Nos últimos dois anos já fui chamado de tudo. Além das ofensas genéricas, ganhei títulos como “bolsonarista”, “petista enrustido”, “puxa-saco de prefeito” e outras pérolas dignas de rodapé de grupo de WhatsApp.
Várias vezes me indispus com amigos — pessoas que, na minha cabeça, eram esclarecidas — por postarem vídeos claramente manipulados, com cortes que distorciam o contexto original da fala de quem eles queriam crucificar. E aí vinham os “elogios”. A real é que, pra muita gente, o que importa não é a verdade, mas a confirmação da própria opinião. O resto? Que se dane.
Mas isso todo mundo já sabe. O Chico, inclusive, escreveu uma bela coluna sobre a operação e os desdobramentos envolvendo o camelódromo montado irregularmente nas calçadas ao lado da nossa Catedral de Pedra. A cena era constrangedora — e não só pela ocupação em si, mas pela enxurrada de abordagens indesejadas: cotas, fotos, passeios, refeições, produtos coloniais e mais um catálogo inteiro de “experiências locais”. Quem passava por ali e tinha o mínimo de atenção ficava abismado. Era uma mistura de Porto Seguro com Copacabana, semana do Frevo e feira de bugigangas da China. Faltaram só os biscoitos Globo, guarda-chuvas girando e tatuagens de henna.
Mas voltemos ao título. Tudo o que aconteceu na manhã de segunda-feira foi filmado — boa parte pela imprensa que estava lá. A Folha, claro, fazia a cobertura. Eu também estava, pela Rádio Clube. A treta maior começou quando um dos abordados (sim, eles também foram abordados — quem diria!) tentou agredir um fiscal. O sujeito foi contido, resistiu, foi imobilizado e algemado. Em nenhum momento levou soco, chute, joelhada ou qualquer outro tipo de agressão que tentaram imputar aos policiais militares presentes. Eles estavam, vejam só, fazendo o trabalho deles.
Mas aí apareceu o vídeo — editado, claro — filmado por uma figurinha carimbada que adorava intimidar quem passava por ali e não curtia o comércio ilegal. Coincidência ou não, o vídeo foi parar em portais com manchetes sensacionalistas e inverídicas. Portais que, ironicamente, vivem criticando vídeos editados e fake news. Mas só as fake news que não servem ao viés deles, né?
Logo após a postagem, veio a enxurrada de comentários: “Rio Grande do Sul lixo”, “Espero que da próxima vez não precisem de ajuda nas enchentes” — e uma coleção de impropérios contra quem tentava explicar o que realmente aconteceu.
Sinceramente, acredito que muita gente compartilhou o vídeo com boas intenções. Ele foi editado e tirado de contexto, o que naturalmente gera empatia. Já vimos inúmeros casos de abuso por parte de quem deveria proteger o cidadão. Mas naquela manhã, especificamente, isso não aconteceu. E há dezenas de testemunhas. Pena que a palavra delas não vale nada pra quem já decidiu que a verdade é inconveniente. O que importa é o viés da fonte. O resto? Irrelevante.
Finalizo desejando força e resiliência à equipe do secretário Adriel Buss e seus agregados. Vão precisar. Os indígenas que decidiram montar um camelódromo no ponto mais nobre da cidade não vão desistir tão fácil. Articulados eles são. E sabem editar vídeos como poucos.