HCC não conta mais com a unidade intensiva desde o último dia 28 de fevereiro. Prefeitura diz que busca manutenção na Justiça
O Hospital de Caridade de Canela não conta mais com a UTI Covid. Os leitos de tratamento intensivo para Covid-19 foram desativados no último dia 28 de fevereiro e as equipes que trabalhavam na unidade estão sendo desligadas do HCC.
A intervenção do hospital e a Secretaria Municipal de Saúde comunicaram, internamente, o encerramento da UTI Covid com base na decisão do Governo do Estado, que desativou os leitos em 28/02, em razão da redução dos casos graves de internação e do avanço e eficácia da vacinação.
A reportagem da Folha procurou a secretária de Saúde Patrícia Valle, ainda no final da tarde da terça (8). Ela justificou que era seu último dia na pasta e não poderia dar maiores detalhes sobre a UTI Covid, mas salientou que, com a baixa ocupação, os leitos não eram mais financiados pelo Governo Federal, o que inviabiliza a manutenção.
Já Leandro Gralha assume a Secretaria de Saúde nesta quinta (10). Ele falou com a reportagem e disse que a determinação inicial era de que os leitos fossem desabilitados em 31 de janeiro, mas a Prefeitura entrou com pedido para manutenção da UTI, inclusive transformando em UTI normal para atendimento de todos os casos. Com a negativa do Governo Federal, o qual enviava recursos para manutenção da unidade, os leitos foram desabilitados pelo Estado.
“Aconteceu em diversas cidades, era uma UTI para tratamento de Covid e com a baixa dos casos, o Governo Federal entendeu que os leitos não são mais necessários”, disse Gralha.
Com isso, os casos graves que necessitem de UTI em Canela serão enviados para outros municípios através da central de regulação de leitos as Secretaria de Saúde do Estado.
Equipamentos doados pela comunidade
A reportagem da Folha questionou o novo secretário quanto aos equipamentos da UTI, principalmente os adquiridos e doados pela comunidade. Gralha informou que eles serão guardados e posteriormente usados para equipar a nova ala do HCC, que deve ser finalizada em algumas semanas.
Site do Estado ainda mostra os leitos de Canela
A técnica em enfermagem, Iracema Montiel de Oliveira, atual interventora do HCC, disse que outras cidades do Estado também tiveram suas UTIs Covid desabilitadas, como o caso de Gramado, que permaneceria apenas com a UTI normal do Hospital Arcanjo São Miguel.
Por outro lado, o site do Governo do Estado RS, até a manhã desta quarta (9), ainda mostrava os 15 leitos de UTI Covid de Canela, com uma ocupação, e os 18 leitos de Gramado, com seis ocupações.
UTI iniciou atividades em 2020
A UTI Covid do HCC teve seu início de atividades em 13 de agosto de 2020, com cinco leitos e grande comemoração da comunidade. No início de abril de 2021 já eram 15 leitos.
Durante toda a pandemia, empresários individuais e a Associação Comercial e Industrial de Canela se mobilizaram para a aquisição de camas hospitalares, respiradores e equipamentos para a UTI, ajudando o poder público a equipar o Hospital.
A intervenção do HCC, durante algum tempo, prestava contas dos números da UTI Covid, sendo a última registrada pela Folha em dezembro de 2020. À época, o custo de manutenção dos leitos de tratamento intensivo ultrapassavam a casa dos R$ 500 mil.
A equipe era formada por oito médicos, seis enfermeiros, 20 técnicos de enfermagem, quatro fisioterapeutas, uma assistente social, uma nutricionista e cinco pessoas na equipe de higienização. A reportagem não conseguiu apurar qual era o tamanho atual da equipe de UTI, mas soube que alguns profissionais já foram desligados.
A UTI Covid, instalada em dois meses, com ampla divulgação e exaltação do poder público, sai de cena, por um lado, com a notícia positiva de baixa ocupação e indicação de um caminho para o fim da pandemia.
Por outro lado, fica o desapontamento de não ser mantida a estrutura como UTI normal e o desafio da intervenção municipal em bem utilizar o legado da pandemia, como os equipamentos adquiridos com os impostos municipais e outros doados pela comunidade canelense.
Manifestação da Prefeitura
Após a divulgação da notícia acima, a Prefeitura de Canela emitiu nota à imprensa, através de seu departamento de comunicação, a qual transcrevemos abaixo na íntegra:
No último dia 28 de fevereiro o Governo Federal interrompeu os repasses financeiros aos municípios destinados para manutenção dos leitos hospitalares de UTI Covid. Como consequência o Governo Estadual desabilitou os leitos de UTI Covid do Hospital de Caridade de Canela (HCC) e a estrutura teve que ser desativada nesta quarta-feira, 9 de março.
No entanto, a direção da casa de saúde realocou equipamentos como respiradores, monitores, bombas de infusão e desfibrilador para leitos clínicos de média complexidade, com o objetivo de manter os atendimentos médicos a pacientes com coronavírus. A interventora do HCC, Iracema Montiel de Oliveira, explica que os pacientes que estiverem em situação grave serão transferidos para hospitais da região, conforme disponibilidade da Central de Leitos do Estado. “Seguimos com uma estrutura adequada para estabilizar e entubar aqueles pacientes em casos mais críticos, até que ocorra a transferência”, destaca a interventora.
BAIXA OCUPAÇÃO
No Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde de Canela Nº 420, divulgado ontem (8), apenas um paciente estava internado na UTI Covid do HCC. O paciente registrou melhora nas últimas 24 horas, necessita apenas de suporte ventilatório mecânico e foi transferido para um leito clínico nesta quarta-feira (9).
O secretário de Saúde de Canela, Leandro Gralha, ressalta que o município vem registrando uma queda significativa de casos graves e internações graças a eficácia da vacinação, o que acaba gerando baixa ocupação dos leitos de UTI Covid. “Tentamos reverter esta decisão judicialmente, mas a União entende que os leitos não são mais necessários”, lamenta o secretário.
MEDIDA DE URGÊNCIA
Como medida de urgência o município ingressou com ação judicial na esfera federal, contra a União, postulando liminarmente a manutenção da habilitação dos leitos até o fim da pandemia ou até o encerramento do estado de emergência e calamidade da saúde pública nacional. Mas o juiz competente ainda não realizou a apreciação da liminar.
Foto: Arquivo Folha/Halder Ramos – Divulgação
