Enquanto a sociedade de Canela acompanha, com justa preocupação, a escalada da violência urbana — marcada por homicídios, incêndios criminosos e ações cada vez mais ousadas do tráfico de drogas —, há um debate urgente que segue sendo empurrado para debaixo do tapete: o papel do sistema prisional nesse contexto.
A Polícia Civil tem feito um trabalho consistente no combate à criminalidade local. Mesmo com limitações operacionais e burocráticas, os agentes têm agido com coragem e inteligência para desmontar pontos de tráfico e prender criminosos. Mas o tempo do Estado é lento. O crime, ao contrário, é ágil, articulado, “organizado”. E não raramente, parte das ordens para execuções, atentados e movimentações logísticas sai de onde deveria haver controle absoluto: as celas dos presídios.
Sim, o tráfico de drogas em Canela — como em tantos municípios do interior — é comandado em muitos casos de dentro das casas prisionais, inclusive por apenados já cautelados. Como? Por meio de aparelhos celulares clandestinos, visitas que funcionam como elo com o mundo externo e, sobretudo, por uma estrutura estadual de fiscalização falha e antiquada. A SUSEPE e o Governo do Estado estão dando a resposta à altura?
A pergunta que precisa ecoar na sociedade canelense é: até quando manteremos um presídio no coração da cidade, a poucos metros de escolas, residências e vias de intenso tráfego? É lógico que a localização atual dificulta o monitoramento adequado. Em um tempo em que já se fala em tecnologia 5G, ainda convivemos com casas penais onde bloqueadores de sinal não funcionam, e o fluxo de visitas é difícil de controlar.
Canela tem sido forçada a receber presos faccionados de outras cidades, elevando o risco local e facilitando a articulação do crime. O presídio, com poucas vagas e já interditado judicialmente, se tornou uma peça obsoleta em um xadrez cada vez mais perigoso.
A construção de uma nova casa prisional, em local afastado, com estrutura moderna e protocolos de controle eficientes, não pode ser mais adiada. Esse debate precisa ser público, participativo e regional, porque o problema não é só de Canela — mas recai sobre ela com força.
Enquanto a cidade se mobiliza para transformar o Parque do Palácio em um espaço de convivência e segurança, precisa também exigir que o Estado faça sua parte em outro sentido: devolver à sociedade o controle sobre os territórios onde hoje o crime impera.
A criminalidade está organizada. E a sociedade, vai se organizar quando?