Canela,

28 de março de 2024

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“Eu venci o coronavírus”

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Conheça o relato de um canelense que passou pela experiência de ser diagnosticado e internado, após ser confirmado com Covid-19

FRANCISCO ROCHA
francisco@folhadecanela.com.br

Situações novas são sempre desafios para qualquer ser humano. É também para o jornalista, que tem que escolher como abordar alguns assuntos. No caso de um colunista de opinião, como este que lhes escreve, cabe o julgamento do leitor, sobre aquilo que o colunista escreve.

Sobre minhas manifestações semanais na Folha de Canela e no Portal da Folha, recebo críticas e elogios. Sobre o meu posicionamento quanto à Covid-19, algumas são ásperas, tais como “quando for alguém que tu conhece, teu tratamento vai ser diferente”.

Não vou me alongar neste relato, que não é o mais importante nesta matéria, mas cabe o registro que escrevo hoje sobre alguém que conheço, o Michel, meu vizinho de porta, cidadão que esteve representando sua instituição em eventos da Folha e que, frequentemente, antes de nossas vidas ganharem este contorno apocalíptico, encontrava com frequência no restaurante e no mercado.

Pois bem, graças a coragem do Michel, temos um rosto conhecido, infectado pelo Coronavírus, diagnosticado com Covid-19. E é este relato que pretendo trazer nas linhas seguintes, um relato de vida, não de números negativos.

Michel Cardoso Pessoa, 38 anos, estava internado no Hospital Arcanjo São Miguel, em Gramado, desde o dia 01 de junho, quando foi diagnosticado com Covid-19. Ele passou por medos e sintomas reais. Teve alta na tarde de hoje e uma das suas frases, ao sair do HASM foi “eu venci o Coronavírus”.

Durante este período, ele conviveu com o respirador, que ficou desligado ao lado de sua cama. Foi tratado com cloroquina e azitromicina, temeu não mais voltar para a família e agora, acumula uma experiência de vida que, corajosamente, optou por compartilhar com os leitores da Folha, como uma forma de apoio para quem tem medo da doença ou quem está passando por esta situação.

Vale registrar que Michel foi o primeiro paciente internado com diagnostico confirmado para Covid-19, no HASM. Pelas redes sociais, o hospital comemorou a alta do paciente.

 “Apesar da gravidade do quadro, foi possível estabilizar e tratar o paciente sem a necessidade de transferência para a UTI, graças ao protocolo de tratamento implantado pela Comissão de Manejo COVID-19 HASM desde o início da pandemia. Toda a equipe ficou muito contente com a recuperação do paciente que ficou muito emocionado com a alta.

Momento da alta, no HASM

Confira a entrevista:

Quando você descobriu que estava com Coronavírus?

Foi a partir de uma dor semelhante a um cálculo renal. Procurei auxílio médico, foi feita uma primeira tomografia, na qual os rins estavam em perfeito estado, porém, apareceram manchas no final dos pulmões. A médica imediatamente pediu outra tomografia que mostrou meus pulmões com quase 50% da doença.

Imediatamente houve suspeita da Covid-19, foi feito exame do cotonete no nariz e fiquei isolado durante 8 dias no hospital de Gramado.

Como você reagiu ao diagnóstico?

Recebi o resultado positivo e perdi o chão. Eu sou diabético e já me passou as piores coisas possíveis pela cabeça, ser entubado, UTI e tudo mais. Mas, graças a Deus e aos médicos, enfermeiros e técnicos, não precisei de nada disso. Mas, te digo, é complicadíssimo ser forte para algumas coisas, porém, com este vírus, a sensação é de impotência.

Do ponto de vista físico, o que foi mais difícil?

Fiquei oito dias internado e isolado. Destes, foi no segundo dia que tive febre e fiquei com muito medo do que poderia acontecer.

E do ponto de vista psicológico, qual foi a sua maior dificuldade?

Literalmente, meu psicólogo ficou muito abalado, ficava imaginando se o pior acontecesse. Perdi meu pai aos nove anos e não queria que meu filho, hoje com sete anos, passasse o mesmo que passei.

Chorei muito, ali, pensando no que poderia acontecer.

Você sofreu alguma forma de preconceito por ter sido testado positivo?

Até o presente momento nada, todas as pessoas me mandavam mensagens ou ligavam sempre me dando força, conversando comigo, para tirar da cabeça pensamentos ruins. Em momento algum sofri preconceito, mas, veremos após eu sair  e a  vida voltar ao normal.

Como foi a reação das pessoas que tiveram contato com você, dias antes de ser declarado caso confirmado?

Todos, sem exceção, me deram apoio, uma palavra de conforto e sempre me acalmaram.

Ao sair do Hospital, você disse: “eu venci a Covid”! Qual a lição que você leva desta experiência?

A lição que levo para minha vida, parece clichê, mas, a vida é uma só, estamos aqui de passagem e temos de aproveitar tudo o que ela tem a nos proporcionar, não apenas pensar em dinheiro e trabalho, mas, sim, aproveitar o máximo com quem a gente ama e quem nos ama.

O contato com a doença lhe fez rever alguns planos? Conte-nos alguns a curto e médio prazo.

Sim, tenho de pensar mais na minha família, ficar com minha família, pois, sempre, mesmo estando em casa, no momento de folga, estou trabalhando e deixando minha esposa e meu filho de lado. Depois disso, minha família em primeiro lugar.

Qual seu recado para os leitores da Folha, após todo este enfrentamento pessoal?

Isso não é brincadeira, não, não é gripezinha ou resfriadinho. Isso derruba até o mais saudável, mesmo me cuidando de todas as formas, fui infectado.

Então, se cuidem, usem máscaras, álcool gel e se protejam, pois a vida é única. As contas atrasam, mas, depois colocamos em dia. E, se puder fique em casa.

Michel já está em casa, se recuperando ao lado da família
Imagens: Reprodução