Canela,

1 de maio de 2024

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Cáritas: de novos desvios de material a intimidações para obter “relações mais íntimas”, as novas denúncias de crimes no HCC

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Sob nova direção! Polícia Civil aponta que os mesmos delitos que deram início à Operação Cáritas continuaram acontecendo na gestão Leandro Gralha. Veja na matéria exclusiva

A Polícia Civil de Canela deflagrou, na manhã desta terça (9), a 11ª fase da Operação Cáritas, que investiga crimes de corrupção e contra a Administração Pública em Canela. Nesta ação, o foco foi novamente o Hospital de Caridade de Canela, tendo como investigados o secretário Municipal de Saúde e interventor do HCC, Leandro Gralha da Silva, um servidor administrativo, um servidor de manutenção, uma enfermeira e uma advogada, todos vinculados ao hospital.

Em cumprimento aos mandados expedidos pela 1ª Vara Judicial de Canela, policiais civis efetuaram a prisão preventiva de Gralha e realizaram busca e apreensão a documentos, telefones, computadores e outros objetos que pudessem servir como prova no inquérito policial.

Galha também foi afastado por 120 dias dos cargos ligados à Prefeitura e ao Hospital. A prisão preventiva não tem tempo determinado, podendo o secretário ficar preso por período maior que a suspensão. Porém, caso haja relaxamento de prisão antes deste prazo, Leandro não está impedido de assumir uma cadeira na Câmara de Vereadores, na qual é suplente pelo MDB.
A ação contou com 24 policiais civis que, além de Canela, também cumpriram medidas judiciais em Taquara. Foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão, além de quebras de sigilos bancários.

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Sob nova direção

Cáritas significa “caridade”, em latim, e esta operação policial nasceu de uma investigação ali, no Hospital de Caridade de Canela, em abril de 2021, a partir da denúncia de desvio de materiais de construção e que se apurou a existência de um grande esquema de corrupção, não só em relação ao próprio Hospital de Caridade de Canela, mas também em boa parte do poder público da cidade. Várias foram as fases da Operação e as medidas judicias expedidas pela 1ª Vara Judicial de Canela, com decreto de prisões preventivas do interventor do HCC, à época Vilmar Santos, além de secretários municipais, presidente da Câmara de Vereadores e outros agentes públicos.

A Polícia Civil seguiu investigando os fatos relacionados ao hospital local, sendo que, neste ano de 2023, se verificou a ocorrência de novos ilícitos perpetrados por agentes públicos, notadamente da Secretaria Municipal de Saúde, que acabam por ser desdobramentos em razão da sucessão político-administrativa ocorrida no Hospital de Caridade de Canela desde as prisões, afastamentos e indiciamentos dos servidores públicos anteriores.

Segundo o Inquérito Policial, Gralha assumiu o cargo em 17 de maio de 2022, durante o curso da Operação Caritas, e valendo-se dele, direciona pacientes dos quais seja amigo, parente ou correligionário político para atendimento e internação junto à ala de convênios médicos do Hospital de Caridade de Canela, registrando-os como se pelo SUS fossem, beneficiando-os, indevidamente, com estrutura, serviços e pessoal daquele setor. Ainda, o investigado, conforme apurado nas investigações, utiliza-se de violência e ameaças ostensivas a funcionários para, no serviço público, fazer imperar suas vontades pessoais e criminosas.

Desvios de materiais do HCC

Segundo a denúncia, uma casa na região central da cidade, na qual reside uma enfermeira que mantém relação estreita com o secretário e interventor teria sido pintada com a mesma tinta e materiais adquiridos pelo Hospital de Caridade de Canela para reforma, portanto, desviados.

Ainda, uma igreja localizada na área de invasão Edgar Haack possui como integrante um funcionário da manutenção do HCC. O piso do interior do estabelecimento religioso seria o mesmo piso do terceiro andar do HCC.

Intimidação e obstrução à investigação policial

Segundo o Inquérito, quando a PC iniciou a apuração das denúncias, teve dificuldades em avançar nas investigações, diante da negativa de acesso aos documentos do HCC, recebendo dados apenas parciais ou mesmo tendo informações sonegadas.

Uma funcionária de alto escalão teria sido demitida de sua função, por decisão do interventor, por tentar atender os pedidos da Polícia. Posteriormente, uma funcionária da área advocatícia da casa de saúde teria elaborado outro documento, com as informações autorizadas pelo secretário, o qual foi remetido às autoridades.

Ameaças e suspeitos com envolvimento em facção

Também, consta na investigação que um ex-servidor da casa de saúdo foi ameaçado, com arma de fogo, depois de ter supostamente dito “que sabia de muita coisa e que colocaria a merda no ventilador”. A testemunha relatou que sofreu ameaças em sua residência, por dois indivíduos armados, afirmando que estavam no local a mando de Gralha. A Polícia Civil realizou a identificação dos suspeitos, ambos com envolvimento em facção.

Intimidação e exigências sob pena de demissão

Outros testemunhos constantes no inquérito denunciam que Leandro comumente constrange funcionárias do hospital, a fim de ter relações mais íntimas, “sob pena de demissão”.

Perpetuação dos atos criminosos

Em sua decisão, autorizando a prisão preventiva de Leandro Gralha, o Juiz de Direito da 1ª Vara Judicial da Comarca de Canela, Vancarlo André Anacleto, afirma que “tudo isto vem ocorrendo, repito, no curso de investigações, instruções judiciais e julgamentos de denúncias originadas na Operação Caritas, de ampla divulgação e conhecimento público. Ou seja, não há o mínimo caráter pedagógico assimilado pelo investigado que, tendo plena ciência de que as investigações policiais e a atuação do Ministério Público e Poder Judiciário geram responsabilização daqueles que usam do Poder Público de Canela para praticar crimes, assume importantes funções na Prefeitura e Hospital para dar seguimento a práticas ilícitas. Aqui, ainda, agrega-se, em prejuízo do investigado, uma personalidade violenta e ameaçadora”.

Silêncio na Polícia Civil

Os delegados gaúchos continuam em um protesto silencioso em apoio à ADESP, após o impasse nas negociações salariais com o Governador Eduardo Leite. Essa postura reflete na ausência de divulgações oficiais sobre operações policiais.

Contraponto

A Prefeitura de Canela, através de seu departamento de comunicação, envio nota transcrita na íntegra abaixo:

Diante dos acontecimentos da manhã do dia 09/01/2023, o Poder Executivo do Município de Canela esclarece que desconhece os fatos que implicaram nas medidas judiciais cumpridas junto à Secretaria Municipal de Saúde e do Hospital de Caridade de Canela, o qual encontra-se sob intervenção administrativa, conforme o Decreto Municipal nº  8.335/2019. Por ora, ainda não se obteve acesso à integralidade dos fatos investigados pela Polícia Civil de Canela, os quais são indispensáveis para que sejam tomadas as medidas administrativas e/ou judiciais cabíveis. A Administração Municipal repudia qualquer ilegalidade ou irregularidade no trato da coisa pública, estando inteiramente à disposição da Autoridade Policial e do Poder Judiciário, aos fins de colaborar com a investigação

Ainda, a Prefeitura de Canela informou que o Secretário Adjunto da Saúde, Álvaro Grulke, assumirá a titularidade da pasta, e que o Secretário Geral de Governo, Jonas Bohn Bernardo, assumiu a intervenção de HCC.

Tentamos também contato com a defesa do secretário Leandro Gralha, que através de aplicativo de mensagens informou que está analisando o processo e deve pedir a revogação de prisão preventiva do secretário, em audiência de custódia, a qual acontece a partir das 18h30min, desta terça (9).