Entre eleições, mágoas e teorias conspiratórias, a velha ladainha contra a imprensa se renova a cada governo — só muda o elenco.
Todo jornalista já ouviu isso: “vocês só publicam o que querem”, “vocês têm lado”, “vocês são vendidos”.
A diferença é que, aqui em Canela, o roteiro é o mesmo — só muda o elenco. É uma série com temporadas novas, mas o mesmo texto desde 1900 e guaraná de rolha.
Antes de seguir, um aviso: esta coluna não diz respeito a 99,9% dos leitores da Folha.
Mas existe aquele 0,1% barulhento, teimoso e carente de palco — e é a eles que este texto é dedicado.
A novela política e a velha ladainha
Entra governo, sai governo, muda o prefeito, troca o vice — e o discurso é o mesmo:
A imprensa é vendida, a imprensa é parcial, a imprensa só publica o que o prefeito quer.
Em Canela não é diferente.
Durante as eleições municipais de 2024, todos sabiam — e quem não sabia, agora fica sabendo — que Marcelo Savi, candidato a prefeito pelo MDB, é amigo pessoal deste colunista. Temos relação próxima, esportiva e pessoal.
E foi o suficiente para muitos acreditarem que eu usaria a Folha para pedir votos ao Marcelo ou prejudicar outros candidatos.
Ledo engano.
A Folha não é “o Chico”.
Sou o proprietário e o editor, sim, mas o jornal é feito por uma equipe.
E aqui, credibilidade é o nosso maior patrimônio — não se compra, não se herda e não se pede em emenda parlamentar.
Constrói-se todo dia, com o risco de desagradar quem só enxerga notícia quando o vento sopra a seu favor.
Ao final da campanha, até os desconfiados perceberam: a Folha foi, como sempre é, profissional, isenta e imparcial.
E, para registro, o Marcelo perdeu a eleição — o novo prefeito se elegeu com praticamente a soma dos votos de todos os outros candidatos.
Ou seja: se não foi com meu voto, talvez tenha sido o seu.
Um ano depois: as mágoas que insistem em ser notícia
Um ano se passou. O novo governo enfrenta dificuldades — financeiras, administrativas e de adaptação.
Há quem reclame da demora em certas ações, há quem diga que as promessas ficaram no papel.
Mas o grupo mais barulhento é o dos que ficaram sem seus “benefícios”: um carguinho, um favor, um agrado.
E é aí que começa o show: “a Folha agora tá com o governo”, “a imprensa se vendeu”, “tá tudo combinado”.
Calma, meus caros. A culpa não é da imprensa.
A Folha de Canela não é o confessionário de quem perdeu espaço político, nem o mural de recados de quem quer resolver mágoas pessoais travestidas de pauta comunitária.
Nosso trabalho é com pautas que afetam a vida de todos — e não o ego de alguns.
O feed é seu, o jornal é da comunidade
Se você quer desabafar, use o seu Facebook.
Use o mesmo feed que, há um ano, foi palco de lives, bandeiras partidárias e promessas de “mudança”.
A Folha não é palanque, nem mural de desabafo.
A culpa não é da imprensa.
A culpa é de quem acredita que o seu interesse pessoal vale mais do que o de toda uma comunidade — e ainda quer aplauso por isso.
Aos leitores que confiam
Peço desculpas aos 99,9% que compreendem o nosso trabalho — esta bronca não é com vocês.
Mas esse recado precisava ser dado.
Porque o jornalismo sério tem lado, sim: o lado da verdade, dos fatos e da comunidade.
E quem confunde manchete com vingança pessoal ainda não entendeu que imprensa livre é sinônimo de cidade viva e Canela, com todos os seus problemas, sempre sobrevive.