Na minha infância sempre saia fazendo aventuras nas férias escolares com meu pai. Depois de tudo que vem acontecendo com a pandemia, senti que precisava reviver aqueles momentos de muita cumplicidade e diversão. Pensei no que podíamos fazer juntos e convidei ele para irmos de Canela à Timbé do Sul SC de bicicleta. Seu Joaquim com seus quase 68 anos de idade já tinha feito isso ano passado, era certo que ele ia topar fazer o caminho comigo.
Eu treino funcional todos os dias há muito tempo, mas faziam mais de 3 anos que a bicicleta estava parada na garagem de casa. Mesmo sem saber o que efetivamente eu ia encontrar pela frente nos atiramos na estrada.
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Saímos de Canela às 3h da manhã e chegamos na Picada no final da tarde do feriado do dia 03 de junho. Neste trajeto eu senti medo dos caminhões e muita dor nas mãos e pulsos. Como o caminho era longo paramos a cada três horas para descansar e fizemos 122km em um dia, ainda tinham mais 60km de estrada de chão que faríamos na manhã seguinte.
O segundo trajeto foi bem mais difícil, as mãos doíam ainda mais, cascalho solto e muita subida, uma parte do trajeto tinha mais de 5km de morro contínuo.
Chegamos em São José dos Ausentes perto do meio dia e paramos ao lado da rodovia para fazer uma sapecada de pinhão. Foi tão incrível! O caminho apesar de cansativo é lindo, a natureza é perfeita. Foram muitos quilômetros para refletir o sentido da vida.
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Pensei em alguns momentos que não ia conseguir, quando lembrava quanta estrada tinha pela frente e quanta dor eu sentia, dava vontade de chorar, mas aí eu lembrava do porque eu estava ali e passava.
O trajeto mais legal foi a Serra da Rocinha na divisa entre o RS e SC, que está quase toda asfaltada. Eu passei ali milhares de vezes, pois o Timbé, cidade onde nasci, fica bem no pé da Serra. Quando criança ficava na área de casa vendo os caminhões e ônibus descer aqueles imensos paredões e jamais pensei que um dia seria eu descendo de bicicleta.
Preciso registrar que fiquei triste com a quantidade de lixo nas beiras das estradas, as pessoas não têm consciência do mal que fazem ao meio ambiente. Por outro lado, fiquei muito feliz com o carinho das pessoas, vários carros pararam, principalmente na rota de estrada de chão, falando que adorariam ter a mesma coragem e ficavam impressionados de saber que vínhamos de tão longe.
Foi muito bom passar por caminhos que já conhecia, mas com um olhar diferente e depois de 20 horas pedalando, fiquei orgulhosa por ter conseguido concluir o trajeto de mais de 180km, mas ver o meu pai feliz por termos feito isso juntos foi ainda melhor. Foram momentos incríveis e de muita superação que recordarei certamente com muito amor.
Juliana Alano • Instagram: @juli.alano
