Na semana passada, recebi uma mensagem de um grande amigo, não apenas meu, mas de toda a minha família. Neste mundo tão avançado e tecnológico, ele me perguntou se eu tinha um e-mail. Como eu sabia que não era cobrança ou golpe, achei estranho, mas passei meu endereço eletrônico para ele.
Neste último domingo, recebi um gentil e comovente texto. Para quem não sabe, perdi meu irmão mais velho, o Cássio, há quatro anos. O luto é algo que a gente nunca deixa de sentir. Cada um reage a ele de forma própria e o enfrenta do seu jeito. Eu procuro amenizar essa batalha com lembranças positivas e me cercando de pessoas boas – pessoas como esse meu amigo, a quem vou cometer a inconfidência de citar aqui neste texto.
Joaquim Inácio Selbach é uma das primeiras pessoas de quem tenho memória nesta vida. Nos anos oitenta, a proximidade e o convívio com os vizinhos eram maiores. A casa da minha família era quase ao lado da casa de dona Isolda Selbach, uma das pessoas mais doces que conheço. Acho que não teria como o Quim (apelido que sempre uso para ele) ser diferente: ele é um cara gentil. Não apenas ele, mas também seus seis irmãos, Cíntia, Kátia, Márcia, Patrícia, Zé e Pedro. Tenho muita honra de conhecer bem todos eles e de ter sido acolhido em algum momento por suas famílias. Meus dois primeiros amigos também eram meus vizinhos, e sou muito grato por ambos. Não por acaso, um deles é sobrinho do Joaquim, o Gabriel, que hoje mora em Portugal.
Voltando ao conteúdo do e-mail: Quim é avesso a redes sociais desde sempre, mas sempre teve o dom da boa comunicação, e o texto que ele escreveu em homenagem ao meu irmão não é apenas belo; é de uma gentileza sem fim. Ele relembra desde os tempos em que, ainda pequenos, eles iam ao velho Maçarico comprar figurinhas, até as agruras da juventude nas idas ao colégio e o amor pela boa música. Joca (como também o chamamos) via meu irmão como alguém único e inspirador. E é assim que deveríamos tratar nossos amigos e familiares, mesmo que, às vezes, a distância nos tire do convívio diário. Tenho certeza de que meu irmão, onde quer que esteja, tinha a mesma impressão do Quim. Ele sempre me falava, com saudade e carinho, sobre os tempos em que ele, Túlio Lampert, Vini Rost, Quim Selbach e Marcelo Teles corriam pelas ruas do centro da cidade.
Comecei falando sobre gentileza porque acho que estamos sentindo muito a falta dela. Hoje parece que é estranho dizer “muito obrigado”, “bom trabalho”, “você está muito bonita” ou “cara, como você jogou bem hoje”. Parece que temos prazer em desfazer o trabalho e as ações dos outros. As pessoas vão aos estabelecimentos comerciais, adoram fazer críticas públicas e se sentem cheias de razão. Já para elogiar e recomendar, o ímpeto não é o mesmo. Todos têm momentos ruins e podem errar, mas também podemos valorizar mais os acertos. Isso vale até quando olhamos para o poder público. Nem todos os que trabalham como servidores municipais ou em outras esferas são incompetentes. Nem todos estão ali fazendo hora e esperando o salário cair na conta. As pessoas precisam, às vezes, ser incentivadas e reconhecidas pelos seus bons atos. Na verdade, o mundo precisa de mais gente como o Quim e dona Isolda!