Canela,

19 de maio de 2024

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Além da doença, infectados pelo coronavírus precisam combater preconceito

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Paciente que testou positivo para Covid-19 relata que a pior face da doença foi o preconceito

Família com Covid-19. Foi esta a situação enfrentada por uma família canelense, T., de 32 anos; o marido, B., 34; e o filho, de 13 anos. Um tempo depois, a mãe de B., de 55 anos, também testou positivo, mesmo não morando na mesma casa.

Felizmente, nenhum deles evoluiu para um quadro mais grave, porém, tiveram que enfrentar outra faceta da doença: o preconceito.

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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a estigmatização social é a associação negativa entre uma pessoa ou um grupo de pessoas que compartilham certas características e uma doença específica. E se torna mais forte durante um surto ou uma pandemia. Isso pode significar que esses indivíduos são rotulados, estereotipados ou discriminados, recebem tratamento diferenciado ou experimentam uma perda de status devido à percepção de um vínculo entre eles e a doença. O tratamento negativo pode, ainda, afetar pessoas próximas, como cuidadores e familiares.

Nos Estados Unidos, quase um quarto das pessoas com Covid-19 se sentiram discriminadas quando outros souberam da doença. Com a família canelense, não foi diferente.

O casal sofre com a sinusite e o marido procurou o médico por isso. Acabou diagnosticado com  Covid-19, porém, já assintomático. Na sequência, sua esposa, seu filho e sua mãe testaram positivos. Eles fizeram o isolamento e estão bem.

Saiba como foi a experiência com a doença.

Quem conversou com a reportagem da Folha foi T.. Confira o relato.

Como foi sua experiência ao ser infectada e testar positivo para Covid-19?

Bem tranquila, procuramos o médico em função da sinusite e acabamos descobrindo que meu marido estava infectado. Na sequência, eu e meu filho testamos positivo. Depois de algum tempo, minha sogra também. Nenhum de nós teve qualquer sintoma da doença, meu marido, inclusive, já estava curado quando descobrimos.

Vocês chegaram a tomar medicamentos?

Para meu filho não foi necessário. Meu marido tomou azitromicina e dipirona (para sinusite). Eu fiz o tratamento com a cloroquina, azitromicina, sulfato de zinco e ivermectina. Vale lembrar que eu tive sinusite também.

Alguém sofreu alguma reação adversa aos medicamentos?

Meu marido nenhuma. Eu tive dor de estômago, apenas.

Como foi o tratamento na rede pública de saúde?

Eu só consegui os remédios após consultar no Hospital em Gramado, pois a cloroquina pois era impossível achar nas farmácias. Os outros, mandei manipular. Mesmo assim, estava com medo.

Em Canela, quando fiz o exame foi bem tranquilo, fomos superbem atendidos.

Vocês tiveram receio de evoluir para um quadro mais grave?

Não, pois a princípio, quando descobrimos, já estávamos curados. Mas, ainda tivemos que fazer isolamento de seis dias, eu e meu filho.

E como foi o período de isolamento?

Bem tranquilo, foram só sete dias e eu trabalhei em home office. Meu marido não precisou de isolamento.

Qual foi a pior parte da tua experiência com a Covid-19 até esta fase?

Tinha muito medo da doença, muito mesmo. Depois que peguei e não senti, até deu um alívio. Agora, a pior parte é a discriminação.

Você teve medo que as pessoas soubessem que foi infectada?

Não, até contei para as pessoas, mas foi aí que tudo começou. As pessoas remarcaram trabalhos, cancelaram, algumas se distanciaram e outras até falaram mal de nós.

Parece que as pessoas pensam que a doença nunca mais vai sair de você.

Só que não sei o que é pior. Se você conta, as pessoas se afastam. Se não conta e elas descobrem, falam mal.

Você acredita que isso possa afetar a sua profissão?

Já afetou, foram diversos trabalhos remarcados e eu trabalho diretamente com crianças. As mães têm muito medo. Eu cheguei a ficar noites sem dormir em razão disto.

Na tua opinião, é medo, desinformação ou as duas coisas juntas?

É desinformação mesmo. Eu cheguei a postar matérias sobre as pessoas que se curaram ou não tiveram sintomas e voltaram a ter uma vida normal. Mas acho que ninguém lê este tipo de matéria.

Hoje você já entende e enfrenta esta situação ou ainda está abalada com tudo isso?

Eu enfrento, questiono as pessoas e digo que não passo mais o vírus, mesmo assim, elas têm resistência.

E o que você pode dizer aos leitores da Folha que têm receio de pessoas que foram infectadas pelo Coronavírus?

Que ninguém pega o vírus por que quer, ninguém quer pegar, quem pega passa por muito medo, pois, ao ligar a TV, só sobre isso que é falado, sobre morte, o tanto de pessoas curadas pouca gente olha. Se o médico liberou, podemos voltar as nossas vidas, não vamos infectar ninguém.

O que dizer para quem ainda pode passar por uma situação semelhante a sua?

Tenha tranquilidade, que vai passar. Existem casos, como o nosso, que os infectados não sentiram nada, alguns nem sabem que contraíram o vírus. Nós ficamos sabendo por causa de uma sinusite.

O problema maior é o preconceito. Alguns, nem por educação pediram como estávamos. As pessoas pensam só em si.