Canela,

1 de setembro de 2025

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Chico

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Francisco Rocha

Quando o bicho pega, só a reportagem salva

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Operação Catedral: jornalismo sem rua é só opinião com filtro ou narrativa

Uma mistura de narrativa política, desinformação e busca por visualizações e curtidas nas redes sociais tomou conta do importante debate da Operação Catedral, que combateu o comércio irregular no entorno da Catedral de Pedras, em Canela.

Recortes maldosos foram divulgados, informações foram tiradas de contexto. A Folha através de seu editorial e seus colunistas, eu e o Cabelinho, tentamos trazer uma visão sensata do que aconteceu. Mas não tem jeito, um vídeo fabricado para viralizar vai sempre ter mais apelo que a informação desnudada. E, convenhamos, é um saco ter que ficar desmentindo fake news e contrapondo informações de colegas de imprensa.

Dizem que a ignorância é uma benção. E, pro ignorante, até pode ser: quem não sabe, não se incomoda, não precisa agir. Mas pra quem tem acesso à informação — e mais ainda pra quem vive dela — a história é outra. Quando a gente sabe, não dá pra fingir que não viu. O silêncio também é atitude. A omissão também pesa.

E é aí que entra a reportagem. Ela é o contrário da ignorância confortável. É o repórter no local do fato, vendo a sequência inteira, entendendo o contexto antes de qualquer pronunciamento oficial. É essa presença que separa versão de fato do barulho das redes sociais.

A história é simples: a Prefeitura realizou uma operação contra o comércio irregular em área pública. Um fiscal foi agredido e a Brigada precisou intervir. As imagens que rodaram nas redes mostraram só o trecho final: policiais imobilizando o homem. O que não apareceu foi o antes, a agressão e toda a confusão que levou à intervenção. Nós, da Folha, estávamos no local e vimos tudo.

Em tempos de “notícias” fabricadas, a reportagem segue sendo a única ferramenta capaz de entregar contexto. E olha que teve muita empresa grande estrando nessa.

Eu sou do chão de fábrica. Do cheiro de Coca-Cola com água e açúcar na quadra. Prefiro tênis de futsal a mocassim. Alguns colegas, assessores e promoters até se ressentem da minha falta em certos eventos sociais da cidade. Mas não tem jeito: eu rendo muito mais no meio de uma operação policial, numa manhã fria, às cinco da manhã, do que num salão climatizado, com vinho e espumante, no lançamento de um produto.

Claro, como diretor e administrador da Folha de Canela, tenho compromissos sociais e representações formais. Sei me portar tanto no tapete vermelho quanto numa ocorrência pesada no bairro. Mas a verdade é uma só: a reportagem é a alma do jornalismo. É a essência do nosso ofício. É o repórter que vive o momento, que vê o que acontece e, antes mesmo do pronunciamento oficial, consegue levar à comunidade a informação certa, no tempo certo.

Podem me recriminar, mas eu prefiro a operação policial. Prefiro o calor da quadra. Prefiro a hora da ação. Sou jornalista por profissão, colunista de coração e administrador por obrigação. Sei da responsabilidade de gerir a empresa com técnica e coerência — e faço. Mas é na reportagem que eu me encontro.

E ao leitor, fica um recado simples: não caia na armadilha da ignorância fabricada. Não brigue com a imagem. Se a cena mostra uma coisa, desconfie de quem tenta vender outra. Valorize quem estava no local, quem viu a sequência inteira, quem trouxe a informação sem maquiagem. É aí que mora a verdade — e é por isso que, quando o bicho pega, só a reportagem salva.