Canela,

18 de abril de 2024

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Luiz Antônio Alves: Falares Serranos

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Os estudos sobre a cultura, genealogia e história das famílias brasileiras também agrega heranças relacionadas às ruralidades, ao linguajar caipira e tropeiro. Em 2012 juntamente com o jornalista e historiador sorocabano Sérgio Coelho de Oliveira, publicamos “Linguajar Tropeiro”, um livro que trata de falares, gírias e dialetos ainda ouvidos e apreciados no interior de São Paulo e Rio Grande do Sul. É uma combinação de costumes e tradições formadoras da identidade de milhares de famílias tropeiras, campesinas e típicas do grande interior do Brasil. Reproduzo um texto da obra que dá um gostinho de quero mais aos estudiosos e admiradores de nosso palavreado que chega também aqui pela região.
Lembro dos meus tios e tias, pelo lado materno, no fundo do Juá, ou nas vilas movimentadas de Cazuza e da Criúva, por usarem alguns termos que também é lembrado pelo saudoso Professor Leopoldo Tietböhl em seu livro sobre o Chico Ventana, que comercializava produtos entre Três Forquilhas, São Francisco de Paula e até na Vacaria.
Chuvinha de móia bobo. Um chuvisco que não engana ninguém e não atrapalha a lida ou a saída de dentro de casa ou do galpão. Tempo morrinhento, que não se sabe se vai ventar ou chover muito. Matungo, um lubuno véio e sêco: cavalo velho, com pelagem de lubuno, indicando que na época se utilizava o termo que ainda é conservado nos dias de hoje. Voizinha de garnizé, ironia, humor e interpretação daquele que tem voz fina e muito ouvida lá pelas banda da Aratinga, antes da descida da serra. Bota lageana, indicando o estilo e não de onde era comprada. Termo passado de pai pra filho, pois antigamente os tropeiros de Lages (SC) transitavam por este corredor imenso de tropas serranas.
Bassoura, em vez de vassoura. Geralmente, aquela vassoura moura que infesta alguns campos ou uma Maria-mole que também se encontra no litoral. Chamuscá: aqui pode ser entendido como sapecar com fogo, dar uma queimada rasa ou também dar um laçasso com o arriadô para tirar de frente um obstáculo. Vem de longe o dito “é que nem cachorro ovelheiro, não tem jeito, só matando!”.
De vereda. Esta é bem mais conhecida. Quer dizer, ligeiro, rápido, de pronto. Macota que no Juá e na Mulada é um cara esperto. Garrei: este termo significa pegar. Quem anda pelos campos de cima da serra encontra este termo facilmente, pronunciado pela gente gaudéria. Existe uma variação que é garrei nojo, ou seja, não gostei de tal coisa ou tal atitude.
As imagens criadas são, na verdade, episódios e fatos que faziam e fazem parte de um enredo histórico onde as minúcias dos costumes e falares foram preservadas com o tempo. É uma vorteada pelos caminhos da linguagem e um doce atentado à gramática. Às vezes assusta alguns intelectuais, mas não adianta chorar depois do leite derramado!