as vítimas foram ansiedade (presente em 63% das respostas), isolamento do contato social (58%), depressão (56%), transtorno de estresse pós-traumático (33%), automutilação e pensamentos suicidas (32%), assédios em lugares públicos (27%), abandono de escola/curso/faculdade (16%), mudança de residência (11%), agressões (7%), perda do emprego (6%) e dificuldade para conseguir novo emprego (5%).
Ao concluir o projeto, o professor Leandro Ayres França, espera que o material possa servir ao bem social, e não só ter repercussão na academia, que possa ajudar à conscientização sobre o tema. “Esperamos que os dados e as reflexões do projeto se tornem referência para outras pesquisas, contribuam para colocar em pauta esse comportamento e suas consequências, e incentivem que vítimas e perpetradores reconheçam a violência da pornografia da vingança. Esperamos também que o nosso projeto tenha cumprido seu papel de denúncia e que ele tenha acalentado as dores das vítimas dessa violência, concedendo-lhes voz”, explica.
O estudo teve início em 2017 quando os participantes do grupo perceberam a necessidade de instigar reflexões sob o tema na sociedade, mas desde abril de 2018 vem sendo divulgada para que um maior número de pessoas possa participar de forma voluntária e anônima. A importância da pesquisa se dá considerando que pouco se conhece sobre os motivos e efeitos do vazamento íntimo que se alastra facilmente com o recurso da internet, além de apresentar dados como perfil dos agressores, estimativa de denúncias e reafirmar a urgência de políticas adequadas de prevenção.