Nesta semana, tivemos mais uma comoção nas redes sociais. Uma casa antiga foi ao chão—uma residência clássica que sai de cena para dar lugar a mais um prédio. Os comentários seguem a mesma linha: nossa cidade está perdendo a identidade, e, em breve, não veremos mais as bucólicas e encantadoras casas que fizeram parte da memória local.
Sou um nostálgico por natureza. Tenho saudade de comprar figurinhas no Maçarico, sinto falta de comer um quarto de bife acebolado no Bifão e, às vezes, chego a sonhar com os gols que fiz em um campinho da Vila Suzana. Bons tempos, aqueles em que descia de carrinho de lomba aos finais de semana na Augusto Pestana (não tínhamos tantos carros). Momentos saudosos entre amigos, indo à Boate do Laje. Tudo era espetacular.
Fico pensando que tudo isso poderia voltar. Mas não pode. Aliás, eu poderia descer de carrinho de lomba na Augusto Pestana, mas a chance de ser atropelado por um SUV é gigante. Algumas empresas encerraram suas operações porque os donos quiseram mudar de ramo ou se aposentar. O campo de futebol não virou prédio, mas virou casa—e, daqui a um tempo, pode se tornar mais uma dessas construções. Sinto falta dos anos 80 e 90, sempre admito isso, mas não posso ficar preso nesse saudosismo. Os tempos são outros, e a realidade também.
A família dona do terreno que citei no primeiro parágrafo tem seus próprios planos de vida e financeiros. Seria injusto execrá-los pela decisão de negociar a casa. Podemos e devemos sempre ficar atentos às questões ambientais e legais, mas julgar alguém por exercer o direito sobre sua propriedade não nos leva a lugar nenhum. A propósito, a pessoa que postou fotos e lamentou que a casa virou prédio se beneficiou da visão estratégica de seu apartamento—que, ironicamente, foi construído onde antes havia uma casa na nossa cidade.
A bem da verdade, somos um pouco hipócritas na relação entre discurso e prática. Passamos a vida inteira reclamando e comentando sobre atos e comportamentos alheios, mas muitas vezes não agimos de maneira condizente. Desde utilizar um “gatonet”, até atitudes no trânsito e os famosos “jeitinhos brasileiros” para obter vantagens—e por aí vai. Aquele desconto que muitos pedem “sem nota” é errado.
Quando eu tinha restaurante, via muitas pessoas pedirem buffet a quilo e, depois, no calor do movimento, se servirem novamente sem passar na balança. Garanto que não foi esquecimento. Estou citando exemplos e deixo claro que não me considero um modelo de retidão nesta vida, mas sigo achando estranho quando discursos que parecem eloquentes em nada combinam com as práticas das pessoas. E seguimos em frente.