Canela,

19 de abril de 2024

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Pioneirismo na Veterinária e quebra de tabus

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Foto: Francisco Rocha

Solange Zanatta fala dos seus 45 anos de profissão e de como foi o início do ofício em ambiente exclusivamente masculino

Francisco Rocha • francico@folhadecanela.com.br

Dando continuidade à nossa série de matérias especiais, apresentamos uma entrevista com a primeira mulher veterinária da Região. E se uma simples conversa com Solange Zanatta já garante algumas risadas, devido ao seu jeito franco e despojado, uma entrevista foi ainda melhor. Confira!

Neste mês de março, Solange Zanatta, 70 anos, completou 45 anos do exercício de sua profissão, a medicina veterinária. Se você, assim como eu, tem um animalzinho de estimação, já deve ter batido em seu consultório, seja na noite ou em um final de semana.
Mas a história de nossa entrevistada vai além de cachorros e gatos. Ela relata que logo que se formou e começou a atuar, atendia clientes de Nova Petrópolis a São Francisco de Paula.
A região contava com poucos veterinários, mas ela foi a primeira mulher, o que rendia algumas dúvidas nos clientes.
Era até engraçado, eu chegava em uma fazenda ou sítio, para tratar de um animal, e os colonos da época me olhavam com desconfiança, afinal, era muito incomum uma mulher fazer um parto de animal.

Alguns colonos tratavam realmente como tabu, uma mulher manipulando a genitália do animal e em alguns casos até saiam de perto durante o atendimento, deixando a esposa me auxiliando. Com o tempo, foram vendo que não se tratava de uma mulher e sim de uma profissional realizando aquele atendimento, foi uma conquista”, relata.
Solange diz que desde que se formou, tratava de todo o tipo de animal. “É normal se pensar em veterinário que atende cachorro e gato, mas eu atendi papagaio, porquinho da índia, enfim, todo o tipo de animal, há pouco tempo, realizei uma cesariana em uma ovelha, aqui no consultório e salvamos dois filhotes do bichinho”, fala, se referindo ao trabalho realizado em parceria com seu filho, Joel, o qual ela diz orgulhosa que ‘formou veterinário’ com a força de seu trabalho.
O veterinário tem que ir a campo”, reforça, dizendo que perdeu a conta das vezes que ficou empenhada em carros de fazendeiros e colonos que vinham buscá-la para socorrer um animal, ou dos atendimentos à noite, em meio de potreiros.

Inspetoria veterinária
Solange não foi apenas a primeira mulher veterinária da região, ela foi o primeiro profissional a realizar inspetoria veterinária em Canela.
A gente nasce veterinário, doamos nossa vida para atender os animais, mas nossa profissão é ainda muito importante para a saúde humana e algumas vezes, a atividade ainda não é reconhecida como deveria. Quem controla todos os alimentos de origem animal e garante sua qualidade para consumo é um veterinário, aqui em Canela, fui a primeira”, frisa.

Trabalho dioturno
Os tempos mudaram, mas o tempo de trabalho não. Ainda hoje, recebe clientes a qualquer horário em qualquer dia da semana, que batem em sua porta a procura de ajuda para um animal.
É uma profissão maravilhosa, eu sei que estou atendendo um animal que é parte de uma família e este reconhecimento não tem dinheiro que pague. No meu aniversário é lindo, os presentes que recebo e o abraço sincero, de gratidão de uma criança, por ver que seu amiguinho ficou bem, é o melhor pagamento”.

Trabalho voluntário
A veterinária explica que sempre atendeu animais de rua ou encontrados por alguém, precisando de cuidados e que foram levados ao seu consultório. Sempre atende e quando o bicho fica bom, ele é devolvido à rua, sempre de forma voluntária, mas ela não gosta muito de falar sobre isso.
Faço porque gosto e não para me promover. Em todas as áreas de nossas vidas temos que agir com bom senso e é o que procuro fazer”, finaliza.