Criador do Natal Luz de Gramado critica concorrência entre cidades, propõe envolvimento da comunidade nos eventos e mobilidade e conforto aos visitantes
As cidades que compõem a chamada Região das Hortênsias devem atuar em conjunto na vocação turística que as aproxima. É o que propõe o hoteleiro e ex-secretário de Turismo de Gramado Luciano Peccin, criador do Natal Luz – programação que há mais de duas décadas mobiliza os moradores e encanta visitantes como uma das principais atrações da cidade e da região. A convite do projeto Café de Homens, iniciativa mensal realizada no âmbito da Igreja Evangélica de Confissão Luterana de Canela, ele falou das potencialidades e dos gargalos a serem enfrentados pelas administrações municipais. “Nossas cidades não precisam de eventos similares que as tornem concorrentes; precisam de iniciativas que se complementem”, afirmou, ponderando que uma atuação em consórcio pode ser viabilizada a partir de uma liderança, com mandato variável para que todas tenham oportunidade.
Segundo ele, o atual estágio da região como um dos mais importantes destinos turísticos brasileiros começou com o chamado “veranismo”, a partir de Canela como ponto de estadia nas férias de verão. A percepção dessa vocação fez com que empresários locais buscassem desenvolvê-la para os demais meses do ano, dotando as cidades de infraestrutura hoteleira e de serviços voltados a esse público, em paralelo com a implantação de eventos capazes de atrair cada vez mais visitantes. Essa quebra de sazonalidade é vista por ele como uma evolução e como base econômica e social da região.
Peccin entende, contudo, que ao crescimento registrado ao longo dos anos corresponderam situações a serem enfrentadas, sempre tendo em vista o turista, que sustenta esse modelo de desenvolvimento. “Todas as grandes cidades turísticas do mundo concentraram os serviços públicos afastados dos centros”, exemplificou ele. “Não faz sentido prefeituras, secretarias, escolas e hospitais, por exemplo, estarem nas mesmas áreas das grandes atrações da cidade, porque passam a competir com os visitantes por áreas de estacionamento, circulação de veículos, vagas nos restaurantes”.
Mas o empresário ressalvou a importância da comunidade: “É ela que se envolve nos eventos”. Lembrou o aprendizado de Gramado com o carnavalesco Joãozinho Trinta, a quem chamou para orientar a cidade quando à frente do Natal Luz. “Um desfile se faz com personagens, não com pessoas apenas fantasiadas”. A partir desse ensinamento, disse ele, investiu-se em setores como a pintura, a escultura, o teatro, a música, profissionalizando os amadores e transformando-os em personagens e intérpretes que continuam a encantar as famílias.
Aliás, para Peccin, ter as famílias como foco é uma das vantagens competitivas da região que deve ser mantida. Para tal, além das soluções aos gargalos de trânsito e mobilidade, é preciso resolver a questão do aeroporto regional e dar atenção às mudanças e tendências sociais e tecnológicas: “O turista não quer ser atendido por um robô, quer atenção e qualidade no atendimento”, disse, em referência à inteligência artificial. E “as novas gerações não encaram a propriedade de bens como a nossa geração: não precisam ser donos de casa na praia, casa na serra, automóveis”, observou, ao responder sobre hospedagem por multipropriedades e locações por temporada.
ND / 4429-MTE-RS / 21/09/25