Poderia fazer uma coluna de cobrança ou expondo fatos, como já fiz outras vezes, mas hoje me dirijo ao meu leitor para relatar um sentimento.
Já pensei muitas vezes em abandonar a cobertura esportiva em Canela. Principalmente nas transmissões ao vivo. A falta de condições, tanto para a prática do esporte quanto para o nosso trabalho, desanima. Se o poder público não tem pressa nem interesse em melhorar, por que eu deveria ser o “chato” que cobra o básico?
Cheguei a cogitar até mesmo retirar o meu time, o Peleadores Futsal, das competições. Depois de um embate jurídico com o DMEL, que terminou sem resposta dentro do prazo, ficou clara a lentidão e a falta de seriedade que rondam a gestão do esporte local.
Sei que a administração fala em um novo ginásio. Tomara que venha, mas é um futuro distante — e o presente segue sendo o Carlinhos da Vila. Muitas vezes, antes de uma transmissão, precisei correr atrás de ferramentas emprestadas para consertar a house, estragada durante o recreio escolar. Mas a culpa não é dos alunos. Assim como a escola ocupa a quadra do esporte, o esporte ocupa a escola dos alunos. A culpa é da Prefeitura, que nunca deu ao esporte canelense a estrutura que ele merece. E aqui eu falo desde sempre, de todas as administrações.
A diferença de quem leva a sério
Essa semana recebi um release da Prefeitura de Gramado: a primeira divisão de futsal deles se chama Copa Topper. Isso mesmo: naming rights de uma grande marca esportiva. Enquanto isso, em Canela, seguimos improvisando, quando muito.
Não é coincidência que tantos atletas canelenses joguem em Gramado. Chuto que 50% dos atletas dos campeonatos gramadenses vizinha vieram daqui. Vão para lá porque encontram estrutura — e porque lá o esporte é, literalmente, levado a sério. O slogan estampado na divulgação deles é: “Aqui o esporte é levado a sério”. Dói reconhecer, mas é a pura verdade.
Quando a bola rola, a paixão resiste
Ontem tivemos a final do Futsal Master, categoria para atletas a partir dos 40 anos. Poucas equipes, mas grandes jogos. O futsal nessa idade é bonito, disputado, e a confraternização no fim foi o coroamento da competição.
E aqui faço justiça: não é fácil estar à frente do Departamento de Esportes. Discordo de muitas decisões do diretor Marcelo Drehmer, mas reconheço o esforço. Não dá para exigir milagres em uma cidade que há anos relega o esporte a segundo plano. Assim como a cultura, o esporte também não é levado a sério em Canela.
Mas, com o apoio da iniciativa provada e a cada campeonato bem concluído, a cada atleta comemorando, a cada torcida vibrando, eu renovo minha motivação de continuar. Vem aí a Série Ouro, o Sênior, o vôlei, além dos torneios feminino e de futebol 7, e tenho certeza de que a maioria — sempre há exceções — vai honrar a camisa e fazer bonito.
Um adendo necessário
Preciso registrar: neste ano, com exceção do campeonato Master que transmitimos somente com recurso privado, todas as transmissões esportivas contaram com o apoio da Prefeitura, através da Secretaria de Governo e do Departamento de Comunicação. Somente com esse suporte foi possível levar ao ar todo o conteúdo que produzimos.
Como jornalista esportivo e como diretor da Folha, fico feliz e agradecido. Esse apoio também é uma forma de incentivar o esporte. Mas penso que o alto escalão da Prefeitura — especialmente quem define prioridades e a Secretaria de Educação, que hoje abriga o esporte — precisa repensar seu posicionamento. Apoiar a transmissão é importante e inegociável, mas estruturar o esporte de verdade é essencial.
O esporte sobrevive
Não tenho certeza se um dia veremos em Canela uma foto de abertura de campeonato com um slogan como o de Gramado: “Aqui o esporte é levado a sério”, assinado por uma grande marca.
Mas tenho certeza de uma coisa: o esporte em Canela sobrevive porque quem gosta dele — atletas, dirigentes, torcedores e comunicadores — segue levando a sério. Mesmo quando o poder público insiste em não levar.
A cidade que tinha
O momento é preocupante. Corremos o risco de transformar Canela na cidade que tinha, que tinha cultura, que tinha um teatro, que tinha esporte, que tinha participação popular e envolvimento comunitário.