Canela,

28 de março de 2024

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Luiz Antônio Alves: As mulheres na Genealogia

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A pesquisa genealógica é um exercício de paciência, compreensão e contextualização de fatos históricos de cada época, em cada geração. E o quebra-cabeça que tentamos montar envolve surpresas agradáveis quando encontramos um ancestral em priscas eras e que nos transporta para a linha da imaginação, pois pouca coisa sabemos dos personagens de 300, 400 ou 1000 anos atrás. Existem exceções quando o parente distante é famoso e consta em livros e documentos mofados pelo tempo.
Também encontramos armadilhas que exigem mais pesquisa para esclarecer dúvidas, já que é impossível os 100% na Genealogia. Um exemplo que é facilmente encontrado é com os batismos anteriores ao surgimento do registro civil. Nos livros eclesiásticos da Igreja o batismo é a referência e nele o assento era apenas do nome da criança, não constando o sobrenome ou o apelido familiar. Assim, algumas famílias batizavam até cinco Marias em datas diferentes. Quando é encontrado o casamento delas, sem que seja apontada a data do nascimento, surgia a Maria de Jesus, Maria da Conceição, Maria do Céu, Maria Joaquina e Maria da Annunciação, num acréscimo que deixa os detetives do passado com muitas dúvidas. Afinal, qual é a Maria mais nova, e qual a mais velha?
Outro detalhe que determinou a submissão da mulher ao homem e à sociedade foi quando no casamento “perdia” o sobrenome da família e lhe era imposto apenas o sobrenome do marido. Em alguns casos era permitido a mulher conservar sobrenome de seu pai, acrescentando ao final o do marido. Simbolicamente é um ato oficial de submissão, dentro da cultura, costume ou tradição de muitos séculos. Isto gerou, na genealogia, uma preferência pela varonia ou ancestralidade paterna, o que é injusto. Geralmente, eram utilizados discursos que colocavam a mulher em uma situação de incapacidade natural para exercer plenamente os atos da vida civil, consequentemente das outras esferas sociais, como a política e a econômica, colocando-a, juridicamente em uma posição secundária e subordinada aos direitos do homem. Era um monopólio masculino tanto na esfera privada como na pública. Sem falar no mercado de trabalho onde as diferenças continuam em termos salariais.
Houve avanços no Direito de Família e hoje é facultativo, e não obrigatório, a mulher adotar o sobrenome do marido. E os filhos? Ainda está aberta a questão. Eles adotarão qual sobrenome? Tudo isto está também atrelado a preconceito e xenofobia quando se tenta “esconder” a origem da mãe que pode ser de etnia não bem aceita por determinados grupos sociais, infelizmente.
E não se pode esquecer que milhões de famílias descendem da índia Bartira, considerada a “Mãe do Povo Brasileiro”! Esta é mais uma questão bem polêmica. Na Genealogia a mulher deve ter um lugar de destaque.
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