Já não vou mais entrar no mérito dos erros e acertos em relação ao Sonho de Natal em nossa cidade. O cenário já foi exposto, analisado e é real. Não temos poder de investimento, o ano foi desafiador e houve duas trocas no secretariado em menos de doze meses. Alguns eventos deixaram de acontecer, outros não foram entregues integralmente, e 2026 já bate à porta.
A dificuldade de realizar um grande evento natalino em Canela é evidente por diversos motivos. O mais óbvio é o financeiro: a cidade não dispõe de orçamento para investir no turismo como um todo, muito menos para gastar fortunas no Sonho de Natal. Arrecadamos menos do que deveríamos e o custo social com educação e saúde é gigantesco e prioritário, convenhamos. Além disso, a Secretaria de Turismo conta com equipe reduzida, o empresariado, em sua maioria, não tem condições de abraçar o evento financeiramente (por mais que a ACIC ajude como pode), e falta planejamento de longo prazo. Não temos equipamentos em condições de apoiar algo diferente; a Casa de Pedra, o Teatrão e o Centro de Feiras estão abandonados há anos. A dificuldade para realizar o Sonho de Natal é enorme, como se nota.
O que Canela tem de bom: um setor cultural talentoso, com muita gente capaz de contribuir; uma igreja imponente; parques que hoje fazem da cidade um destino muito visitado; e pessoas com credibilidade para somar esforços e fazer o evento acontecer. O Sonho de Natal surgiu de forma comunitária, feito pela própria comunidade. Com o passar dos anos, a situação degringolou e o poder público assumiu tudo.
Não podemos esquecer que a cidade chegou a correr o risco de perder a marca Sonho de Natal. Um dos pilares do evento, nos primórdios, foi a Aldeia do Papai Noel, hoje consolidada na vizinha Gramado — cidade que virou referência em eventos natalinos porque tem investimento, continuidade e pessoas que entendem a importância da cadeia que faz tudo acontecer.
Aqui, pessoas incríveis se afastaram, perceberam que o que faziam não tinha valor para muitos. Sempre havia poréns, muitos poréns. O Sonho de Natal muitas vezes pareceu algo mecânico, feito apenas por obrigação. Se não todo o evento, boa parte dele. Não vou discutir com a lei, ela está acima de tudo. Mas uma licitação para decoração, por exemplo, não pode exigir elementos intangíveis como aura, magia e conexão com o propósito. E assim caímos em uma vala difícil de sair.
O que deve ser feito: primeiro, um chamamento de todos os que já estiveram envolvidos com o Sonho desde sua época comunitária. Precisamos ouvir mais quem já fez pela cidade. Isso vale não apenas para o Sonho, mas para muitas outras áreas de Canela. Depois, é necessário construir a base: pensar em uma decoração que encante, que convide o visitante a entrar na cidade desde a chegada. Espaços públicos como a Praça João Corrêa, o Teatrão e a Casa de Pedra devem estar integrados ao contexto. Quem sabe o grupo de Parques Temáticos não assuma a praça, criando algo que encante o visitante e apresente os parques a todos que circulam por ali?
E a nossa Igreja precisa ser o grand finale: luzes, decoração e shows que ressaltem sua imponência. Não é tão difícil. E, obviamente, toda a classe cultural deve estar envolvida — é um dos nossos principais patrimônios.
Resumo da ópera: precisamos começar a correr todos na mesma direção. Pode parecer utópico, mas é a realidade necessária. Reunir pessoas, ouvir umas às outras e, a partir daí, pensar em qual Sonho de Natal queremos.