Canela,

11 de outubro de 2024

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Educação para a Cidadania Global e Justiça Socioambiental: inaugurada Cátedra UNESCO na UCS, primeira sediada na Universidade

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Foto: Bruno Zulian.

Iniciativa que ancora novas e inúmeras possibilidades na produção e difusão do conhecimento foi apresentada em conferência com Moacir Gadotti, diretor fundador do Instituto Paulo Freire

Novas e inúmeras possibilidades na produção e difusão do conhecimento se apresentam a partir da instituição da Cátedra UNESCO na Universidade de Caxias do Sul, a primeira sediada na UCS, com o tema Educação para a Cidadania Global e Justiça Socioambiental. O evento de apresentação, na quarta-feira, 22 de fevereiro, teve conferência sobre o tema com o diretor fundador do Instituto Paulo Freire, doutor em Ciências da Educação Moacir Gadotti, hoje presidente de honra da rede internacional que leva adiante o legado do patrono da educação brasileira – confira a seguir.

O momento foi marco para um trabalho já em andamento, que busca contribuir de forma significativa para ampliar a relevância das prioridades estabelecidas pela UNESCO ao Brasil, em diálogo e cooperação regional, nacional e internacional. Ancora ações de desenvolvimento de cooperação técnica, pesquisa científica, sustentabilidade e difusão do conhecimento. Portanto, relação intrínseca com os fins da Instituição, sua história e fazeres cotidianos.

O evento, no UCS Teatro, com transmissão on-line, teve a presença da gestão acadêmica e docentes. A programação teve espaço após o tradicional Encontro dos Professores com a Reitoria, que abre as atividades de cada semestre letivo na UCS.

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Cátedras UNITWIN/UNESCO

As cátedras da UNESCO – agência da Organização das Nações Unidas – têm a função de construir pontes entre a academia, a sociedade civil, as comunidades locais e informar decisões em políticas sobre o tema a que se destinam, no caso da UCS, a educação para a cidadania e para a sustentabilidade.

Ao integrar o Programa Cátedras UNITWIN/UNESCO, a Universidade de Caxias do Sul se conecta a uma rede que envolve mais de 850 instituições em 117 países. Com ampla movimentação de conhecimentos e de ações, essa rede aberta contempla atividades como intercâmbios de docentes e discentes, reuniões conjuntas de trabalho, conferências, publicações, entre outras iniciativas.

O projeto foi aprovado no final de setembro de 2022 pela sede da UNESCO em Paris, com parecer favorável do escritório nacional da entidade, em Brasília, chancela do Itamarati, e recebeu o apoio de mais de duas dezenas de instituições nacionais e internacionais.

Na UCS, a Cátedra estará vinculada diretamente à Área do Conhecimento de Humanidades e também ao Programa de Pós-Graduação em Educação, mas vai possibilitar uma interlocução permanente com diversos cursos de graduação e de pós-graduação. Saiba mais.

Novas e Inúmeras Possibilidades

O reitor da UCS, professor Gelson Leonardo Rech, agradeceu a todos os que contribuíram para a efetivação da primeira cátedra da Universidade. “Com ela, entramos em um nível de discussão global sobre o tema Educação para a Cidadania e Justiça Socioambiental. Precisamos criar uma forte cultura intelectual e prática que discuta, vivencie e promova a cidadania, a justiça e o cuidado com a sociedade e com o meio ambiente”, observou. A Instituição entra no seleto grupo de mais de 850 instituições do mundo conectadas e preocupadas com a temática, “que é a temática da sobrevivência e da dignidade”, constatou.

A diretora da Área do Conhecimento de Humanidades da UCS, professora Terciane Ângela Luchese, exaltou o momento emblemático à Instituição. “Celebramos a cátedra que passa, a partir de agora, a ter uma série de responsabilidades e a buscar agregar projetos. Educação para a cidadania global e justiça socioambiental são focos que nos unem de forma transdisciplinar e espero que seja o momento para incentivar ainda mais atividades de ensino, pesquisa e extensão, para além, mas também, em especial, na nossa Universidade”, refletindo em resultados para a comunidade. Diante de um trabalho desenvolvido em grupo, agradeceu os participantes e convidou ao engajamento dos demais professores. “Que a cátedra seja mote para novas e inúmeras possibilidades para um educar que construa um mundo melhor para todos e todas”.

Reforçando o convite aos que desejarem agregar às ações, o professor Danilo Romeu Streck, coordenador da Cátedra na UCS e referência em sua temática, afirmou o objetivo de torná-la instrumento de interlocução com as comunidades, escolas da região e com parceiros nacionais e internacionais. “Pretende ser espaço inter ou transdisciplinar que trabalha na convergência de dois grandes desafios da atualidade: o de reconfigurar a compreensão, a prática e os espaços de exercício da cidadania em um mundo interconectado em todas as áreas de nossas vidas; e o desafio da luta pela sustentabilidade ambiental, irmanada com a justiça social. Se propõe a ser um lugar para produzir conhecimento através da pesquisa, promover e subsidiar atividades de ensino e extensão, para contribuir para a consecução dos objetivos do desenvolvimento sustentável da UNESCO em nível regional, nacional e internacional e com isso ser referência sobre o tema”.

Em participação remota, a coordenadora do Setor de Educação da UNESCO no Brasil, Maria Rebeca Otero Gomes, apresentou o programa de Cátedras UNITWIN/UNESCO, por meio do qual instituições de Ensino Superior e institutos de pesquisa de todo o mundo reúnem recursos para enfrentar desafios existentes e contribuir para o desenvolvimento da sociedade. “A educação sempre desempenhou um papel fundamental na transformação das sociedades humanas, ela nos conecta com o mundo e uns com os outros, nos expõe a novas possibilidades e fortalece as capacidades de diálogo e ação. No entanto, para transformar novos pacíficos justos e sustentáveis, a própria educação deve ser transformada”, no que a Educação para a Cidadania Global faz parte desta transformação. “Portanto, para o escritório da UNESCO, não é somente um prazer, como é extremamente relevante, estabelecer uma cátedra com a Universidade de Caxias do Sul”, oportunidade de contribuir para o desenvolvimento social, econômico e cultural na perspectiva da sustentabilidade e da justiça social local, nacional e internacional.

A vice-coordenadora da Cátedra UNESCO, professora da Unisinos Maria Julieta Abba, integrou os trabalhos e apresentou o professor Moacir Gadotti, diretor fundador do Instituto Paulo Freire de São Paulo (1991). Livre docente pela Universidade Estadual de Campinas (1986) e doutor em Ciências da Educação na Universidade de Genebra (Suíça, 1977). Atuou como professor de História e Filosofia da Educação em diversas instituições (PUC-SP, USP, Unicamp). Atualmente é presidente de honra do Instituto Paulo Freire. Dentre o grande número de publicações, destacam-se Educar para a sustentabilidade (2012), Os mestres de Rousseau (2004), Pedagogia da Terra (2001), Pedagogia da Práxis (1995) e História das Ideias Pedagógicas (1993).

Referências para compreender o cenário

Rodeado de colegas de profissão, Moacir Gadotti aproveitou para celebrar os 62 anos de docência compartilhando um sonho em curso, que deseja como propósito para todos os professores: ser feliz e continuar aprendendo. “Estou aprendendo desde que cheguei”, declarou, exaltando o generoso legado da natureza ao município caxiense, que lhe encantou. “Desfrutem e cuidem”, recomendou. Esse olhar abriu a fala do estudioso que lembrou que “somos terra, e vamos voltar a ser terra”. Daí, o amor humano à terra que transcende, conexão espiritual que é revelada ainda nas atitudes das crianças, desejosas pelo contato com o que é natural.

Em um período que identificou como da pós-verdade, preocupante no contexto do ódio, das fake news e do ressurgimento do fascismo, frisou o compromisso de se colocar à disposição em defesa da verdade e a importância do estudo e das referências. Professor de História da Educação, Gadotti elencou estudiosos e referenciais-chave para a agenda da cátedra – que orientou para os estudos intertransdisciplinares – incluindo um histórico de iniciativas sociais e políticas que alertaram sobre os modos de produção e destruição, que levam ao esgotamento do planeta.

Do contexto mais recente, elencou movimentos como do papa Francisco, por um novo pacto educativo global – centrado nas pessoas e na cidadania, pela sustentabilidade e pela nova economia – e da UNESCO, que aponta para o desafio de um novo contrato social para a educação, de reimaginar o futuro partindo de um cenário no qual a educação de qualidade tem sido privilégio das elites, o que reflete em retrocesso democrático. Diante desse desafio, chamou por uma educação estritamente humana, conceito freireano.

Demonstrando preocupação pelo esquecimento dos fundamentos antropológicos da educação, propôs uma reflexão. “Se há ascensão do fascismo hoje, a educação é culpada? Não. Mas eu diria que se a educação não é responsável pelo ressurgimento do fascismo no mundo, também não podemos ignorar que o pacto educativo global dominante centrado na lógica do mercado, em detrimento à formação crítica das pessoas, vem contribuindo para isso”, analisou.

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Sustentabilidade como dimensão essencial da cidadania

Ao felicitar a Instituição pela ousadia na definição da temática da cátedra, composta por um programa que considerou amplo, exigente e orientado para uma construção coletiva, destacou que o projeto afirma a sustentabilidade como dimensão essencial da cidadania. “Não é para um estado, um país, é para todo um mundo novo que a gente quer construir com sustentabilidade, relações sociais humanas amorosas, que façam a gente ser feliz mesmo, se sentir bem dentro da sua pele. Sustentabilidade significa bem-viver consigo, com os outros, com a natureza, em equilíbrio dinâmico. É o que buscamos, um sonho de todos nós”.

Em meio a conceitos e interpretações que se conversam e complementam, e lembrando do educador Paulo Freire, com quem conviveu em contribuição por 23 anos, que escrevia sempre à mão, exigente no cuidado com as palavras, manifestou aprovação sobre a escolha do termo ‘justiça socioambiental’. A visão abrangente não se reduz à questão climática e vem ao encontro do momento vivido. “Os grupos mais empobrecidos são os que mais sofrem os efeitos ambientais”, alertou, atentando para o fato de que as consequências de um “mundo insustentável” recaem de forma diferente para os grupos sociais. “Não basta mudar o estilo de vida, é preciso mudar o sistema”, fundamentado em um pacto que não liga para a justiça, mas para o lucro, que tem como referência não a cidadania, mas o mercado.

Diante do desafio de definir o que é sustentável, afirmou o enfrentamento à insustentabilidade. “E o que é insustentável? A fome, o desemprego, morar na rua, não ter terra para trabalhar, a guerra”. Nesse sentido, “o conceito que vocês utilizam no projeto me parece agregador e mobilizador, envolve a cultura dos direitos, claramente, a cultura de paz contra uma cultura de guerra, que considera o diferente como inimigo”, aprovou.

O professor ainda atentou para a necessidade de operacionalização dos conhecimentos trabalhados, que devem ir além dos aspectos físico-estruturais das escolas, fazendo parte do currículo dentro de um projeto ecopolítico pedagógico. E mostrou-se disponível a acompanhar e contribuir com os estudos na UCS, em que observou uma proposta que vai além da extensão, a ideia de uma universidade comunitária, que presta serviços. “Realmente uma Universidade robusta e colocando sua marca de comunitária com muita competência e seriedade”, parabenizou, diante da trajetória de 56 anos.