Canela,

14 de outubro de 2025

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OPINIÃO FORTI

Márcio Diehl Forti

A Novela Sem Odete Roitmann!

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Ontem à noite, lá estava eu em frente à televisão, pronto para curtir meu combo de segunda-feira: sessão da Câmara de Canela seguida por Vale Tudo. Fazia tempo que eu não acompanhava uma novela, mas a nostalgia bateu e resolvi assistir aos últimos capítulos do folhetim da Globo.

Na Câmara, tudo indicava uma sessão tranquila. Só que, momentos antes do início dos trabalhos, uma notícia caiu como bomba entre os vereadores e a comunidade: o prefeito Gilberto Cézar havia acabado de revogar a proposta de desapropriação do espaço Ingool, após uma reunião com pais de alunos da escola Ingo Lied e representantes da instituição.

Vamos ao roteiro dessa novela “do Canela”: A Associação Educacional Cidade das Flores (AECF) mantém escolas em Canela há mais de dez anos, incluindo a Ingo Lied, inaugurada em 2015 no espaço onde antes funcionava a Academia Ingool. A estrutura foi adaptada e, desde então, o trabalho vem sendo considerado satisfatório pelos pais. A AECF também atua em cidades como Tramandaí e Três Cachoeiras.

No entanto, a relação entre a AECF e os proprietários do prédio Ingool — a família Felippetti — se deteriorou com o tempo. Hoje, há uma disputa judicial em instâncias superiores. Os donos do imóvel querem a saída da escola, e isso não é novidade. No ano passado, houve uma tentativa do governo, então liderado por Constantino Orsolin, de comprar o espaço com recursos da CORSAN e transformá-lo em Ginásio Municipal. A ideia não foi adiante.

Conversei longamente com a professora Berenice Felippetti e sua filha Mariela sobre o posicionamento da família. Até a tarde de ontem, elas não haviam recebido nenhum ofício formal sobre a desistência da desapropriação. Berenice afirmou, mais de uma vez, que a estrutura da escola Ingo Lied não oferece condições adequadas para o bem-estar dos alunos. Além disso, deixaram claro que o espaço está alugado para a escola contra a vontade da família — embora dentro dos trâmites legais — e também funciona como ginásio esportivo, locado para terceiros.

A proposta da família é negociar o espaço com o poder público, mantendo-o voltado à educação e ao esporte. Elas explicaram que não há mais relação com a AECF e que, assim que possível, pretendem romper qualquer vínculo com a instituição. Berenice, com sua experiência no setor público, acredita que o melhor caminho seria a prefeitura adquirir o imóvel e ampliar a oferta de vagas na educação infantil. Segundo a família, ainda existe a possibilidade de construir um novo prédio de 800 metros quadrados no mesmo terreno, que é bem localizado e pode ter uma operação promissora.

A verdade é que estamos falando de um espaço privado, alugado por uma instituição privada que atua com filantropia e presta serviços ao poder público. A situação jurídica é delicada para a comunidade. A reivindicação da família é legítima: é direito deles decidir o destino do próprio patrimônio. Claro que tudo deve respeitar a lei, mas a insegurança sobre o futuro é evidente.

A coisa está tão esquisita que, na sessão da Câmara, os vereadores Nene Abreu e Cabo Antônio, da oposição, comemoraram a decisão do governo, enquanto os vereadores da base pareciam constrangidos. O presidente Felipe Caputo — que tem um filho matriculado na escola — criticou a forma como todo o processo foi comunicado. Lucas Dias destacou a importância da escola, mas ponderou que, se amanhã ou depois o espaço for demolido para dar lugar a duas torres de prédios, não haverá muito o que fazer. Grazi Hoffmann e Rodrigo também demonstraram desconforto.

Na minha opinião, o governo “queimou a largada”. Não duvido das boas intenções, nem da ideia de investir em educação numa cidade que cresce acima da média. Canela precisa, sim, de novas escolas e espaços esportivos. O Ingool seria uma excelente oportunidade para isso. Mas muitas pontas deveriam ter sido amarradas antes do anúncio. Os pais têm toda razão em se preocupar com o futuro e o bem-estar dos filhos. Adaptar crianças pequenas a novos ambientes não é tarefa fácil. E há ainda o corpo docente e todo o ecossistema que envolve uma instituição educacional.

Por outro lado, é preciso compreender o ponto de vista da família proprietária, que já deixou claro que não quer mais a escola funcionando ali, nos moldes atuais.

Ao fim de tudo, posso dizer que essa novela ainda vai render muitos capítulos. Seguiremos atentos — e eu, provavelmente, voltarei a escrever sobre o assunto. O espaço está aberto para manifestações do poder público, dos pais e da Associação Educacional Cidade das Flores.

Ah, e diferente de Vale Tudo, não vejo nenhuma Odete Roitmann nesse enredo. Mas acredito piamente que, até chegarmos a uma solução, ainda teremos muito suspense, drama e, quem sabe, um final feliz.