Canela,

21 de abril de 2024

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Inclusão foi destaque do 47º Festival Internacional de Folclore

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Grupo folclórico de Nova Petrópolis se apresentou com deficientes físicos e portadores de necessidades especiais

 O lema do Festival Internacional de Folclore de Nova Petrópolis, “A diversidade é o que nos une”, foi celebrado de forma surpreendente no Palco da Diversidade em 2019. Além das 42 manifestações folclóricas nacionais e internacionais que brilharam no Palco da Diversidade, o grupo Volkstanzgruppe Edelstein, de Nova Petrópolis, apresentou o espetáculo “A Dança do Coração” emocionando o público que lotou a Rua Coberta na penúltima noite do festival, encerrado no dia 4 de agosto. O público aplaudiu de pé, em diversas ocasiões, as coreografias do grupo, que contaram com a participação de 11 convidados, entre eles cegos, surdos, mudos, pessoas com síndrome de down e com deficiência física.

Em sua 47ª edição, o Festival Internacional de Folclore de Nova Petrópolis inovou ao implementar a Língua Brasileira de Sinais. Dessa maneira iniciou um festival que foi marcado pela inclusão. Os dois deficientes visuais que se apresentaram com o grupo A Grito Pela’o Tradiciones Ticasda Costa Rica, reforçaram ainda mais essa característica do evento, que há anos conta com a participação do Grupo de Danças Folclóricas Alemãs Sol Nascente, formado por alunos e professores da APAE de Nova Petrópolis e com as apresentações do Böhmerlandtanzgruppe, também de Nova Petrópolis, que inclui dois integrantes com síndrome de down em sua categoria infantil.

Os 30 anos da Associação dos Grupos de Danças Folclóricas Alemãs de Nova Petrópolis, entidade proponente do evento, foi o tema do festival desse ano e o Volkstangruppe Edelstein, grupo que integra a associação, promoveu a união do tema do festival com a característica inclusiva de forma sensível e emocionante.

“Posso dizer que, por alguns minutos voltei a enxergar. Foi esse o sentimento que tive ao pisar novamente no palco do Festival Internacional de Folclore com meu grupo. Me senti igual a todo mundo naquele momento e foi muito especial para mim dançar ao lado da minha filha. Sou muito grato ao Edelstein por me dar essa oportunidade de voltar a participar. Agora quero seguir dançando com eles”, revelou Adelar Marcos Arend, de 46 anos, que perdeu a visão em decorrência de um acidente de trabalho em 2007 e voltou a se apresentar com o Volkstanzgruppe Edelstein 12 anos depois.

O deficiente visual André Werkhausen Boone, de 26 anos, foi um dos protagonistas do espetáculo do Edelstein e descobriu em sua primeira apresentação no Palco da Diversidade o que o Festival Internacional de Folclore proporciona a todos que dele participam. “Posso garantir que nunca havia sentido nada parecido. Essa experiência foi muito emocionante para mim. Por muito tempo me perguntei o que havia de tão especial nesse festival, o motivo dele ser tão esperado e importante para quem faz parte dele. Hoje eu compreendo isso, dançar naquele palco foi uma experiência única, e pude sentir com a vibração do público”, disse Boone, escolhido como patrono da Feira do Livro de Nova Petrópolis deste ano.

O desafio, proposto pela 2ª Princesa do Folclore Alemão e integrante do Edelstein, Luana Heck, foi aceito e os espectadores fecharam os olhos, por alguns instantes, para acompanhar os passos dos integrantes do Edelstein, que vendaram os olhos para bailar com seus integrantes deficientes visuais. Logo depois, os olhares do público se voltaram para acompanhar os movimentos que o pintor Jeferson Hoffmann, vítima de uma meningite que comprometeu a coordenação motora de seus braços e pernas, fazia com um pincel em sua boca, acertando os últimos detalhes de uma pintura feita como forma de agradecimento ao Edelstein. O processo de criação do quadro pintado por Jeferson, bem como, depoimentos de integrantes e a rotina de ensaios do Edelstein, foram exibidos no telão montado na Rua Coberta, tornando ainda mais imersiva a apresentação.

Sentados em suas cadeiras, a plateia pode compartilhar a sensação vivida pela 2ª Princesa Luana e pela graduada em dança Roberta Spader, de 33 anos, que tem os movimentos das pernas limitados por conta de uma má formação congênita na coluna. Ambas deslizaram em suas cadeiras de rodas no Palco da Diversidade, em harmonia com os integrantes do grupo de danças folclóricas de Nova Petrópolis. Na sequência da apresentação, todos os presentes foram privados de alguns trechos da música que era dançada por folcloristas surdos, era o Edelstein criando a atmosfera de um mundo desprovido de som, mas, provando que é possível dançar seguindo o ritmo do coração.

A participação das mulheres do grupo na dança Jodel Jump, executada tradicionalmente apenas por homens, deixou bem claro que a diferença de gêneros também merece atenção quando o assunto é inclusão. O Edelstein também festejou o folclore alemão ao lado de convidados com síndrome de down, que ditavam os movimentos da dança com a desenvoltura e originalidade, criando uma coreografia na qual a técnica e o sincronismo, característicos das danças germânicas, foram praticamente deixados em segundo plano, cedendo lugar à simples felicidade de dançar.

O clima de festa e descontração marcou o final da apresentação, quando o Edelstein surgiu numeroso no palco, com todos seus integrantes e convidados especiais dançando juntos, cada um à sua maneira, a última e contagiante música da apresentação. Era o momento da despedida do grupo, que distribuiu corações ornamentais ao público, como forma de agradecimento às manifestações incondicionais e unânimes de admiração e aprovação. Nenhum integrante do Edelstein poderia imaginar, mas, o carinho e reconhecimento do público não ficariam restritos àquele momento. Imediatamente após o grupo deixar o Palco da Diversidade, inúmeras pessoas deixaram a plateia e se dirigiram aos camarins para agradecer e parabenizar o grupo.

A integrante do Edelstein e idealizadora do espetáculo “A Dança do Coração”, Bruna Fassbinder, de 24 anos, literalmente realizou um sonho ao levar a apresentação para o palco do Festival Internacional de Folclore. “Tive um sonho no qual uma pessoa cega dançava. Essa foi a real inspiração para essa apresentação. Levei essa ideia da inclusão para o grupo e ela foi crescendo até se transformar nesse espetáculo. Foram meses de ensaio e convivência com essas pessoas maravilhosas que me ensinaram muito. Estou muito feliz com o resultado final e sinceramente espero que a inclusão seja abraçada por mais grupos de danças e por manifestações culturais em geral”, destacou Bruna, que participa do grupo há 12 anos.

A declaração de Bruna, feita em meio à abraços e felicitações do público, familiares dos integrantes, participantes de outros grupos e componentes da organização do Festival, representou um pouco do sentimento de cada folclorista do Edelstein, que também recebiam o afeto e agradecimento dos presentes. Os 11 protagonistas do espetáculo da inclusão não se cansavam de relatar a extraordinária experiência que haviam acabado de viver. Por diversas vezes eles disseram que querem continuar dançando e desejam retornar ao palco do Festival Internacional de Folclore.

Fotos: Fábio Grizon e Mauro Stoffel