Canela,

3 de julho de 2024

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Aeródromo de Canela poderia ou não receber voos comerciais?

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A resposta é sim, mas exigiria uma série de adequações e investimento. Saiba quais, na reportagem especial

Durante as fortes chuvas que atingiram o Estado do Rio Grande do Sul, entre abril e maio deste ano, o Aeródromo de Canela desempenhou um importante papel, recebendo doações de diversos pontos do Brasil. Mais de 100 aeronaves que pousaram em Canela, transportando doações, entre roupas, alimentos e medicação e materiais hospitalares, estima-se mais de 50 toneladas de solidariedade chegando pelos ares.

Hoje, a Região discute como retomar o turismo, sem um Aeroporto. Na apresentação do Aeroporto das Hortênsias, realizado em maio, a empresa Cápsula apresentou dados que estimam que cerca de 51% dos passageiros que desembarcam no Salgado Filho têm como destino a Região das Hortênsias, um número significativo.

A previsão mais otimista para a reabertura do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, é para a segunda quinzena de dezembro de 2024.

No entanto, é importante destacar que essa é apenas uma estimativa e a data real pode variar.

As obras de recuperação do aeroporto ainda estão em andamento e diversos fatores podem influenciar a data de reabertura, como condições climáticas, disponibilidade de materiais e mão de obra, e liberações burocráticas.

Em diversas falas, políticos de diversos níveis, de deputados a vereadores, cobram por investimentos no Aeródromo de Canela, apontando o mesmo como uma possível solução para que turistas de fora do Estado voltem a viajar para as Hortênsias.

Mas, seria possível o acanhado aeroporto de Canela desempenhar tal função?

Pista do Aeroporto de Canela – Foto: Reprodução/Aeroclube de Canela

Em busca de uma opinião técnica sobre o assunto, a reportagem da Folha procurou Marcelo Sulzbach, presidente do Aeroclube de Canela. Ele nos esclareceu que existe um estudo recente, com menos de um ano, mostrando quais melhorias seriam necessárias para que voos comerciais pudessem pousar em Canela e a resposta inicial é sim, seria possível, mas existem algumas questões a serem superadas.

“O Aeródromo de Canela possui diversas restrições físicas, meteorológicas e geográficas”, alerta Sulzbach, no entanto, com algumas adequações, poderia receber voos do porte de uma aeronave ATR 72, que companhias como Azul e Passaredo operam.

“Primeiramente, a pista teria que ser alargada, ele possui 18 metros e teria que medir 30 metros. Ainda, há necessidade de supressão de diversas árvores no setor norte e no setor sul, o pátio atual faria parte da operação e um novo pátio teria que ser construído”.

Após, procedimentos de pousos e decolagens por instrumentos precisariam ser confeccionados pelo DECEA – Departamento de Controle de Espaço Aéreo. “Feito isso, precisaríamos da iluminação da pista, pois a mesma não está funcionando porque cabos e lâmpadas foram furtados.  Teríamos ainda que restaurar o PAPI de uma das cabeceiras e instalar o mesmo equipamento na outra cabeceira”.  O PAPI (Precision Approach Path Indicator) é um indicador de rampa de planeio luminoso, alertando os pilotos se estão na trajetória ideal, alto ou baixo na rampa se aproximação.

Serviço de combate a incêndio e abastecimento das aeronaves precisam ser colocados no aeroporto, além da segurança, raio X e um novo terminal de passageiros. Marcelo ainda frisa que será necessário ver se o cercamento que está sendo realizado atende o padrão exigido para aeronaves maiores.

Também, seria necessária a instalação de uma estação meteorológica, um meteorologista para confeccionar as mensagens meteorológicas e a implementação de uma rádio AFIS para prover serviços de informação de voo às aeronaves.

180 dias seria um prazo razoável para todas as adequações, segundo Sulzbach, após todas as licenças ambientais realizadas, mas não se tem certeza de que todos os equipamentos necessários estariam à disposição para aquisição imediata.

Este investimento mínimo seria na casa de R$ 25 milhões, o que não é um valor expressivo se levarmos em conta que entre os interessados estariam os Município da Região, o governo do Estado e as companhias aéreas, além do trade turístico que necessita de soluções rápidas.

Pode existir entraves burocráticos, como a exploração do aeroporto, que hoje compete a Helisul. Eles teriam que manter a operação do aeroporto, ou repassar para outra concessionária como Infraero, por exemplo, ou até mesmo o Estado.

Um voo ATR 72 tem a capacidade de até 72 passageiros. Segundo Marcelo, a Azul tem interesse nessa operação, com até três voos diários entre Campinas e Canela, o que significaria, em termos de número de passageiros, um Boeing 737 ou um Airbus A320 cheio.

Aeronave ATR 72-600, modelo utilizado pela Azul – Foto: Reprodução/ Azul

No exemplo citado pelo presidente do Aeroclube, hoje, o turista que vem de São Paulo, leva em torno de uma hora e quarenta e cinco minutos até Porto Alegre. Entre embarque e desembarque, depois mais duas horas de estrada em uma condição normal, até a Região, o tempo total de transporte, excluindo os tramites de check-in e embarque, é algo em torno de 5 horas.

“Um voo de ATR entre acionamento e corte dos motores aqui em Canela vai levar algo em torno de duas horas e trinta minutos. A questão é que esses voos perdurariam, mesmo após a reabertura do Salgado Filho”, finaliza.

OU seja, não é uma tarefa fácil, mas seria realizável, com investimento e vontade política.

Voos maiores?

Já a adequação para operações de jatos (aeronaves com maior capacidade), iria requerer um aumento do comprimento de pista em torno de 500 metros, o que envolveria muitas desapropriações. Um estudo recente mostra qual seria a área abrangida pelo Aeroporto, conforme imagem abaixo.

O esboço citado por Sulzbach foi realizado pela Infra América, uma concessionária de aeroportos, que opera, inclusive, o Aeroporto de Brasília.