Canela,

16 de abril de 2024

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Os Sinos da Catedral – museu conta história do Carrilhão e da paróquia de Canela

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A reportagem da Folha de Canela esteve visitando o museu Sinos da Catedral, que funciona na torre da Catedral de Pedra de Canela. A visita foi guiada por Joaquin Nieto, um argentino de 33 anos, casado com a psicóloga Flávia Bolognesi, família que doou o carrilhão que fica a 40 metros de altura na igreja que é considerada uma das sete maravilhas do Brasil.

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O casal é responsável pelo empreendimento que leva o visitante a uma viagem pela história, narrada por centenas de objetos que retratam costumes, religiosidade, cultura e vivência em sociedade de Canela, entre as décadas de 1940 e 1970.

Tudo isto está espalhado em cinco pavimentos dentro da torre da Catedral de Pedra. O ponto alto é o espaço onde está instalado o Carrilhão da Independência, que além da contemplação dos sinos, oferece uma vista panorâmica da cidade.

Como surgiu o atrativo

Joaquin relata que conheceu sua esposa, Flávia, no litoral gaúcho. Ela contou da relação de sua família com a fé Católica e com a paróquia de Canela, chegando na doação do carrilhão. O argentino quis conhecer o local e os sinos, mas, na época, não era possível. O acesso era feito por uma antiga escada de madeira, que além de dificultar subidas e descidas, não oferecia muita segurança.

Então, juntamente com a paróquia local, surgiu a ideia de revitalizar a torre e torná-la um atrativo. A estrutura foi readequada, ganhou escadaria de metal e nova estrutura para o carrilhão.

O próximo passo é a instalação de elevadores, afinal, são 154 degraus para chegar ao ponto mais alto da atração.”Queremos oportunizar que idosos e pessoas com mobilidade reduzida também tenham acesso a esta experiência”, narra, empolgado, Joaquin.

O que oferece o museu

O museu é acessado na entrada da Catedral, onde também fica o jazigo que guarda os restos mortais de Cônego João Marchesi. A construção da Igreja Nossa Senhora de Lourdes, a Catedral de Pedra, deve-se, principalmente, ao incentivo e determinação do cônego, falecido há 43 anos e que foi pároco de Canela de 1945 a 1977.

Os primeiros pavimentos trazem a exposição de objetos utilizados na liturgia da paróquia, desde da década de 1930 e um acervo pessoal do Cônego João Marchesi, que tratam não apenas o aspecto religioso, mas também hábitos da época.

Os próximos dois pavimentos, entre espaços da torre, trazem também parte do acervo da paróquia e da família Bolognesi. Em uma parede se encontra o nome de cada sino e fotos de quando o carrilhão chegou à Canela.

O acesso ao Museu tem o custo de R$ 20,00 por pessoa. Para estudantes e melhor idade o ingresso tem o custo de R$ 15,00 e crianças menores de 10 anos não pagam.

O Carrilhão da Independência – Os Sinos da Catedral

É um concerto de 12 sinos, fabricados pela Fundição de Giacomo Crespi, em São Paulo, fundada em 1500, em Cremona, na Itália, e transferida para o Brasil. Este conjunto de 12 sinos denomina-se Carrilhão da Independência, porque sua inauguração oficial se realizou no dia 7 de setembro de 1972, data do Sesquicentenário da Independência do Brasil.

O doador do Carrilhão da Independência foi João Bolognesi, filho de Pedro Bolognesi e Adelina Burati, atendendo o pedido de sua esposa, Gilda.

Durante um bom tempo, apenas três sinos eram usados, devido a um problema estrutural na torre. Hoje, após a reforma e instalação do museu “Os Sinos da Catedral”, todos funcionam e são usados.

Para se ter uma ideia da grandeza deste conjunto, basta analisar cada uma das peças:

1º SINO – Pesa 970 quilos, é de nota “MI BEMOL”. Na primeira face apresenta o Casal Bolognesi. Ao redor da sua orla podem ser lidos os dizeres “Vivo voco, mortuos plango, festa decoro, fulgura frango”. Quer dizer: “Convoco os vivos, choro os mortos, alegro as festas e afasto os raios”.

2º SINO – Nota musical “FA”, pesa 680 quilos.

3º SINO -Nota musical “SOL”, pesa 485 quilos.  Leva o nome de Pedro Bolognesi.

4º SINO – “LÁ BEMOL”, pesa 410 quilos.  Leva o nome de Lina M. Bolognesi.

5º SINO – “SI BEMOL”, pesa 295 quilos. É dedicado a Heitor Bolognesi.

6º SINO -Nota musical “DÓ”, pesa 205 quilos. Leva o nome de Higino Bolognesi.

7º SINO – Nota “RÉ”, pesa 140 quilos. Lembra o Sofrimento Humano e traz o nome de Maria Lúcia Bolognesi.

8º SINO – Nota “MI BEMOL”, pesa 120 quilos e tem o nome de Antônio L. Bolognesi.

9º SINO – Nota “FÁ”, pesa 85 quilos, é dedicado ao Rudi T. Bolognesi.

10º SINO – Nota “SOL”, pesa 60 quilos, chama-se Lourdes Bolognesi.

11º SINO – Nota “LÁ BEMOL”, pesa 50 quilos e traz o nome de Nelson A. Bolognesi.

12º SINO – Nota “SI BEMOL”, pesa 35 quilos com o nome de Remi F. Bolognesi.

Um pouco de história

A finalidade do uso dos sinos nas igrejas  cristãs é de convocar os fiéis aos ofícios divinos, “Vivos voco”, a celebrar as solenidades religiosas, “Festa decoro”; a anunciar a   morte de um cristão, “Mortuos plango”; e afastar os males demoníacos  o furor das tormentas, “fulgura frango”.

Anteriormente os fiéis eram convocados por matracas, de formas várias, até pouco, ainda em uso, na igreja católica, no tríduo da Semana Santa, quando é proibido o toque de sinos, em sinal de luto pela morte de Cristo.

João Bolognesi, filho de Pedro Bolognesi e Adelina Burati, nasceu em Morro Velho, comarca de Nova Lima, no Estado de Minas Gerais.

Em fevereiro de 1918, o jovem casal João e Gilda Bolgnesi, despediram-se de São Manoel. Em junho de 1924 o casal mudou-se para Canela, estabelecendo-se na Linha Caçador, como sócio de Patrício Zini, comprando a parte da serraria de José Fanton, pai do Deputado Lidovino.

Em 1942 entrou na Cooperativa Madeireira João Correa, como sócio-fundador.

Mais tarde esta cooperativa foi transformada na Madeireira Agrícola Ltda, na qual João sempre participou, até que no fim de 1971 esta firma foi vendida a um poderoso grupo.

Foi o produto da venda das quotas na madeireira agrícola, que resultou a importância para a compra do Carrilhão de 12 Sinos, que, conforme Joaquin Nieto, custaram a bagatela de 70 carros populares.

Foto: Acervo pessoal/Joaquin Nieto

Como surgiu a Paróquia Nossa Senhora de Lourdes

Canela, como se sabe, era distrito de Taquara e, até o ano de 1926, a igreja católica mais próxima era na localidade vizinha, Gramado, também distrito. A primeira igreja católica da cidade só foi iniciada neste ano.

Apenas em 1937, no dia 30 de dezembro, foi fundada a paróquia canelense, em decreto assinado por dom João Becker, na época, arcebispo de Porto Alegre.

Atualmente, a paróquia canelense pertence a Diocese de Novo Hamburgo, criada em 02 de fevereiro de 1980, desmembrada da capital gaúcha. Dom Zeno Hastenteufel é o bispo de Novo Hamburgo.

Quem não tem afinidade com o catolicismo, ou é de fora da cidade, pode pensar que Nossa Senhora de Caravaggio é a padroeira de Canela, mas não.

Inicialmente, a padroeira de Canela seria Luísa de Marillac (também francesa, proclamada patrona das Obras Sociais em 1960 pelo papa João XXIII), em razão de a área aonde hoje está localizada a Catedral de Pedras ter sido doada por Luíza Corrêa, mas como ela ainda não havia sido proclamada santa, a primeira igreja de nossa cidade recebeu o nome de Lourdes, no ano de 1926.

Foto: Acervo pessoal/Joaquin Nieto

A belíssima Catedral de Pedras

Ela é um dos orgulhos de Canela e não é para menos.

A construção da Igreja Matriz teve inicio em 1953, com projeto do arquiteto Bernardo Satori. Em 1954, os alicerces já estavam bem adiantados e em 1955 ficou definido que a nova igreja seria revestida de pedra basalto. Em 64 foram concluídas as paredes ao redor da antiga igreja e então se deu a demolição da mesma, sendo que 1965 foi realizada a colocação do telhado e no ano seguinte a campanha dos vitrais que foram doados por pessoas da comunidade.

O forro foi colocado em 1978 e em 82 o piso em pedra basalto. Em 1987 foi colocada a porta em madeira mogno com escultura gótica de W. Frasson.Lourdes, a padroeira de Canela.

A Igreja Matriz Nossa Senhora de Lourdes tem estilo gótico inglês. A igreja possui uma torre com 65 metros de altura e um carrilhão de 12 sinos de bronze. Em seu interior destacam-se três painéis que são telas pintadas pelo artista gaúcho Marciano Schmitz, retratando a Aparição de Nossa Senhora, a Alegoria dos Anjos e a Anunciação.

Os quadros da Via-Sacra foram feitos por Pablo Orono Herrera, uruguaio, escultor e restaurador de Arte Sacra. Utilizou madeira e argila, tendo ao fundo pintura sobreposta de imagens em argila.

Seus vitrais representam a ladainha de Nossa Senhora. O altar, cujo tema é a Santa Ceia, é uma obra de arte esculpida em madeira por Júlio Tixe, escultor uruguaio. O mesmo artista assina os brasões dos quatro evangelistas.

Foto: Acervo pessoal/Joaquin Nieto

A Catedral foi eleita uma das Sete Maravilhas do Brasil, palco dos maiores eventos de Canela, neste ano ganhou um novo sistema de iluminação externa.