Canela,

27 de abril de 2024

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Além da farda: policiais militares
salvam recém-nascido em Canela

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Bebê de três dias de vida sobreviveu graças a agilidade no atendimento prestado pelos soldados Leandro e Souza

Um bebê, com três dias de vida, engasgado com leite, com as vias respiratórias completamente obstruídas e sem sinais de que conseguia respirar já há alguns minutos, nas mão de uma família desesperada, pedindo ajuda junto ao passeio público de uma rua no bairro São Luiz.

Esta foi a situação que os soldados da Brigada Militar de Canela, Leandro e Souza, encontraram ao estarem de passagem pela localidade.
Hoje, Heitor está com três meses de vida, graças a ação corajosa da dupla de soldados militares. O pai, Diego de Vargas Garcia, 33 anos, relata que haviam trocado o bebê quando notaram que ele não respirava, tentaram desengasgar e reanimar, mas não tiveram sucesso. O fato aconteceu em 27 de setembro de 2022, uma noite muito fria.

“Eu peguei ele e saí porta a fora, para a rua, para ver se encontrava ajuda, e ela (a mãe) começou a gritar. Era aquele silêncio, 2h30min, quase 3h da manhã de segunda e, devido ao frio, não tinha ninguém na rua. Saí com ele até o portão e pensei em ir até a casa do meu pai, que mora ali perto, mas ao mesmo tempo pensei que ia demorar demais e eu olhava para meu filho”, relatou.
“Quando eu saí do portão, escutava minha esposa gritando ‘socorro, socorro’, gritava, gritava e gritava, e eu olhava para ele, não se mexia mais, desceu os bracinhos e arroxou, não tinha sinal nenhum e eu com ele na minha mão, pensando que cada minuto que passava ele estava morrendo”.

A mãe de Heitor, Nathalia Bianca Wollenhaupt, 29 anos, ainda estava se recuperando da cirurgia Cesariana e não tinha condições de se movimentar. Havia um carro trancando a saída do automóvel de Diego e alguns vizinhos tentavam ajudar.

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O pequeno Heitor recebeu presentes personalizados da Brigada Militar

“Olhei e vinha vindo, na rua de baixo, uma viatura, bem devagarinho com as luzes apagadas, não tinha giroflex aceso, eles estavam fazendo uma ronda, eu acho. Levantei os braços e comecei a gritar, eles viram de longe. No primeiro momento, eles acharam que era uma briga, mas daí eu comecei a gritar ‘meu nenê tá se afogando’, quando eles escutaram, o Leandro e o Souza escutaram, eles vieram correndo com a viatura, desembarcaram, pegaram o nenê e começaram a fazer o procedimento de desobstrução”, relembra o pai do menino.
Ao realizarem o procedimento e perceberam que o menino não respondia, os policiais decidiram levá-lo ao Hospital de Canela. Na viatura, a caminho do HCC, Leandro tentava reanimar Heitor, enquanto Souza dirigia e acionava o hospital, pedindo para que estivessem prontos quando chegassem.
No HCC, a equipe rapidamente atendeu Heitor.
“A gente entregou ele ali e eu fiquei do lado de fora e comecei a orar e falar com Deus, pedi pra Ele me devolver o Heitor, sabe? E chorava, pedia pra Deus me devolver ele”, desabafou o pai. “O atendimento foi muito rápido, de casa até o hospital, durou uns dez minutos. Desde o nenê se engasgar, eu sair correndo com ele e chegar a viatura”.

Heitor, hoje com três meses. A família comemora o fato de ter passado seu primeiro Natal com o primogênito


Os policiais, após se certificarem que o recém-nascido estava bem, passaram a se preocupar com a família. Natália estava em casa, sozinha, sem notícias do filho e Diego não tinha como voltar para casa rapidamente, nem falar com ela por telefone. Eles levaram o pai até sua residência e terminaram de prestar atendimento à família.
“Foi por Deus que eu encontrei eles ali, porque se eu fosse com a Variant TL, dirigindo nervoso, daqui a pouco poderia ter acontecido alguma coisa até chegar no hospital. Deus mandou eles no momento certo”, finalizou Diego.

“Em nenhuma ocorrência passamos por uma situação tão desesperadora”

Foto: Francisco Rocha

Eu e o Souza estávamos patrulhando durante a madrugada para coibir furtos, seria em outro bairro que nós iríamos patrulhar. Eu era o motorista e, quando chegamos no bairro São Luiz, ouvimos gritos de pessoas pedindo socorro”, relata o soldado Leandro, 43 anos de idade, sendo 17 dedicados à BM em Canela.
“Percebemos que o bebê tinha apenas alguns dias de vida, pelo peso e pelo tamanho. Até o deslocamento na viatura era uma coisa bem arriscada, né? Eu fui dirigindo e a única coisa que falava para o pai era que ficasse tranquilo. Nós vamos rápido, mas eu não vou me passar, dizia, porque se passasse um quebra-molas ali com a criança no colo recebendo o procedimento de desobstrução da via, poderíamos machuca-la”, explicou o soldado Souza, de 33 anos de idade e 10 de BM.
“Foi de fato arriscado, leva-lo na viatura, mas era necessário, não havia tempo. Esse procedimento no trecho, da casa até ali, deu alguma condição para a equipe médica conseguir salvá-lo, eles nos relataram isso depois”, complementou Leandro.

A dupla de soldados trabalha há muito tempo em Canela e é muito comum serem parceiros nas guarnições. Souza explica que cada um reage de uma maneira nas ocorrências, por mais distintas ou perigosas que sejam, mas, na situação com o pequeno Heitor, os dois concordam que “em nenhuma ocorrência passaram por uma situação tão desesperadora”.
“A gente sabe o que esperar de nosso trabalho, mas essa nos pegou de surpresa e a situação estava na nossa frente, tínhamos que fazer algo. Imagine a responsabilidade, com um recém-nascido nas mãos e a esperança da família depositada em você”, disse Leandro.
“Se por um lado víamos desespero, por outro tu via que a família enxergou em nós uma oportunidade, uma luz no fim do túnel. Era aquilo ali, a única chance, quando viram a viatura né. Nós tínhamos que resolver”, relatou Souza.

Por volta das 5h, Leandro não conseguia fechar a ocorrência, a mão tremia e ele começou a pensar em tudo que poderia ter acontecido com o menino Heitor. Pela primeira vez ele chegou em casa depois do trabalho me começou a chorar.
“Nós estávamos fazendo tudo que era do nosso conhecimento, ele não regia. Foi Deus, não estava mais em nossas mãos, então, gratidão à Deus por ter nos usado”, disse Leandro, emocionado.
“O que fica deste fato é que o mundo é bem maior do que a gente enxerga. A gente sabe todas as circunstâncias que nos levaram naquele lugar aquele dia. E o Leandro, em anos, em enfrentamento a um criminoso, a qualquer outro tipo de ocorrência, ele nervoso como ele estava, mas porquê?! Porque tem valores e aquela criança, aquele inocente, o valor era muito grande. Então, o que ficou foi o valor humano, que é uma coisa que a gente tem que resgatar. Ali foi mostrado o que realmente importa na vida de uma pessoa, tanto é que aquela família, se perdesse o filho, não ia ter mais nada. Nós só estávamos naquele local, naquele dia, por boa vontade, mesmo de madrugada, cansados, tentar fazer o que a gente se propôs a fazer, que é trabalhar pela comunidade”, finalizou Souza.

Leandro, que foi convidado a batizar Heitor, hoje é
padrinho do menino que ajudou a salvar e as famílias
mantém uma relação próxima


“Contei para minha esposa, e acho que foi uma das primeiras vezes que em razão do meu trabalho eu cheguei em casa e fui chorar, dobrar meu joelho e agradecer a Deus. Heitor, mesmo nome do filho do Souza que também é meu afilhado”, finalizou Leandro.
Tempos depois, a guarnição voltou a visitar a família de Heitor, levaram presentes e Leandro, que tem a mesma religião da família, acabou batizando o pequeno Heitor.
A família de Heitor, que passa férias em Santa Maria/RS, conversou com nossa reportagem pelo WhatsApp e relatou ser uma benção a presença de Souza e Leandro na noite de 27 de setembro, além de terem a oportunidade de passar a conviver com Leandro, como padrinho do menino.