Canela respira esporte. Nas quadras, nos tatames, nos boxes e academias da cidade, o que se vê é uma geração de atletas, técnicos e organizadores que insistem em manter o esporte vivo. Insistem, sim — porque o verbo mais apropriado é resistir. E resistem muitas vezes sem apoio, sem estrutura e, sobretudo, sem o reconhecimento institucional que merecem.
O esporte canelense vai bem, obrigado — mas não por causa do poder público. Vai bem apesar dele.
É inegável o esforço pessoal de centenas de pessoas que tiram do próprio bolso o que o município não oferece: transporte, material, uniforme, alimentação, inscrição em campeonatos. Pais, mães, voluntários e professores transformam paixão em resistência, e é essa persistência que garante o funcionamento de escolinhas de futsal, projetos de jiu-jitsu, núcleos de vôlei, grupos de crossfit, iniciativas no fisiculturismo e tantos outros movimentos esportivos que se destacam em Canela e fora dela.
É justamente por esse cenário que a chegada da Supercopa Casa Blanca dos Campeões merece aplausos. Uma competição que une os campeões e vices das principais ligas da região — Três Coroas, Gramado, Cambará, São Chico e, claro, Canela — em uma disputa de alto nível técnico, durante cinco sextas-feiras consecutivas, no mês de agosto. Uma grande ideia do Departamento Municipal de Esportes de Canela, que acerta em cheio ao valorizar o mérito esportivo de quem já venceu.
A Supercopa, aliás, é um alento em meio a tantas ausências. Canela ainda não tem uma Secretaria de Esporte, tampouco um Conselho Municipal atuante de verdade. Os campeonatos locais sofrem com estruturas precárias, lentidão na resolução de conflitos e, ultimamente, muita reclamação quanto à arbitragem e à condução disciplinar dos torneios. O que se espera de uma competição esportiva é seriedade, respeito às regras e aplicação justa das punições — o que, infelizmente, não vem sendo plenamente observado nas últimas rodadas das competições municipais.
Por isso, se queremos crescer — e temos condições para isso —, é preciso mais do que boas ideias isoladas. É preciso institucionalidade. Um sistema esportivo bem estruturado, com orçamento, planejamento e fiscalização, capaz de garantir que o esporte seja ferramenta real de formação cidadã, não um campo de vaidades ou impunidades.
O esporte ensina, integra, disciplina e transforma. E Canela tem o talento — falta a política pública à altura desse talento.