Confusão na arquibancada, portões fechados e a lição que ninguém quer aprender
Eu, como praticante de esporte na cidade, responsável pelas transmissões esportivas e jornalista preocupado com a comunidade onde atuo, gostaria de estar aqui escrevendo sobre o grande campeonato que promovemos, sobre o futuro do nosso futsal desfilando sobre o parquet, ou sobre uma grande atuação, coletiva ou individual, de talentos que em breve estarão nas divisões principais de nossa cidade, estado ou quem sabe em uma liga nacional.
Mas não, tenho que escrever sobre a semifinal da discórdia, onde duas partidas do municipal de futsal sub 15 pode não acontecer, ou acontecer com portões fechados, já que houve uma confusão envolvendo atletas e torcidas, na última rodada da fase de classificação.
Sim, caro leitor, você não leu errado. Não foi na final da Libertadores de Futsal, nem no mundial da categoria. Foi aqui, no municipal de Canela, que vale um troféu de plástico e uma medalha de latão.
É verdade que a promoção de competições esportivas para jovens sub-15 enfrenta desafios significativos atualmente, e a percepção de que está mais difícil conversar com os jovens é um ponto crucial. Mas, qual o papel dos pais e das comissões técnicas no mundo atual?
Os pais são os primeiros modelos dos filhos e quando vemos pais exacerbados na arquibancada, com atitudes antidesportivas e algumas vezes até violentas, não é difícil perceber que algo está errado.
E os times? Vale a pena passar por cima do espírito desportivo para conquistar uma vitória? Não deveriam enxergar no esporte uma ferramenta para desenvolvimento do cidadão? Um espaço aonde o jovem vai aprender a ganhar, perder, trabalhar em equipe, entender situações coletivas?
Criticar o campeonato como um todo é fácil. Temos estrutura precária em Canela. Todos sabemos. Os integrantes do DMEL se viram como podem com o pouco recurso humano, estrutural e financeiro que possuem. Mas, estas condições entram dentro dos lares e dos vestiários, ao ponto de influenciar uma briga na arquibancada, ou que dois jovens se agridam dentro de uma quadra? Ou, pior, adultos xingando adolescentes durante a competição?
Antes mesmo de um treinador ensinar uma técnica, os pais têm o papel de incutir valores fundamentais como respeito, fair play, ética, persistência, trabalho em equipe e resiliência. Essas são a base para qualquer prática esportiva saudável. Sem esses pilares, o esporte pode se tornar apenas uma busca por vitória a qualquer custo, perdendo seu propósito educativo.
E aqui vai um testemunho de quem acompanha estas competições de perto, de fora e de dentro da quadra: alguns pais e treinadores são os primeiros a dar o mal exemplo.
Também não me venha com essa conversa de que isso só acontece em Canela. Acontece em todos os lugares, inclusive aqui ao lado, na cidade encantada chamada Gramado. Só que lá tem uma estrutura esportiva muito boa. Todos querem jogar e acatam o regulamento e determinações dos organizadores das competições, sob pena de eliminação ou suspensão.
Como em Canela a estrutura é precária, muitos acreditam que isso lhes dá o direito de invadir espaços com o dedo em riste ou promover confusões nas arquibancadas.
Caminhamos para criar um ambiente onde os pais preocupados com a formação dos seus filhos, seja esportiva ou como cidadãos, vão procurar outros lugares para levar nossos jovens atletas. E aí, perderemos todos, as competições vão enfraquecer, os times locais ficarão sem recursos humanos e as escolinhas daqui sem alunos.
É este o esporte que nós, pais canelenses queremos criar? É este o esporte que os times de Canela querem fomentar? É este o esporte que os treinadores e professores desejam?
Todos temos nossa parcela de culpa neste processo e temos a chance de mudar isso a cada nova partida esportiva, ao invés de criar mais confusão.
E o poder público?
Bom, o poder público é igual submarino, de vez em quando boia, mas foi feito para afundar e ainda, frequentemente, lança um torpedo para afundar alguém.
A estrutura esportiva canelense é de dar dó, uma das piores do Estado e da Região, já falei sobre isso. Eu nem escrevo mais dos problemas sérios que poderiam acontecer nas plagas de Canella para não dar ideia para os malucos que podem querer executá-las, mas os exemplos estão aí, basta ler as notícias de outros municípios.
Este processo da melhoria da nossa estrutura é lento e irritante. Quem sabe um dia esteja eu, aqui, elogiando os investimentos e dizendo: agora sim, aí que eu me refiro. Mas, por enquanto, o compasso é de longa espera.
Agora, levar o assunto para a Câmara de Vereadores, para ser debatido por quem não conhece o ambiente esportivo de Canela, é uma piada de mal gosto.
Como disse, acompanho o esporte de longa data por aqui, dentro e fora das quadras. Neste tempo todo, vi quatro vereadores por lá, em situações bem específicas, quase a cada ano bissexto. Salvam-se a Grazi, o Caputo, o Adir e o Roberto Grulke, que de vez em quando aprecem em uma ou outra situação.
Mas, vale o registro que fiz ao vivo na última segunda: vereador indica, vereador sugere, vereador questiona, mas vereador não manda fazer nada, porque ele não executa, ele parla. E a maioria parla mal e sobre o que não tem conhecimento.
Sugiro aos nobres edis se envolver mais na causa e, se por acaso, não tem o regulamento desportivo canelense, me peçam que eu passo pelo WhatsApp.
Que possamos ter a final com público e grande festa
Enfim, na semana que vem teremos a grande final do Campeonato Municipal Sub 15 de Futsal, já que hoje à noite a semifinal acontece de portões fechados.
Que na final, tenhamos um grande evento, com festa e muito talento no trato com a bola pesada.
E, como diz a canção: depende de nós, quem já foi ou ainda é criança….