O PT nasceu, cresceu e aprendeu a fazer política na era da comunicação de massa, das mídias eletrônicas, da TV e do rádio. Uma era marcada, também, pela cultura livresca. As pessoas liam. Nessa época, o PT foi brilhante. As campanhas do PT não eram só lindas, eram emocionantes. Faziam as pessoas chorar. Mesmo com uma mídia praticamente 100% contrária, ganhávamos eleições a rodo. Conquistamos algumas das capitais mais importantes do país, sem falar na histórica e memorável campanha que levou Lula ao Planalto em 2003.
Hoje, as velhas mídias eletrônicas pouco influem no debate político. Quem controla a narrativa são as mídias digitais, que submeteram a esfera pública a uma mudança radical de estrutura, uma estrutura fragmentada por algorítimos.
Atualmente, convivemos com a propagação viral de informação criada por inteligência artificial. As deepfakes são um exemplo. Essa inteligência artificial é controlada por meia dúzia de trilhardários, os novos barões do poder neoliberal. A ideologia neoliberal transforma experiências grotescas, absurdas, em engajamento. O novo meio de submissão social é o smartphone.
Não é por acaso que as redes sociais estejam organicamente formatadas para favorecer a extrema direita. O neoliberalismo serve-se da extrema direita. O discurso da extrema direita não exige racionalidade, se vale de palavras ou expressões sem sentido e imagens bizarras porque carregam muito mais estímulos psíquicos para envenenar o debate nessa arena onde vale tudo. Os recortes da cadeirada no Pablo Marçal foram o ponto alto das eleições em 2024, dominaram o debate na disputa paulista muito mais do que propostas.
Vivemos o novo e poderoso tipo de submissão imposto pelo neoliberalismo. O submetido sequer tem consciência de sua submissão. Pensa que é livre, que não está sob nenhuma forma de coação. Por isso, a extrema direita fala tanto em “liberdade” e coloca toda e qualquer forma de regulação das redes sociais como se fosse censura imposta pelos malvados agentes do sistema, um ataque à livre manifestação de opinião.
Então, não é que a extrema direita sabe usar melhor do que nós a cultura digital. Ou teríamos que aprender a criar fakenews e gerar factoides malucos para alimentar uma rede esquizofrênica? Do ponto de vista criativo e estético, somos muito melhores do que eles. Trabalhamos não apenas com os sonhos e as esperanças, mas com a verdade factual, virtudes que na época da comunicação de massa nos davam uma boa vantagem. Só que, agora, na cultura digital, disputamos opiniões e corações com milhares de bots sociais e influencers do ódio ou da prosperidade, ferramentas utilizadas pela extrema direita que degeneraram a democracia e distorceram massivamente os debates políticos. A democracia ocidental está indo pelo ralo. Essa que é a verdade.
Por outro lado, mesmo com todas essas ferramentas, a extrema direita não saiu vitoriosa destas recentes eleições no Brasil. O centrão, que para a maioria das pessoas é uma massa difusa, mas que sabemos ser a outra cara da direita, esse centrão das emendas secretas foi quem saiu vencedor. Não foi o partido do Bolsonaro. E a maior parte dessa direita está no governo Lula. Por sorte temos o Lula, que sabe lidar com essa gente. De forma que o resultado não foi tão catastrófico assim. É claro que foi ruim, mas nos deu um leve suspiro, ainda conseguimos um pequeno crescimento. Não é pouco para um partido que em 2018 foi dado como morto.
Mas o problema de fundo, que não é exclusivo nosso, mas mundial, fica. Estamos em meio à guerra da informação em que o like é o signo dominante, com uma propagação viral da informação que os especialistas chamam de infodemia ou infowars. Uma guerra pelas mentes na qual os fundamentos e as argumentações lógicas do longínquo século 20 perdem de longe para os memes criados por robôs e adolescentes.
Marcelo Leal – jornalista
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