“A ignorância é uma espécie de benção, se você não sabe, não existe dor”! A frase atribuída a John Lennon é uma verdade.
Hoje no almoço, ouvia o relato de um amigo, sobre um senhor de idade que vive numa das ilhas do Guaíba e nem sequer conhece Porto Alegre. Para ele, o mundo está e sempre esteve do mesmo jeito.
Duvido que este senhor esteja preocupado com a bandeira vermelha.
Mas, e sempre há um mas em tudo, antes de entrar em meu assunto, quero brindar-lhes com uma frase de Nelson Gonçalves: “a burrice é diferente da ignorância. A ignorância é o desconhecimento dos fatos e das possibilidades. A burrice é uma força da natureza”.
E vou lhes dizer, existem cultos burros e inteligentes ignorantes.
E é por isso que esta narrativa que vem tomando conta das redes sociais faz pessoas esclarecidas aplaudir atos como os tomados pelo Governador Eduardo Leite, na tarde de ontem (30).
Me preocupa, como democrata que sou ouvir uma frase, como a abaixo, do nosso governador:
“E aí, com nossas forças policiais, vamos exercer a fiscalização para cobrar obediência”.
Mas, vem cá! Voltamos à ditadura?
Ainda por cima, o cara de uma hora para outra extermina a cogestão com os municípios. E onde está o diálogo, tão pregado pelo governador, ao longo do ano?
Há algum tempo, proibi terminantemente manchetes sensacionalistas na Folha, em relação ao coronavírus a ordem foi mais direta, evitem o medo, deem a informação, mas busquem também aspectos positivos.
Como não praticamos frases do tipo “Rua Coberta lotada é o ninho de Covid-19 da serra” ou “hospital de Canela à beira do caos”, até por que são expressões mentirosas, acabamos perdendo alguns cliques e vimos eles parar em outras plataformas digitais. Azar!
A ignorância é muito lucrativa para os poderosos, mas a burrice tem a capacidade de reunir massas extremistas e raivosas de todos os lados. Esta última, por sinal é muito barulhenta e tende a ser ouvida, pois a burrice acha que tem razão em tudo.
A burrice não é democrática, porque a democracia tem vozes divergentes, instila dúvidas, e a burrice não tem ouvidos. A verdadeira burrice é surda e autoritária: quer enfiar burrices à força na cabeça dos ignorantes.
A sociedade está faminta de algum tipo de autoritarismo. A democracia é mais lenta que regimes autoritários, ainda que disfarçados sob o manto da democracia. Assim, apelos populistas, a invenção de “inimigos” do povo, divisão entre “bons” e “maus” surtem efeito.
A burrice dá mais ibope, é mais fácil de entender. A burrice dá mais dinheiro; é mais “comercial”.
Talvez seja por isso que as pessoas têm seus direitos individuais tolhidos dia a dia, em várias esferas da vida, e aplaudem de pé.
Eu não consigo entender o motivo de não poder sentar no banco da praça para matear com minha alemoa, mas posso usar este espaço para exercícios físicos.
Não entra na minha cabeça o motivo de a telentrega ser até às 23h e os restaurantes fecharem às 22h. O vírus é noturno?
Meu objetivo aqui é fazer você pensar.
Me responda, quem ganha com tudo isso que está acontecendo?
Será que o Estado não está se resguardando de situações que irão expor quão raso e deficiente é o seu serviço?
Até quando vamos aplaudir quem pensa que sabe, ou finge que sabe, o que é melhor para eu e você?
Neste meio tempo, não ouvi nenhuma notícia de reforço no sistema de saúde, nenhuma explicação de porque paramos tão cedo e chegamos em dezembro com o pior quadro de coronavírus no Estado.
Ou, foi politicagem na época de eleição e agora a brincadeira é séria, ou foi sempre politicagem?
São tantas perguntas sem respostas e tantas outras que não são feitas que não consigo entender quem aplaude de pé o aumento de restrições e os atos desta semana do governador Eduardo Leite.
Penso, logo existo, mas a ignorância nos poupa de muita dor.