Eu adoraria não falar sobre futebol hoje. Mas o Inter segue firme rumo à segunda divisão, e fingir surpresa já virou esporte olímpico. O clube vem sendo administrado, ano após ano, por gestões incompetentes. O atual presidente caminha a passos largos para entrar na história, só que pelo lado errado. O anterior? Tão incompetente quanto. Ninguém sai ileso de 15 anos de péssimas administrações.
Agora, colorados, parem para pensar: qual é a qualificação dos conselheiros do nosso clube? São eles que ditam os rumos da agremiação. E antes que os gremistas se empolguem achando que a ruindade é só sobre o Inter, peço que façam a mesma reflexão. Por que nossos clubes repelem justamente os caras que poderiam ajudá-los, não só financeiramente, mas administrativamente?
É só olhar o caso do empresário Marcelo Marques, que desistiu do processo eleitoral gremista. Fica claro que a dupla está atrasada em diversos aspectos. Muitos dos que decidem o futuro da dupla Gre-Nal estão mais interessados em seus próprios benefícios: carguinho pra parente, vaga de estacionamento sem custo, acesso a camarote, “ingressinho” pra amigos e outras regalias de quinta categoria.
Aí a gente olha com inveja pro Flamengo. Faturamento anual na casa do bilhão, torcida orgulhosa, contratos excelentes e resultados desportivos invejáveis. Mas doze anos atrás, o Flamengo padecia como nossos clubes padecem hoje, especialmente o Internacional. Base desmanchada, dívidas exorbitantes, falta de crédito no mercado e uma avalanche de fracassos dentro e fora de campo.
O clube precisou se reestruturar. Encontrar mecanismos para estancar dívidas, readequar orçamentos, mudar pessoas, estruturas e pagar o preço esportivo por algum tempo. Sobreviveu a duras penas e começou a colher frutos. Hoje monta seleções e investe milhões em contratações e infraestrutura.
Existe uma frase recorrente no futebol: “Todo mundo quer ser o Flamengo, mas ninguém quer pagar o preço necessário pra chegar lá.” Em 1996, o Internacional contratou o coordenador João Paulo Medina. Ele analisou a estrutura e afirmou que, com trabalho sério, em dez anos o clube voltaria a conquistar títulos grandes. A torcida e a imprensa caíram de pau. O Inter quase foi rebaixado duas vezes, mas em 2006 — exatos dez anos depois — foi campeão da Libertadores e do Mundial. Apostando na base, fazendo contratações assertivas e mantendo saúde financeira. Não foi do dia pra noite. Hoje, o clube voltou à era dos fracassos porque esqueceu de onde veio seu sucesso. E vai pagar caro por isso.
Mas Cabelinho, tua coluna é sobre futebol hoje? Não necessariamente.
Olhemos para Gramado. O canelense adora comparar sua cidade com a vizinha, principalmente nos momentos ruins. É o caso do Natal. Gramado está cheia, com o Natal Luz maravilhoso, investimento de milhões e estrutura para receber milhares de turistas diariamente. Canela já esteve em um patamar parecido. Em alguns momentos, parecia até melhor em seus eventos. Mas foi definhando, esquecendo sua essência e parando de olhar para dentro.
Os exemplos de fora sempre pareceram melhores. As pessoas daqui deixaram de ser valorizadas. Hoje, o Sonho de Natal é menor do que já foi, e outros eventos sequer são realizados.
Não vou fazer caça às bruxas com essa administração, que realmente deixa a desejar em alguns aspectos neste primeiro momento, principalmente na falta de habilidade em comunicar suas dificuldades para realizar ações ligadas ao turismo. Para os comerciantes que dependem do fluxo de visitantes para pagar as contas, o tempo é escasso. Muitos não terão mais três anos para corrigir um ano fraco. As contas chegam, e quando não fecham… já era. Essa é a realidade do setor privado. A matemática, muitas vezes, é ingrata.
Mas o fato é: para nos equipararmos a Gramado, precisamos entender como a cidade chegou lá. E hoje, não sei se todo mundo quer, ou pode, pagar esse preço. Gramado investe em pessoas. Faz base. Atrai profissionais da região. Valoriza o local de verdade. Jamais uma empresa como a D’arte (que é canelense) deixaria de ser relevante por lá — assim como tantas outras.
Aqui em Canela, às vezes parece que prosperar é feio. Que ter sucesso e ganhar dinheiro é pecado. Dá-se mais importância a comentários irrelevantes no Facebook do que a sugestões e críticas construtivas de quem realmente entende. E aí, quando a mediocridade começa a pautar uma comunidade inteira, o único caminho é o da ladeira abaixo.
Nossa cidade tem belezas naturais invejáveis, pessoas ligadas à cultura talentosíssimas, empresários geniais em setores como gastronomia, serviços, comércio e indústria. Temos um povo trabalhador, espaços maravilhosos (ainda que mal cuidados) e muito potencial. Mas precisamos retomar um caminho que ainda não está pavimentado.
E aí, vamos querer isso pra gente?
Fica aí a reflexão.