Olá leitores da Folha de Canela!
Para quem ainda não me conhece, meu nome é Eliza Schwantz. Trabalho há mais de um ano aqui na Folha, compartilhando com vocês todas as notícias da nossa região. Hoje venho aqui escrever minha primeira coluna – e espero que seja a primeira de muitas!
Para marcar essa nova etapa, trago uma experiência recente que me provocou reflexões interessantes. Ontem participei do encerramento de um grupo reflexivo de gênero criado pela juíza Simone Chalela, a quem quero parabenizar pelo trabalho incrível. Uma dúvida permaneceu após o encontro: será que esses homens realmente mudam ou apenas cumprem obrigação para não serem presos?
Eu já estive na militância feminista, inclusive como diretora da União Brasileira de Mulheres, e depois me afastei desse espaço por vários motivos. Estar nesse evento me trouxe de volta um certo ânimo, porque vi que a luta pode se renovar de diferentes formas.
A fala da juíza deixou claro que a desigualdade de gênero não é algo isolado, mas uma construção histórica e social. Durante séculos, vivemos em sociedades patriarcais que excluíram as mulheres dos espaços de poder. Esse passado ainda se reflete no presente, seja em músicas que romantizam a posse sobre a mulher, seja em comportamentos machistas tratados como “normais”. Quando um homem acredita que a mulher lhe pertence, qualquer escolha dela pode se tornar motivo de violência.
As perguntas feitas no encontro foram diretas: quem já sentiu medo de sair à noite? Quem já deixou de usar uma roupa por receio de assédio? Quem já se sentiu insegura com o próprio corpo? As mulheres assentiam em silêncio, reconhecendo cada situação. Os homens permaneciam calados. Esse contraste mostra que ainda carregamos sozinhas o peso da desigualdade.
Mesmo assim, houve relatos que chamaram atenção. Um participante disse que gostaria de voltar ao grupo como convidado, não mais como agressor, para aprender ainda mais. Outro percebeu que atitudes consideradas corriqueiras também eram formas de violência. Esses relatos ganham força quando olhamos para os dados: em Canela, os pedidos de medidas protetivas caíram de 412 no primeiro semestre de 2024 para 259 no segundo. Em 2025, até agora, já somam 223. É uma curva de queda, sinal de que pelo menos alguns homens estão saindo de lá transformados.
Vale lembrar: as medidas protetivas afastam o agressor, impedem o contato com a vítima e, quando necessário, os retiram do lar – independentemente de quem seja o dono da casa. Essa é a prioridade da lei: a vida e a segurança da mulher. E caso o agressor descumpra a medida, pode ser preso em flagrante. Ou seja, o grupo reflexivo não é um espaço “opcional”, mas parte de uma rede maior de proteção e responsabilização.
Não é ingenuidade acreditar que todos mudem, talvez nem a maioria. Mas iniciativas assim demonstram impacto. A mente é como o corpo: precisa de treino. Se esses grupos conseguem abrir espaço para reflexão, mesmo que lenta e parcial, cada passo importa e pode significar vidas mais seguras e relações mais justas.