Canela,

22 de abril de 2024

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Homem luta para sair da estatística após erro de diagnóstico para Covid-19

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Após preconceito e ameaças, ele considera a retificação o ponto inicial para a normalidade de suas atividades

FRANCISCO ROCHA
francisco@folhadecanela.com.br

O que você faria se fosse erroneamente diagnosticado como infectado pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) e sua vida mudasse da noite para o dia?
Este é o dilema que o empresário e bioquímico Diogo Moeller Farias vem enfrentando desde o dia 20 de março, quando seu exame PCR deu positivo para Covid-19.

Farias é proprietário do Laboratório Diagnostica, com sede em Dois Irmãos e filiais em Canela e Gramado. Casado e com três filhos, ele e a esposa fizeram uma viagem no início de março, para a Índia, numa área, até então, sem risco de Covid-19.

Ao retornar para sua cidade, Diogo teve tosse e um leve sintoma de labirintite, que não durou nenhuma noite, conforme relatou à reportagem da Folha.

Ao mesmo tempo que chegavam mensagens de apoio, chegava também a discriminação e as ameaças, incluindo as de morte, antes que infectássemos a cidade inteira”.

O bioquímico, por medida preventiva de segurança a sua família e funcionários, comunicou o município de Dois Irmãos sobre os sintomas e foi submetido a um de exame PCR para detecção do vírus causador da Covid-19, pelo Lacen – Laboratório Central do Estado do Rio Grande do Sul.

No dia 20 de março, o resultado foi informado como positivo.

“A maneira como o Estado divulgava os casos no final de março deram informações suficientes para que eu fosse identificado, aqui é uma cidade pequena”, desabafou Farias. “A partir daí, a vida da minha família virou de ponta cabeça. Ao mesmo tempo que chegavam mensagens de apoio, chegava também a discriminação e as ameaças, incluindo as de morte, antes que infectássemos a cidade inteira”.

A família recebia mensagens por aplicativo dizendo ter visto Diogo em locais onde jamais esteve, pois continuava em isolamento.

“Atualmente, tenho levado uma vida muito reservada, indo somente ao trabalho e sem conseguir visitar minhas filiais”, lamenta.

Nos dias seguintes, a esposa, membros da família e pessoas que tiveram contato com os dois foram testados, todos negativos, e Diogo seguia sem apresentar sintomas. Por este motivo, resolveu fazer um teste de sorologia, para verificar se já poderia ser considerado recuperado da doença e deixar o isolamento.

A sorologia, diferentemente do PCR, verifica a resposta imunológica do corpo em relação ao vírus. Isso é feito a partir da detecção de anticorpos IgA, IgM e IgG em pessoas que foram expostas ao SARS-CoV-2. Nesse caso, o exame é realizado a partir da amostra de sangue do paciente.

O resultado chegou em 18 de abril e, para a surpresa de todos, deu negativo. Isso indicou a Farias que ele nunca teve contato com a doença, pois não gerou nenhum tipo de anticorpos.

O fato foi comunicado à Prefeitura de Dois Irmãos, que por sua conta providenciou novo exame de sorologia na rede pública, o qual também deu negativo, em 24 de abril. Um dia depois, o município solicitou explicações ao Lacen sobre o que pode ter acontecido para o resultado de Diogo, mas, até o momento, não obteve resposta.

“Fiz a sorologia na rede privada 15 dias depois do primeiro, que constatou que eu não contaminado, pois não produzi anticorpos. E, agora, fiz uma nova sorologia, desta vez pela prefeitura, no laboratório oficial, 30 dias depois. Resultado também negativo para pesquisa de anticorpos, confirmando os resultados negativos anteriores”, diz o bioquímico.

A falta de empatia, o isolamento e as ameaças também são uma face cruel desta doença que conhecemos tão pouco”.

Deixar as estatísticas

A luta agora é para deixar a Lista de Infectados do Coronavírus, controlada pela Secretaria de Estado da Saúde. Farias considera este o primeiro passo para a volta da normalidade da vida de sua família.

“Sofremos todos os efeitos psicológicos e sociais, desde o isolamento até a desconfiança, preconceito e ameaças das pessoas. Fiquei sem pegar meus filhos no colo por duas semanas. Sofremos julgamentos e fomos acusados por fake news”, relatou.

Farias não pretende judicializar o fato, espera que o próprio Estado reconheça o erro e tire seu nome das estatísticas. “Não há como voltar no tempo e desfazer este processo. Não há como afirmar onde houve o erro. Cabe salientar que vou continuar buscando sair desta lista e deixo meu depoimento como alerta à outras pessoas que possam ter passado por situação parecida”, finalizou o bioquímico.