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3 de dezembro de 2024

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OPINIÃO FORTI

Márcio Diehl Forti

Opinião Forti | Não vai beber nada mesmo hoje?

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A minha geração sempre teve uma vida social extremamente ativa. A noite aqui na serra gaúcha sempre foi incrível para quem nasceu no início dos anos oitenta. Boate do Laje, Tênis de Gramado, Danceteria Casanova, 3D, Video Bar, Metralhas, Estação Z, Bill Bar e tantas outras. Carnavais espetaculares, temporadas de inverno, hotelitos, formaturas e shows. Dificilmente se deixava de fazer algo por falta de opção. Inverno, verão, dia de semana, finais de semana. A vida social sempre foi agitada por aqui.

Uma coisa que sempre andou lado a lado com as baladas foi o consumo de álcool. A gente sonhava em completar 18 anos não para finalmente poder beber nas festas, isso sempre se deu um jeito e não sejamos hipócritas. Mas para poder comprar bebidas alcóolicas de forma tranquila e não ganhar uma pulseirinha de menor nas festas. Isso era um mico pra gente.

Eu tenho 44 anos de idade atualmente e abusei do consumo de bebidas alcoólicas em boa parte da minha vida nas baladas e eventos da vida. Não falo isso com orgulho bem pelo contrário. Falo com a propriedade de quem normalizou a ideia de que festa era lugar de estar sempre “alto”. Falo com a altivez de quem precisava beber para criar coragem de “chegar nas gurias”. Falo, hoje, com a lucidez de quem julgou a vida toda que fazer festa sóbrio não tinha a mínima possibilidade de ser divertido. Essa foi a realidade que comprei para a minha vida e é a realidade que a maioria dos meus amigos ainda tem hoje.  Não estou pregando moral de cuecas e dizer que não beberei mais, ou que agora eu condeno quem o faça. Longe de mim julgar alguém por isso.

Nas últimas semanas eu reduzi drasticamente o consumo de qualquer bebida de álcool. O corpo cobrou a conta de alguns abusos. Ainda tenho bastante tempo de vida e cabe a mim trocar alguns hábitos. Mas o fato é que a vida social parece estranha. Não tanto por mim, mas por muitos dos que me abordam. Não beber parece feio em diversos momentos. A pergunta “ah mas agora tá com essas frescuras?”. “Ih então porque veio na festa?”. Como se beber fosse obrigatório em noite ou churrasco de amigos. E é assim que a banda toca na maioria dos lugares que vou nos últimos tempos. Não vou mudar meu círculo de amigos ou tampouco deixar de fazer o que gosto. Se você veio até o fim da coluna esperando alguma lição de vida ou alguma confissão lhe digo que não foi a intenção. Mas posso dar apenas uma dica para ti que acha estranho pessoas que tomam água com gás ou coca zero em um churrasco com 50 litros de chopp: a escolha é delas e não tua!

O CISA (Centro de Informações Sobre Saúde do Álcool) constatou que boa parte dos brasileiros abusam de bebidas alcoólicas, mas não percebem seu padrão de consumo como problemático. Os dados do levantamento mostram que 27% dos brasileiros têm consumo moderado de álcool e 17% abusivos, mas 75% dos consumidores abusivos acreditam que são consumidores moderados. 

Quem toma mais de 14 doses semanais é considerado um consumidor abusivo. O brasileiro que consome álcool tanto de forma moderada quanto abusiva possui maior escolaridade e maior renda que os abstêmios, com destaque para os que apresentam ensino superior completo, mais prevalentes entre os consumidores moderados. 

São dados que mostram que a sociedade atual segue recriminando demais o uso de drogas ilícitas mas não entende que o consumo excessivo de álcool machuca demais todas as classes sociais. Proibir é o caminho? Não acho que seja por aí. Mas educação preventiva cada vez mais atuante nas escolas com certeza vai ser essencial!