Um dos grandes jornalistas que este país já teve foi Ricardo Boechat. O que eu gostava nele é que muitas vezes ele desagradava os dois lados da história que era contada. Porque, em alguns casos, não existe um lado certo; a realidade é essa. E Boechat, quando necessário, comprava muitas brigas. Um clássico foi com Silas Malafaia, quando a célebre frase “Não vou dar palanque pra otário” ecoou por todo o país. Era Ricardo Boechat sendo coerente com seu propósito.
A coluna de hoje tem esta introdução e terá alguns atos/parágrafos bem definidos porque assim será necessário.
Ato 1: Precisamos entender o que é vulnerabilidade social
Você conhece a fundo o trabalho de uma entidade como a Casa Lar? Você já conversou com algum assistente social para saber das dificuldades do seu trabalho? Você sabe o que crianças que estão em casas de passagem como esta sofreram para estarem lá? Eu já estive na Casa Lar, eu já doei tempo (acredite, isso vale tanto quanto dinheiro) para ajudar entidades desse tipo, eu já conversei com diversos profissionais envolvidos com o cotidiano de pessoas vulneráveis socialmente. A pressão é gigantesca, existem graves responsabilidades e muitas obrigações. Quando se fala em sigilo, existe sim um motivo gigantesco e ele deve ser respeitado.
Ato 2: Entenda o que é notícia e o que é sensacionalismo barato
Todos os dias, quem está no ramo recebe mensagens como a da Casa Lar, que infelizmente foi levada adiante de forma leviana e irresponsável. O básico de quem trabalha com isso é checar, buscar mais informações e não ampliar até que se prove o contrário, ainda mais em casos de vulnerabilidade social. Redes sociais são importantes e merecem todo o crédito. Mas muitas vezes, gente que se utiliza delas acaba se valendo da histeria que faz para disseminar pânico na comunidade. Pergunto: você acha certo alguém simplesmente soltar no Facebook que uma bomba foi encontrada em uma escola quando não existia tal artefato colocado dentro de um cesto de lixo? Você acha certo alguém postar que ocorreu um assalto em uma loja no centro de Canela com sequestro de pessoas quando o que aconteceu na realidade foi uma tentativa de golpe telefônico? Eu não acho, e quem trabalha dando a informação correta depois tem que ter o retrabalho de desmentir as bobagens que esse tipo de gente escreve em busca de notoriedade que acha que merece ter.
Ato 3: O Otário à Procura de Palanque
Eu trabalhei 14 anos na Star Vídeo em Canela. Com muito orgulho, falo que fizemos história na cidade. Toda sexta-feira era uma loucura a procura pelos jornais locais. Nova Época, Folha de Canela, Integração e Jornal de Gramado. Todos vendiam muito bem em uma fase onde a credibilidade estava nas escritas e não nas redes. Colunistas como Marcão Viezzer, Mica, Lorival Bazzan, Alessandro Martins, Chico Rocha, Miron Neto, Webinha e tantos outros teciam opiniões polêmicas. Eu posso discordar de muito do que escreviam e até hoje alguns escrevem. Eu mesmo tenho certeza que muito do que escrevo não é corroborado por diversas pessoas. Mas ao menos eu coloco minha cabeça no travesseiro e durmo bem, pois a ideia é não prejudicar ninguém e não subir em um palanque para me aparecer em cima de mentiras ou desgraças mal contadas. É isso que hoje estamos vendo com a prisão de um sujeito que se vende como um justiceiro, mas que na realidade é alguém que busca desesperadamente um reconhecimento através de meios sorrateiros e sórdidos. Ele vai estar solto em breve, vai tentar convencer meia dúzia de que é vítima do sistema e vai achar mais outras “notícias” para se manter em evidência. Aí cabe a você dar mais um palanque para os otários a quem o saudoso Ricardo Boechat fazia suas homenagens. Eu estou fazendo isso hoje no meu espaço e confesso que não me orgulho nem um pouco. Mas as vezes é necessário, mesmo que eu não cite o nome do cidadão. Blogueiro esse que dizia, inclusive, trabalharia na prefeitura de Canela se certo candidato tivesse sido eleito. Garanto a vocês que algumas derrotas em eleições tem motivos óbvios e esse foi um deles. Parabéns aos envolvidos.