Canela,

13 de junho de 2025

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Projeções na Catedral de Pedra estão suspensas por tempo indeterminado

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Foto: Tiago Keller/@playtour.viagens

Imbróglio jurídico e administrativo afasta iniciativa privada e ameaça um dos principais atrativos turísticos de Canela

As tradicionais projeções mapeadas na fachada da Catedral de Pedra de Canela estão oficialmente suspensas por tempo indeterminado. A decisão é da empresa responsável pelo espetáculo Luminata, que operava o atrativo desde março de 2024. O motivo: insegurança jurídica sobre o uso da estrutura de projeção e do espaço público envolvido.

O fim das projeções representa uma perda significativa para o turismo local, uma vez que o espetáculo noturno era, nos últimos anos, um dos grandes atrativos gratuitos de Canela, reunindo milhares de turistas diariamente na Praça da Matriz, em frente à Catedral.

De onde veio o problema?
O impasse envolve três esferas distintas: o município, a iniciativa privada e a Igreja Católica.

A projeção na Catedral de Pedra teve início ainda durante a pandemia, como parte do evento Sonho de Natal, e rapidamente se consolidou como uma experiência turística de destaque na Serra Gaúcha. Inicialmente realizada com apoio da Secretaria Municipal de Turismo, a atividade acabou envolvida na Operação Cáritas, deflagrada pela Polícia Civil de Canela, que investigava irregularidades na contratação de serviços públicos. O então secretário de Turismo, Ângelo Sanches Thurler, chegou a ser preso no âmbito da operação.

Durante a apuração dos fatos, os projetores originais, instalados em frente à Catedral, foram apreendidos. Já a estrutura metálica de sustentação, como ficou decidido pela Justiça, é de propriedade privada, embora estivesse instalada no passeio público, um espaço que pertence ao município, sem uma concessão formal legalizada.

Mesmo assim, a gestão municipal anterior lançou a base metálica no patrimônio da Prefeitura e emitiu um decreto cedendo seu uso à nova empresa que assumiu as projeções, já com o nome de Luminata.

Acontece que a cessão não tinha respaldo legal: nem a base pertence à Prefeitura, nem havia autorização formal para o uso do espaço público. Isso gerou um ambiente de insegurança jurídica para a empresa atual, que decidiu paralisar as atividades.

Projetores próprios, mas problema externo
A empresa Luminata, responsável pelas últimas exibições, operava com equipamentos próprios adquiridos diretamente, sem relação com os projetores anteriormente apreendidos no âmbito da Operação Cáritas. Ainda assim, dependia da base física instalada em área pública para realizar as projeções, o que gerou o entrave definitivo.

As últimas apresentações realizadas foram a exibição em homenagem ao Papa Francisco, após sua morte, e o espetáculo visual do Canela Light Fest.

De quem é o quê?
O passeio público, onde está instalada a base dos projetores, é um espaço pertencente ao município. Já o templo religioso — a Igreja Nossa Senhora de Lourdes, conhecida como Catedral de Pedra — pertence à Mitra Diocesana, ou seja, à Igreja Católica, que detém inclusive os direitos de uso da fachada.

A empresa Luminata possui um contrato de exclusividade com a Mitra para uso comercial e artístico da fachada. Porém, com a insegurança jurídica envolvendo a estrutura de projeção, decidiu suspender temporariamente a operação.

E agora?
O caso escancara um erro grave da administração passada, que comprometeu uma das atrações mais queridas do público. Agora, o desafio fica para a atual gestão municipal, que precisa buscar uma solução legal e administrativa para regularizar o uso do espaço e permitir que a projeção — hoje suspensa — possa ser retomada.

Enquanto isso, Canela perde. Perde como destino turístico inovador, perde na experiência noturna de quem visita a cidade e, principalmente, perde na imagem pública de sua gestão de atrativos. Um exemplo de como a falta de planejamento e transparência pode comprometer até o que funciona bem.