No Dicionário Aurélio, obviedade é definida como:
obviedade
substantivo feminino
- Qualidade do que é óbvio.
- Aquilo que é evidente, claro, que não oferece dúvida; evidência, trivialidade.
Em resumo: é o que salta aos olhos, tão claro que dispensa explicações.
Por muitas vezes, nos furtamos de dizer o óbvio por acreditar que todos têm a mesma visão da situação, mas não é bem assim. No caso dos indígenas que comercializam produtos irregularmente no entorno da Catedral de Pedras de Canela, muita coisa óbvia ainda precisa ser falada e não dispensa explicações.
É necessário começar pelos indígenas, que, em sua maioria, são sim descendentes de algum povo originário, mas que não pertencem a nenhuma das aldeias instaladas em Canela, que são duas, da etnia Kaingang (localizada no ICMBio) e da etnia Mbyá Guarani, na localidade de Bugres.
Pelo contrário, estes indígenas moram por alguns meses em casas alugadas, no Centro de Canela, ficam por aqui em período de alta temporada para vender suas quinquilharias e no verão se deslocam para outros Municípios, como Capão da Canoa, com o mesmo objetivo.
Agora, aqui vai outra obviedade, na ação de coibição de comércio irregular, realizada na Catedral na manhã desta segunda, não foi apreendido nenhum artesanato indígena, isso porque eles não vendem este tipo de produto. Eles vendem mantas e uma série de quinquilharias em um camelódromo a céu aberto.
Então, se este indígena não tem ligação com as aldeias da cidade e seus produtos não são artesanato com ligação à cultura dos povos originários, não cabe falar em oferecer um espaço para eles venderem suas bugigangas.
Por mais engraçadinho que seja um Labubu, made in China com escala em Ciudad del Este, trata-se, ao fim e ao cabo de comércio normal, portanto, devendo ter procedência, abrir empresa, alvará, nota e pagar impostos. E mais: não pode ser no passeio público, pois isso é proibido por Lei.
Estes comerciantes irregulares, do entorno da Catedral, nem mesmo querem um outro espaço, pois sabem que suas quinquilharias não são artesanato.
Dito isto, vale ressaltar que a Prefeitura de Canela prepara um plano de valorização da cultura indígena, no qual está previsto um espaço público central para a comercialização de itens autênticos das culturas representadas pelas etnias instaladas em Canela. Os líderes das aldeias já conversam com o poder público para este fim e estão todos em sintonia.
Outra obviedade é que o Estado tem sim que coibir estas ações por diversas razões, desde ocupação irregular de espaço público, comércio irregular, achaque aos turistas e ainda poluir visualmente nosso cartão postal.
E ainda tem quem diz que a Polícia tem que prender ladrão e não indígena. Primeiro que nem indígena, nem ninguém, tem que avançar em fiscais no cumprimento de seu trabalho. Segundo que dar uma de louco e querer sair no braço, sozinho, com a Força Tática é de uma burrice sem tamanho.
Convenhamos que reclamar da Polícia de Canela, com os índices de resolução de crimes que ela tem, é até de mau gosto.
Por último e não menos óbvio, vale registrar o baita trabalho realizado pela equipe da Secretaria de Trânsito e Fiscalização, assim como a PGM de Canela, em encontrar uma forma legal de combater este problema que se beneficiava da legislação, disfarçado de cultura.
Vale também o registro da presença da Receita Federal e do, sempre, baita trabalho da Polícia Civil e da Brigada Militar.
Para quem conhece o óbvio, parece ser chato, mas, na maioria das vezes, ele ainda precisa ser dito.