Canela,

9 de maio de 2024

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Chico

360 GRAUS

Francisco Rocha

Coluna 360 Graus — Áreas invadidas, sub-habitações e a relação com o crime em Canela

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A reportagem da Folha acompanhou a Polícia Civil de Canela no beco dos “Iraque”, na última sexta (29), durante uma ação de rotina da Delegacia de Polícia. Casualmente, foi neste local que os policiais canelenses prenderam bandidos armados, pertencentes a uma facção, há três anos.

Na época, a facção trazia criminosos de fora da cidade e aproveitava a pouca estrutura e a pobreza de locais como o “Iraque”, para instalar os seus comparsas. Na divulgação da ação, no final de setembro de 2020, a Polícia Civil de Canela destacou que não havia nenhuma presença do Poder Público naquele local, facilitando para que as facções aliciassem jovens para o tráfico de drogas.

Nesta semana, foi possível constatar que pouco mudou por lá. A reportagem fez contato com a Secretaria de Assistência Social, a qual informou que três famílias foram retiradas, sendo colocadas em aluguel social, informação confirmada no local.

Porém, outras duas famílias seguem em meio ao lixo e ao esgoto. Uma delas é de um senhor de idade, primeiro morador do entorno do muro que circunda a propriedade da Escolinha Tio Beto. Ali, reside com mulher, filhos e netos, mas, se nega a deixar o local. À reportagem, criticou os filhos que aceitaram o aluguel social e não tem interesse nenhum em se mudar.

Neste caso, é até mesmo uma questão cultural, com a família acostumada a viver daquela maneira, sem aceitar a ajuda do poder público.

O segundo caso foi o que mais me chamou a atenção, motivando a escrever esta coluna. A segunda casa que resta no local é habitada por um casal jovem, com dois filhos pequenos. O marido me disse que é natural do Ceará, passou por São Paulo onde trabalhou em lavouras, mas tem um irmão que já morava em Canela e o convenceu a vir para a cidade.

Aqui, mora em uma pequena casa de madeira, uma das últimas do beco, encostada no muro e no valão de esgoto. Ele me falou aqui vive muito melhor que em São Paulo. Trabalha em uma estofaria e em obras, sendo a grande vantagem que tem escola em tempo integral para os filhos, em uma escolinha conveniada com o Município.

Ou seja, o que para nós é péssimo, um descaso do poder público, para esta família é a melhor situação que encontrou nos últimos anos.

Óbvio que o fato da família cearense acreditar estar melhor aqui não ameniza o contraste daquele local com outras áreas de Canela. Há que se destacar que com o início da construção da nova Escola Tio Beto a área foi limpa no entorno do terreno que pertence ao Município, mas, enquanto a obra não estiver concluída e o prédio ocupado, a área vai continuar sendo usada para o tráfico e consumo de entorpecentes.

Ainda, as três famílias retiradas do local somente deixaram o beco este ano, mostrando a morosidade da questão ambiental em Canela, que pouco, quase nada, avançou nos últimos anos. Por outro lado, temos cinturões invadidos, áreas férteis para a criminalidade, onde prolifera a venda e o consumo de drogas, trazendo para Canela diversos “empregados” do tráfico.

Canela precisa, urgentemente, colocar um selo de prioridade nesta questão. O que acontece nas áreas invadidas e ocupações irregulares impacta em todos os serviços públicos, como educação, saúde, assistência social e segurança.

É preciso estancar já as invasões e encontrar uma maneira de regularizar o que já está consolidado. Trabalho que precisa começar ontem, mas com muito esforço e planejamento, para que não se estenda por uma vida.