Canela,

3 de julho de 2024

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Leo de Abreu

VIRE O MATE

Leo de Abreu

VIRE O MATE – Pois eu não gostei!

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Às vezes acontece, mas e quem é obrigado a gostar de algo, não é? Por que haveria de ser diferente com o nosso legado,  com a nossa tradição? Histórias são sucessões de fato. A interpretação de toda uma história por muito pode divagar. Agora, ninguém pode, ou ao menos não deveria, empurrar gosto de alguma goela abaixo.

Bueno, basicamente este é o assunto de toda semana por aqui. Defender o que é nosso culturalmente e questionar sobre posicionamentos que vão surgindo e nos colocam refletir sobre o que também é nosso.

Na semana passada, desde a última coluna neste espaço, um fato novo ocorreu causando imensa revolta no meio da gauchada. Foi um corte, um trechinho editado de uma fala em um podcast de humor de gente influente por aqui, fazendo piada sobre as crianças que declamam versos gaúchos por aí. Que imenso desserviço! Se não a criançada, quem vai perpetuar nossos costumes ao longo de mais mil anos?! Falar que é chato um piá declamando Jaime Caetano, Telmo de Lima Freitas e tal… ou o Chimarrão, de Glaucus Saraiva, bah! (esse trechinho aqui de baixo)

“Amargo doce que sorvo

Um beijo em lábios de prata

Tens o perfume da mata

Molhado pelo sereno… (…)”

É quase impossível ler os versinhos acima sem mentalmente a voz pausada e fina de criança não se projetar na nossa mente. Quem ousaria não aprovar?

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Agora, quem poderia não gostar? É proibido, será? São tempinhos complicados! Em particular eu fui atrás do vídeo pra entender sobre. Inclusive vi depois o vídeo de retratação também. É piada… piada com fundo de verdade por parte dos humoristas? Tanto faz, ainda é uma piada. Quem não tem piada na memória que ri só de lembrar e que não atinja algum outro serzinho que desleia essa coluna e feche o link! Era a voz de um personagem caricato falando de crianças inteligentes e que se achavam inteligentes… isso e depois dizia que pior eram as que declamavam e seus pais que as levavam a declamar. Novamente, grande desserviço? Sim! Tem que achar eles na rua e dar uma sumanta de pau pra fazer eles gostarem e respeitarem o tamanho midiático que eles tem? Bem capaz!

Que tal olharmos pra gente mesmo, e pensar em toda a tradição do estado do Rio Grande do Sul. Dá pra tontear de tanta coisa. Se não fosse GIGANTESCA desnecessário seria inclusive espaços pra falar sobre. Tu aí, gaúchão, de tudo tu gosta? Desde a cultura indígena dos sete povos até as boinas de tricot maiores que a cabeça? Desde a dança do Pezinho até os bailão de bairro que tocam Os Serranos misturado com catchaca de bandinhas? Porque tudo é Rio Grande. O antigo… o moderno… não se pode fugir!

Deixem que digam do que se gosta e o que se não gosta… tu, caro leitor, gosta da criançada declamando os versinhos? Que bem! Já ensinou algum ou sabe de algum? Ao apontar teu dedinho tu já fez a tua parte? Este deveria ser o principal, o que a gente mesmo faz. Muito mais importante do que quem desfaz. Vou mostrar um poema que marcou demais a minha infância. Colegas meus das primeiras séries sabiam de cor e sempre declamavam nos setembros e também nos outros meses. Fica a sugestão pra criançada de 02 a 90 anos.

Meu laço é feito de piola

Um barbante enrodilhado

Que tem rodilhas que alcaçam

Toda sala lado a lado

Quando estiro o meu laço

O pai fica tão faceiro

 E grita mais o guri que

vai ser um bom campeiro

Vou ser um bom laçador

Pois sou gaúcho de fato

já lacei duas cadeiras

e deu um pealo no  meu gato!

(Meu laço, Dimas Costa)

 IBIUUUUHUUU