Atenta leitora da Folha questionou nossa reportagem sobre o algarismo romano IIII e não IV para representar o numeral “4” nos mostradores dos relógios da Igreja Nossa Senhora de Lourdes, a Catedral de Pedra de Canela.
Nossa reportagem entrou em contato com Joaquin Nieto, proprietário e diretor do Museu Sinos da Catedral. Ele nos enviou um interessante material produzido pela Beatek, empresa que fabricou os relógios da Catedral.
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Segundo a empresa, no começo da história da escrita de algumas civilizações como a egípcia, a babilônica e outras, os primeiros nove números inteiros eram anotados pela repetição de traços verticais. Depois este método foi alterado, devido à dificuldade de se contar mais do que quatro termos e mudaram os números para a seguinte forma:
1 – I
2 – II
3 – III
4 – IIII
5 – V
6 – VI
7 – VII
8 – VIII
9 – VIIII
10 – X
A utilização dos números romanos nos primeiros marcadores do tempo existentes, que eram os relógios de sol, foram datados do 7º século antes de Cristo e a composição para os números romanos era no sistema aditivo, com o 4 representado por IIII e o 9 por VIIII. Hoje os números romanos que aprendemos é uma mistura do sistema “aditivo” e do sistema “subtrativo”, onde o quatro é representado como 5-1 (IV) ao invés de 1+1+1+1 (IIII) e de forma similar a representação do algarismo nove. O sistema “aditivo/subtrativo” para a formação dos números romanos foi raramente usado pelos romanos durante a Idade Média. Em meados do século XV, que é considerado o final da Idade Média, foram encontradas as primeiras menções do “novo” método.
Há algumas teorias para justificar a manutenção do IIII nos mostradores dos relógios, mas a fabricante dos relógios de Canela cita apenas três delas.
1ª hipótese:
A decisão pode ter sido tomada levando em consideração o equilíbrio visual dos antigos artesãos relojoeiros. Usando o IIII deixa o relógio mais equilibrado esteticamente. É só observar no mostrador que as primeiras quatro horas ficam representadas pelo numeral I (I, II, III, IIII), as quatro seguintes o V (V, VI, VII, VIII) e as restantes o X (IX, X, XI, XII), o que gera uma excelente simetria.
2ª hipótese:
Conta-se que um acidente de trem teria ocorrido na Inglaterra no final do século XIX em função de que o I do IV teria sido coberto pelo ponteiro de horas, confundindo o condutor do trem que interpretou como se fosse 5 horas. Com isso, ele iniciou sua viagem uma hora mais cedo, e acabou colidindo de frente com outro trem que vinha em sentido contrário. Por esse motivo, decidiu-se que o quatro deveria vir grafado IIII.
3ª hipótese:
O uso do IIII ter continuado pode ter origem religiosa. Os algarismos romanos são formados por letras e a combinação delas podem também significar uma abreviação. Entre os deuses romanos pagãos, o deus do dia, era grafado em latim como IVPPITER (Júpiter). Segundo teoria, para não utilizar as iniciais de um deus pagão em igrejas Cristãs, foi optado por manter a velha forma IIII.
A Beatek, Sinos e Relógios, que fabricou os relógios da Catedral, se posiciona contrária a 2ª hipótese por dois motivos: o ponteiro de horas dificilmente poderia cobrir os números, já que este é mais curto do que o de minutos;
A Beatek acredita que a 1ª hipótese é razoável, mas a 3ª é ainda mais plausível, já que o primeiro relógio construído em uma igreja foi encomendado por Pacífico, arcebispo de Verona, aproximadamente no ano 850 de nossa era. O mostrador já tinha o formato dos relógios atuais e foi concebido muito antes do sistema “aditivo/subtrativo” romano ser inventado. O relógio era puramente mecânico e consistia de um conjunto de engrenagens movido por peso, lembrando bem os relógios produzidos até meados dos anos 1950.
A empresa, em seu site, diz que as duas formas são aceitas e já produziu relógios com os dois modelos, mas acreditamos ser mais coerente o uso da versão romana IIII para templos e igrejas, mas para relógios comerciais o modelo é indiferente.
Fotos: Reprodução