Canela,

27 de abril de 2024

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Orçamentos falsos, favorecimentos e lavagem de dinheiro

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Transcrição de diálogo entre Junta e Alberi Dias, via WhatsApp

Última reportagem da série sobre a Operação Cáritas mostra como funcionava suposto esquema envolvendo Obras, Hospital e Alberi Dias

Material do HCC encontrado em sítio de propriedade de Junta, um dos investigados
Fotos: Reprodução

A grande operação policial da última segunda (8), inicia em 9 de abril, quando a Polícia Civil prende em flagrante duas pessoas, acusadas de desviar material de construção do Hospital de Canela.

Em um sítio de propriedade de Ademir Claudiomiro Colombo da Silva, o Junta, foram encontrados porcelanatos, sacos de cimento e monte de britas. A PC conseguiu identificar que o material era de fato oriundo de uma obra do HCC.

Em seguida, a investigação revelou que o local seria utilizado por Denis Roberto de Oliveira de Souza, diretor da Secretaria de Obras.

Não foi preciso muito tempo para o esquema das obras no Hospital de Canela vir a tona. A Polícia Civil conseguiu identificar orçamentos para o HCC e grandes quantias em dinheiro no aparelho celular de um dos investigados. O mesmo aparelho revelou diversas fotografias relacionadas às obras de infraestrutura que foram executadas em seu sítio com uso de maquinário da Prefeitura Municipal.

Em outra mensagem, Junta pede para Ratinho a colocação de bueiros na porteira de seu sítio, serviço que foi realizado e indica que de fato havia conhecimento por parte do secretário de Obras com uso do maquinário da prefeitura no local.

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Parte do organograma estudado dentro da ação policial

Fraudes nas licitações

O inquérito revelou ainda que o atual governo municipal, por meio do partido politico MDB, dividiu-se em quatro núcleos políticos, sendo cada um com seus “caciques” que dividem nomeações de cargos em comissão, espalhados em secretarias estratégicas, gerência de obras e licitações, projetos e execuções de políticas públicas.

O núcleo político responsável pela Secretaria de Obras é composto pelo secretário afastado, Luiz Cláudio da Silva, o Ratinho. Junta e Denis são apontados como operadores de diversas irregularidades junto à secretaria, além de serem cabos eleitorais de Alberi Dias, vereador e presidente da Câmara, afastado por ordem judicial. A relação com o vereador é para que o mesmo possa se perpetuar no cargo e no poder.

A Operação Cáritas revelou que Junta havia pedido a Alberi Dias para que este confeccionasse orçamentos, dando detalhes de valores para fechamento de uma sala em obra no Hospital de Canela, já com os valores que os “concorrentes” deviam apresentar.

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Maquinário da Prefeitura executando benfeitorias em propriedade particular,
com conhecimento da Secretaria de Obras

Em outras conversas, Junta chega a mencionar por duas oportunidades “o nosso” se referindo ao orçamento como deles. Um segundo orçamento é da empresa de um sobrinho de Alberi Dias, configurando assim parte do esquema arquitetado pelo grupo.

Os orçamentos falsos confeccionados por Alberi, segundo o inquérito policial, são sempre das mesmas empresas, inclusive do sobrinho de Alberi, Carlos Eduardo, que, junto com o pai Wanderlei Dias, o Farol, são investigados pela comercialização de terrenos irregulares, cobranças com uso de ameaça e crimes ambientais, e podem ser laranjas deste esquema.

Além da fraude em licitações, Alberi, Carlos Eduardo e Farol são investigados por lavagem de dinheiro.

Orçamentos confeccionados por Alberi Dias e entregues para Junta participar de licitação do HCC

Obras com empresas laranjas

Além das fraudes nos orçamentos do HCC, Junta era contratado através de outros CNPJ para realizar serviços para a Secretaria de Obras. Os fiscalizadores dos contratos, em alguns casos, eram Ratinho e Denis.

As mensagens trocadas pelo WhatsApp entre Ademir Colombo, o junta, e o diretor do departamento administrativo da Secretaria de Obras mostram que era de lá que partiam os pedidos de orçamento, conforme transcrito abaixo:

13/01/2021: Diretor administrativo para Junta: “consegue orçamentos pra gente da limpeza do lago, da reforma do telhado e o valor do metro para fazer calçada no entorno da igreja”.

23/02/2021: “Bom dia Junta. Precisamos ver um orçamento para o hospital”.

Favores eleitoreiros

A investigação revelou ainda diversas mensagens trocadas entre Alberi Dias, Denis Roberto e Ratinho, aonde eram solicitadas e realizadas obras de cascalhamento e diversas melhorias públicas sem as requisições formais.

A denúncia relata retirada de material do britador para obras particulares, forte interferência no âmbito interno para que as empresas sigam sendo contratadas como prestadoras de serviços, além de informação dos valores a serem mencionados e detalhes da licitação aos empresários, tornando assim o processo licitatório suspeito, entre outras irregularidades.

Transcrição de diálogo entre Junta e Denis

Medidas judicias:

Luiz Cládio da Silva, o Ratinho, Alberi Dias e Denis Roberto de Oliveira Souza seguem afastados das funções públicas, conforme determinação judicial.

Contraponto:

A Defesa Técnica de Luiz Cláudio da Silva esclarece que ainda não teve acesso aos autos. Sem embargo, pontua que em conversa pessoal com Luiz, este afirmou sua inocência quanto a todas as suspeitas até então levantadas, e se colocou à disposição da Justiça para os esclarecimentos que as autoridades entenderem pertinentes, bem como afirmou que haverá de colaborar, naquilo que estiver ao seu alcance, para o melhor desfecho das investigações. O esclarecimento de todos os fatos e a eliminação de todas especulações sobre sua conduta é de seu interesse particular.

Reportagem preservou alguns nomes e imagens

Apesar da abundância de imagens e conversas entre aplicativo de mensagens às quais a reportagem da Folha teve acesso, alguns temas, nomes e imagens foram preservados, por ser impossível retirar do material os nomes ou fotografias em que apareciam pessoas e nomes que não figuram como investigados.

A editoria da Folha entendeu ser uma exposição desnecessária destas pessoas e que os fatos narrados pelo inquérito policial nas matérias jornalísticas são suficientes para mostrar a intenção da Polícia Civil ao deflagar a Operação Cáritas.

Vale destacar que nenhum funcionário concursado da Prefeitura de Canela figurou com suspeitas na investigação.

Todo o material exposto nas matérias jornalísticas foram fruto de trabalho de reportagem, com base em documentos públicos e publicados com profunda obediência a legislação.

Todos os contrapontos recebidos foram publicados e a Folha Multimídia segue a disposição para atendimento de manifestações dos investigados, caso seja provocada, dentro dos trâmites legais.