Canela,

17 de maio de 2024

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Chapeleiro carioca, Fernando Scarpa ganha retrospectiva no Museu da Moda de Canela, no Rio Grande do Sul

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“Da Fundição à Forração” exibe chapéus de várias épocas do artista que já produziu acessórios para grandes marcas e novelas da TV Globo

A exposição retrospectiva Da Fundição à Forração, que se inicia dia 14 de abril no Museu da Moda de Canela, apresenta peças que narram a experiência empírica do artista Fernando Scarpa no ofício da chapelaria e sua evolução através de diversas técnicas. O artista supera a falta no Brasil de uma indústria de aviamentos direcionada à confecção de chapéus, como havia no passado recente, até 1960, quando o chapéu deixou de ser uma peça indispensável no vestuário.

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A mostra exibe modelos influenciados por diversas décadas. No processo de criação, Scarpa se apropriou de materiais destinados a outras finalidades, que foram criativamente se adequando e viabilizando a construção de outras peças, conceituadas por ele como “Fundição e Forração”.

Na técnica da fundição, a base da construção do chapéu é a entretela Escócia. A técnica produz uma textura rígida e, ao mesmo tempo, leve para o uso. Molhada, ensaboada e acrescida de papel de seda, a entretela é aplicada em fôrmas de madeira. Materiais inusitados são incorporados à técnica, inclusive produtos usados na construção civil. O resultado desse processo é a fundição de peças denominadas abas e copas que, unidas ou separadas, ornamentadas com laços, véus, flores e penas constroem a arquitetura do chapéu.

Inicialmente, a palha de buriti era fundida em fôrmas de madeira. Posteriormente, a técnica foi adaptada para a confecção de chapéus sociais com tecidos de algodão e seda estruturados com armação de entretela Escócia e papel de seda, que produzem textura rígida e leve para o uso.

Atualmente, Scarpa desenvolve a técnica de modelagem de cones de palha de carnaúba que, revestidos com tecido, fazem parte do processo denominado por ele de “forração”, uma vez que se utiliza de uma base pré-existente. A diferença entre as duas técnicas – fundição e forração – se dá na matéria-prima de estruturação do chapéu e ambas fazem parte da exposição a ser apresentada ao público aqui.

O projeto Da Fundição à Forração conta a trajetória experimental de um profissional da chapelaria através de quatro décadas – entre idas e vindas no ofício. A exposição apresenta peças confeccionadas em tempos diversos e no atual momento, quando o chapeleiro encontrou na palha de carnaúba viabilidade para construir peças delicadas sobre base de palha grossa, em contraste com a aparência leve do chapéu já pronto.

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Reunidos, esses trabalhos formam um todo impactante, romântico e delicado para o observador e, ao mesmo tempo, trazem, para o artista e público, a dimensão da evolução e a diversidade criativa. A retrospectiva busca também satisfazer a curiosidade do observador sobre como se pode criar ou inventar um chapéu.

Talento ímpar e autodidata, Fernando Scarpa, ao longo dos seus 40 anos como chapeleiro, já teve peças imortalizadas em ensaios de moda e produções televisivas. Foi dono inclusive de uma oficina de confecção de chapéus. Fazer uma retrospectiva com seus trabalhos se mostra necessária e até tardia, tendo em vista a genialidade com que se debruça sobre os materiais em sua trajetória experimental.

Na exposição serão mostradas peças prontas e em construção. Fascina na seleção tanto a estrutura como o design do chapéu, o que vemos pronto e como se dá a sua construção. O espectador poderá se surpreender durante a visita, uma vez que determinados chapéus são quase cópias que nos remetem a outros já vistos em cabeças icônicas.