Canela,

30 de junho de 2024

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Salto: local segue em estado de alerta e ações emergências recomendadas ainda não aconteceram na área afetada

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Vistoria dos Bombeiros

Equipe da Folha acompanhou visita técnica a pedido do Comando do Corpo de Bombeiros

Após o surgimento de rachaduras e deslocamentos de uma encosta, na localidade de Eletra, no Município de São Francisco de Paula, surgiu a preocupação que um deslizamento de terra pudesse acontecer, o que prejudicaria moradores do entorno da Barragem do Salto e ainda, pior, se essa massa chegasse até à água, uma onda poderia causar alagamentos ou até prejudicar a estrutura da barragem.

Ainda na noite de segunda (13), o perímetro foi evacuado e interditado pelos Bombeiros Militares e Defesa Civil de São Francisco de Paula. Após um alerta da Defesa Civil do Estado, mencionando o risco de rompimento da Barragem, a situação se agravou, levando a preocupação para outros locais que estariam na mancha de alagamento. Alguns municípios chegaram a evacuar moradores lindeiros ao Rio Caí.

Preocupado com outras situações, inclusive com a presença de um aqueduto (túnel escavado na rocha, que leva água para a Barragem de Canastra), o Corpo de Bombeiros, a partir do Pelotão de Canela, comunicou o comando estadual sobre o ocorrido, o qual designou uma vistoria na Barragem do Salto e no seu entorno, para verificar a situação e quais as ações poderiam ser tomadas para a mitigação dos riscos.

Na última quarta (15), uma equipe coordenada pelo Tenente Miguel Oliveira, comandante do Pelotão de Bombeiros Militar de Canela, que também responde por São Francisco de Paula, por um sargento do B2, inteligência do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul, e pelo engenheiro civil, doutor em geotécnica, Felipe Gobbi, da FGS Geotecnia, com larga experiência em pós-desastres e que presta apoio voluntário à Defesa Civil Estadual, esteve no local.

A área, entre a Av. Eletra e a Rua da CEEE, lindeiras ao lago formado pela barragem, foi vistoriada, tendo um relatório preliminar de danos e ações para prevenção, que devem ser realizadas especialmente pela Prefeitura de São Francisco de Paula.

Trincas no solo, rachaduras nas casas e perigo iminente

Gobbi percorreu todas as áreas que apresentavam rachaduras no solo, realizando o georreferenciamento para uma análise da área impactada. A equipe da Folha acompanhou toda a visita técnica, registrando em foto as marcas da movimentação do solo, em uma área de aproximadamente quatro hectares.

Preliminarmente, Gobbi salientou que foi acertada a decisão do Corpo de Bombeiros e Defesa Civil em evacuar o local, o qual deve permanecer sob constante monitoramento. Será necessário um estudo mais aprofundado para um diagnóstico da profundidade das fendas e o efeito da água na encosta.

Neste primeiro momento, o engenheiro localizou pontos de rachadura no solo, através do qual a água da chuva está infiltrando, que pode estar alcançando pontos mais profundos e causando a movimentação de massa, inclusive com locais próximos ao reservatório, aonde a água aflora da terra em quantidade preocupante.

Ações emergenciais

Após a constatação das infiltrações, o Corpo de Bombeiros acionou a Prefeitura de São Francisco de Paula, que mandou uma equipe ao local, com a secretária Municipal de Meio Ambiente, Michele Koch, além do representante da Defesa Civil e um engenheiro do município.

Junto à Av. Eletra, onde foram localizadas trincas no solo, a água que deveria escoar pela drenagem está infiltrando nas fendas, ao ponto de secar completamente a vala ao lado da via em determinados pontos.

Felipe Gobbi orientou o Município a proceder imediatamente um trabalho de fechamento das fendas para que esta água seja direcionada ao reservatório e deixe de infiltrar. A Prefeitura de São Francisco de Paula se comprometeu em realizar os serviços ainda nesta quinta (16).

A reportagem, da Folha questionou o Município de São Francisco de Paula sobre as ações emergências, que ainda não haviam sido realizadas até o final desta manhã e não obteve retorno.

Um dos locais onde devem acontecer a ação emergencial

Risco de rompimento da barragem

Ficou claro que existiu uma movimentação de terra na encosta ao lado da Barragem. Neste momento o local segue em risco. Não há como precisar, se ocorrerá um deslizamento e se ele alcançará o lago, a quantidade de material que chegaria até a água e nem seu impacto na barragem.

A Ceee, através de sua assessoria de imprensa, respondeu à Folha o que segue:

A barragem do Salto encontra-se íntegra, dentro de seus parâmetros normais de operação. Não há uma conclusão sobre o impacto que a queda da encosta provocaria na barragem, por isso, preventivamente, foi feita a evacuação da população à jusante. A Prefeitura de São Francisco de Paula está realizando uma avaliação sobre a estabilidade da encosta.

O traçado do túnel que leva água da barragem do Salto até a usina de Bugres não coincide com a área na qual foram identificadas as trincas no solo. A estrutura, que foi escavada em rocha e revestida em concreto, está em perfeitas condições operacionais, sem bloqueios ou qualquer coisa que impeça o fluxo da água até Bugres.

Com relação às medidas preventivas tomadas em virtude de um provável escorregamento da encosta junto à tomada d’água, a CEEE Geração diminuiu o fluxo de água no túnel ao mínimo. O objetivo é que, caso a encosta obstrua a tomada d’água, não entre terra na estrutura, já que a limpeza do túnel demandaria ações mais complexas que poderiam interromper a transposição.

Com relação a esta nota, a reportagem da Folha verificou que a avalição da Prefeitura de São Francisco de Paula não aconteceu, uma vez que não conseguiu contratar profissional habilitado para a função.

Ainda, na tarde de quarta, a água que passa sobre o reservatório estava em uma cota de 70cm. Os dados oficias da Ceee dizem que a água chegou 80cm acima do reservatório nos dias de maior quantidade de chuvas.

Casas rachadas e preocupação

Apesar de a maioria das residências na área de deslizamento serem casas de veraneio ou de aluguel de temporada, existem moradores no local. Nossa reportagem esteve em um imóvel que apresentou rachaduras e movimentação nas paredes. Naquele momento, na metade da tarde de quarta (15), o morador, que alugava o imóvel, estava realizando a sua mudança, com medo do que poderia acontecer.

Pelo menos mais três imóveis apresentaram rachaduras, incluindo o antigo Clube Federal, hotel que teve sua construção em 1931 e serviu de casa de veraneio para o, após, governador do Estado, Ildo Meneghetti. Este imóvel foi um dos mais atingidos pelo movimento de terra.

Monitoramento e estado de alerta

A área segue em monitoramento e o estado de alerta não será afastado, principalmente pela preocupação com os próximos dias, para os quais há previsão de chuva em grande quantidade.