Atestado do Hospital Geral afirma que cabe à Secretaria de Saúde de Canela solicitar a vaga; secretário diz que o processo depende de disponibilidade nas clínicas e contato do próprio hospital
A família de Jerrylee Santos de Brito, morador de Canela e paciente renal crônico, busca há semanas uma solução para que ele possa deixar o Hospital Geral de Caxias do Sul, onde está internado desde o início de setembro.
O jovem, de 26 anos, está em estágio terminal crônico e depende de hemodiálise três vezes por semana para sobreviver. O impasse está na falta de vaga em uma clínica de diálise, o que impede a alta hospitalar.
Um atestado emitido pelo Hospital Geral em 9 de outubro de 2025, assinado pelo médico Felipe Sordi Rost, confirma que todos os trâmites por parte do hospital já foram realizados e que o paciente encontra-se em condições clínicas estáveis, apto a seguir o tratamento de forma ambulatorial — desde que seja garantida a vaga em clínica de hemodiálise.
“O paciente apresenta-se em bom estado geral e estável. Está realizando diálises todas segundas, quartas e sextas. Encontra-se, portanto, em plenas condições clínicas para transferência a serviço de hemodiálise de referência a ser solicitado pela Secretaria Municipal de Saúde de seu município de origem, a dizer Canela”, diz o documento.
O texto reforça que a responsabilidade pela solicitação da vaga é do município de residência do paciente:
“De parte do Hospital Geral, todos os trâmites necessários já foram realizados (…). Fornecemos o documento que serve para que a família possa apresentá-lo a qualquer instância necessária que possa agilizar o início da diálise ambulatorial do paciente, seja no setor de serviço de referência de Canela ou em Porto Alegre.”
O médico ainda destaca que o hospital não deseja manter o paciente internado por mais tempo que o necessário, para preservar sua saúde física e mental.
Secretaria de Saúde diz que hospital deve buscar a vaga
O secretário municipal da Saúde de Canela, Jean Spall, confirmou à Folha que a situação de Jerrylee é delicada, mas afirmou que o processo de encaminhamento depende do Hospital Geral e da disponibilidade de vagas nas clínicas de diálise.
“O hospital não libera o paciente enquanto não houver vaga em clínica de hemodiálise. Ele está de alta, sim, mas não pode sair sem essa estrutura. O contato com as clínicas é feito pelo próprio hospital. Infelizmente, o sistema está colapsado, e há mais demanda do que vagas em todo o Estado”, explicou.
Spall afirmou ainda ter entrado em contato com a direção do Hospital Geral e reforçou que Canela não tem autonomia para criar vagas em hemodiálise, pois o serviço é regionalizado.
Hospital e município se contradizem
Na prática, o caso expõe uma divergência de responsabilidades entre o hospital e a Secretaria Municipal de Saúde.
Enquanto o Hospital Geral afirma que a solicitação da vaga deve ser feita pelo município de Canela, o município sustenta que é o hospital quem deve intermediar o contato com a clínica, aguardando a liberação de uma vaga pelo sistema estadual.
Enquanto o impasse persiste, Jerrylee segue internado há um mês, mesmo com alta médica, em risco de infecção hospitalar e desgaste físico e emocional da família. A Defensoria Pública acompanha o caso.