Pode parecer título confuso, mas não é exagero. Há algum tempo, dizíamos que quem bebia da água de Canela acabava voltando. Hoje, talvez essa pessoa não goste da nossa água — isso se conseguir bebê-la. Pode não ter água na torneira, pode ficar presa no trânsito porque a RGE resolveu trocar postes em horário de pico, ou pode simplesmente não chegar.
Fato é que Corsan e RGE são campeãs em gerar problemas para os canelenses: ora uma, ora outra, ou as duas juntas.
Recebi o relatório final da comissão da Câmara de Vereadores, através do dedicado vereador Rodrigo Rodrigues. O documento é, em grande parte, uma ratificação das reclamações da comunidade em relação à Corsan. Foi encaminhado ao Ministério Público, mas duvido que haja resposta rápida e satisfatória. Não por falta de vontade do MP, mas porque o sistema é lento, amarrado e burocrático, como quase tudo o que é público neste país.
E não tem nada a ver com privatização. Telefonia e internet, por exemplo, funcionam bem: se você não está satisfeito, muda de operadora. Com luz e água não há escolha. Ou você paga para a Corsan e para a RGE, ou fica sem. Esse é o problema: o monopólio.
Um exemplo: no loteamento Edgar Haack, a Corsan instalou há pouco tempo uma caixa d’água. As casas, no entanto, seguem sem água na torneira, apesar de já terem hidrômetros. Para piorar, um morador recebeu conta de mais de R$ 1 mil, cujo valor principal era a abertura e conserto de pavimentação em rua de chão batido. Procurou este colunista, que entrou em contato com a companhia. A resposta: foi um erro, bastava o morador ir até o escritório para regularizar. Resultado: ele perdeu tempo, precisou pedir dispensa no trabalho, gastou dinheiro — e continua sem água.
E esse é só um caso, entre tantos: falta d’água em vários bairros, esgoto cloacal tratado de forma precária, ruas esburacadas sempre que a Corsan intervém. Isso quando não chegam a cobrar contas de pessoas já falecidas — como aconteceu com meu avô, morto há mais de 40 anos.
Já a RGE parece se dedicar a trancar o trânsito de Canela, quase sempre durante o dia, e de preferência em horários de pico. Alguém lá deve achar graça da raiva que a gente passa. Uma fonte confiável me contou que os serviços não são feitos à noite nem em madrugadas de domingo, quando o fluxo é menor, porque a empresa não quer pagar hora extra nem adicional noturno. Mais barato parar a cidade inteira durante a semana.
Vale lembrar: a Corsan é fiscalizada pelo Município. Cabe à Prefeitura multar e até encerrar o contrato, se necessário. Empurrar o problema para o MP é terceirizar responsabilidade. E me espanta ver o Município — tão rigoroso para multar contribuintes, apontar danos ambientais em detalhes mínimos, posar de guardião do verde e do Código de Posturas — se mostrar um gatinho diante da Corsan.
Quanto à RGE, apesar de ser regulada pela ANEEL, agência nacional distante da nossa realidade, também depende de autorização municipal para executar serviços. O poder de fiscalizar existe, mas não é usado.
Após esta longa coluna, você deve estar pensando: e agora, quem poderá nos defender? A resposta é dura: de boas, ninguém. Mas quem deveria? A Prefeitura Municipal de Canela. No caso da Corsan, a Secretaria de Meio Ambiente. No caso da RGE, a Secretaria de Trânsito e Fiscalização.
Se Corsan e RGE são privadas, a forma mais eficaz de chamar atenção é a mesma aplicada ao contribuinte: multa. Quando dói no bolso, o problema se resolve rápido.