Converso com muitos amigos colorados e tentamos, sem sucesso, entender o que acontece com o Internacional. São anos de desilusões: derrotas dolorosas, campanhas medíocres e elencos abaixo da crítica. Dirigentes incompetentes, conselheiros omissos que não cumprem nem o mínimo de suas atribuições, e estruturas defasadas — campos de treinamento, categorias de base, academias, alojamentos para os guris. A única coisa que se salva é o Beira-Rio.
Do lado do co-irmão, a situação não é muito diferente. Apesar da corneta que vai tocar alto no ano que vem, quando o Inter completará 15 anos sem títulos nacionais ou internacionais, o Grêmio também patina. O imbróglio da Arena é um eterno vai-não-vai, suas estruturas são precárias, as brigas políticas travam o clube, e a estagnação segue firme. Já se vão quase 8 anos do último título relevante também.
Nesta semana, Rafael Sóbis falou o óbvio: jogador hoje não se encanta só com camisa histórica ou salário gordo. Salário bom, quase todo clube oferece. Mas e a estrutura? E a tecnologia de recuperação pós-jogo? E a análise de desempenho? O futebol virou um negócio milionário que não tolera mais amadorismo. Qualquer guri de 15, 16 anos já tem empresário e projeto de carreira. E, se puder escolher, não vai pra base da dupla Gre-Nal. Vai pro Bahia, que está construindo um centro de treinamento de 300 milhões de reais.
E aí, a dupla vai melhorar quando? Provavelmente quando largar o passado. O que fizemos há 20, 15 ou 10 anos já ficou pra trás. Hoje tudo muda rápido. Planeja-se cinco, dez anos à frente, mas a tomada de decisão precisa ser ágil. “Ah, mas lá atrás deu certo.” Legal. Hoje não funciona mais. Enquanto isso, Palmeiras e Flamengo levam tudo: títulos, patrocinadores, jogadores e visibilidade. Ou mudamos o rumo, ou o Gauchão vai voltar a ser nosso teto.
“Mas Cabelo, tua coluna não é sobre o cotidiano de Canela?” Óbvio que é. E Canela tem muito da dupla Gre-Nal. O canelense ama lembrar de um passado glorioso, mas que não serve mais. Temos estruturas sucateadas na saúde, na educação, e o esporte sequer tem estrutura. Mesmo assim, seguimos achando que olhar pra trás é solução.
A Secretaria de Meio Ambiente não tem processos definidos nem metodologia clara. Um projeto em Canela leva uma eternidade pra ser aprovado e mais tempo ainda pra ser apreciado. O plano diretor já deveria ter sido revisto há pelo menos oito anos, mas a cidade anda em círculos. Quando surge algo promissor — como a compra da Ingool para instalação de uma escola bem estruturada, com muitas vagas para o ensino fundamental — o projeto é defenestrado por picuinhas dignas dos anos 90. Estamos há mais de um ano discutindo um ginásio e nem sabemos onde seria o melhor lugar. E olha que o dinheiro já está em caixa.
Falando em estrutura, nossa prefeitura e câmara de vereadores funcionam em prédios velhos, cheios de puxadinhos, que não atendem mais à demanda da população. Qual é o plano pra isso? Se tocar no assunto, metade da cidade vai reclamar que o dinheiro deveria ir pra saúde, pro transporte público — que é vergonhoso — ou pro Sonho de Natal (que também precisa ser repensado). A verdade é que uma necessidade não anula a outra. Todas são urgentes.
Quem sabe, daqui a alguns anos, eu consiga elogiar a evolução da nossa forma de pensar e decidir os rumos de Canela. Por enquanto, não dá pra olhar tão longe.