Canela,

16 de abril de 2024

Anuncie

Cabelo

OPINIÃO FORTI

Márcio Diehl Forti

Hospital de Caridade de Canela e seu novo Administrador

Compartilhe:

A crise sempre ronda o Hospital de Caridade de Canela. A financeira, então, sempre está presente. São anos de déficit e rombos cobertos de diversas formas, quando conseguem ser cobertos. Dívidas intermináveis, processos trabalhistas, equipamentos defasados e profissionais descontentes fazem parte da rotina de quem administra ou está trabalhando dentro da casa. Nos últimos anos, infelizmente, o que era geralmente uma questão de saúde financeira mudou de página. O Hospital acabou sendo peça-chave para a maior investigação de corrupção que nossa cidade já viu. Desde então, diversas fases da operação Cáritas foram desencadeadas, sendo algumas delas motivos de afastamentos e até de prisão de pessoas que estavam trabalhando dentro da instituição.

Dito isso, no último dia 15 de março, o interventor do Hospital, Jonas Bohn Bernardo, apresentou, junto do Prefeito Constantino Orsolin, o novo administrador do Hospital, Aristides Feistler. Com histórico ligado à saúde da cidade de Candelária, Aristides esteve trabalhando neste propósito por mais de dez anos. Foi secretário da saúde, administrador do hospital e também participou do Conselho da própria casa. Na apresentação, destacou-se que o novo diretor administrativo do HCC “teve relevantes serviços prestados superando crises financeiras, ampliando os serviços e também recuperando a credibilidade da Sociedade Beneficente Hospital Candelária.”

Em 2012, Aristides foi candidato a vereador em sua cidade de origem, concorrendo pelo Partido dos Trabalhadores, ao qual sempre esteve ligado. Não se elegeu, tendo feito 341 votos no pleito. Das duas uma: ou a população candelariense não aprovava seu trabalho ou não apoiava os candidatos da saúde como aqui em Canela. Mesmo não tendo obtido sucesso, Feistler seguiu com seu nome ligado a outras administrações até que se tornou réu na ação que citarei abaixo em notícia de 24 de dezembro de 2021, no site Jornal de Candelária:

“A Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público Federal (MPF), que apura irregularidades no convênio firmado entre a prefeitura de Candelária e a Associação Pró-Desenvolvimento da Cidadania de Candelária (Adeccan), entre 2004 e 2015, teve sua primeira decisão judicial. Em sentença divulgada no último dia 15 de dezembro, o juiz federal Eduardo Vandré Oliveira Lema Garcia, da 1ª Vara Federal de Santa Cruz do Sul, condenou os ex-prefeitos Lauro Mainardi, Paulo Butzge e os ex-presidentes da Adeccan, Aristides Feistler e Hardi Richard por improbidade administrativa. A decisão judicial ocorreu em primeira instância, cabendo recurso aos réus em segunda instância, junto ao Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, em Porto Alegre. Também citado como réu, o ex-prefeito Elcy Simões de Oliveira (já falecido) teve prescrição para aplicação das sanções de improbidade e o espólio não foi condenado por não ser possível quantificar o dano ao erário. Já a Adeccan também foi condenada, sendo proibida de realizar convênio com o poder público pelo prazo de oito anos.”

Mesmo com essas notícias, Aristides Feistler seguiu seu trabalho junto ao Hospital de Candelária, se desligando da instituição apenas em maio de 2023. Sua gestão junto à casa, ao mesmo tempo em que era elogiada, também era cercada de críticas da população. Casos como falta de médicos, negligência no plantão e diversas outras situações fizeram a prefeitura da cidade cogitar uma intervenção nos últimos meses de trabalho do administrador. Em post do Facebook no Portal Folha de Candelária com a notícia da contratação de Aristides pelo HCC, frases como “Terminou o Hospital de Canela” ou “Tenho Pena do Pessoal de Canela” estão misturadas a elogios e desejo de sucesso ao mesmo. A verdade é que mesmo réu com condenação em primeira instância em outra cidade, Aristides chega com a confiança de quem o contratou e com a descrença de uma população que não tem nenhuma certeza sobre o futuro da principal instituição de saúde da cidade de Canela.

Questionado acerca das notícias de Candelária, o atual interventor do Hospital se manifestou: “A contratação de Aristides se deu pelo currículo com atenção para a parte técnica, pela disponibilidade e também pela sua experiência em questões trabalhistas.” Ainda segundo Jonas, o contrato ainda está no período de experiência e o “trabalho está sendo avaliado diariamente”. Jonas ainda ressaltou que Aristides não está “oficialmente condenado” e se colocou à disposição dos veículos de comunicação para apresentar melhor o administrador à comunidade.

O secretário da Saúde Álvaro Grulke respondeu ao nosso questionamento com a seguinte frase: “desconheço o assunto, vou procurar me inteirar dos fatos e depois te falo.”

Procurado sobre a contratação, Felipe Oliveira, vice-presidente de serviços da ACIC e ocupante de uma das cadeiras da entidade no Conselho Municipal de Saúde afirma que representa riscos e problemas para a administração. Felipe preferiu não emitir juízo de valor em relação à pessoa contratada, mas deixa claro que em um momento onde a administração é questionada diariamente “ele jamais contrataria qualquer pessoa que tivesse um tipo de flanco, algum tipo de situação pela qual pudesse gerar ainda mais problemas de credibilidade para a gestão do atual prefeito Constantino Orsolin”. Ressalta, ainda, que mesmo não recomendando o movimento que a administração fez, torce pelo melhor da cidade e isso inclui o bom trabalho do gestor que está chegando ao Hospital.