Canela,

17 de dezembro de 2025

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O estilo arquitetônico de Canela: no Dia do Arquiteto e Urbanista, conheça as referências presentes nas construções da nossa cidade

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Detalhes da arquitetura do Castelinho do Caracol Foto: Acervo Castelinho do Caracol


Reconhecida mundialmente pela beleza da icônica Catedral de Pedra, mais importante atrativo arquitetônico e histórico de Canela, a cidade é diferenciada no quesito estético das construções. As edificações mais antigas da cidade, que ainda se mantém, remontam às décadas de 1910 e 1920 e trazem influências germânicas, italianas, portuguesas e muitas outras, sendo reunidas em um único estilo: o serrano, com pés direitos altos, paredes em madeira, telhados com grandes angulações, entre outras referências. Neste dia 15, quando é celebrado o Dia do Arquiteto e Urbanista, a Prefeitura Municipal conta um pouco da história do desenvolvimento do município, a partir das características próprias das construções locais.

As referências arquitetônicas são essenciais na identidade de uma cidade. Nesse sentido, Canela foi construída a partir de três situações: a passagem dos tropeiros que transportavam gado pela região; a exploração das matas de araucárias pelas serrarias; e, posteriormente, a chegada do trem à cidade. O historiador Marcelo Veeck aponta que a arquitetura canelense tem sua gênese nessa época e que até hoje as construções trazem referências do rústico e colonial presente na madeira e nas pedras.

Essa união de estilos, formas e cores está refletida na arquitetura eclética da cidade. Veeck afirma que, na sua concepção, não há um modelo definido para as construções de Canela, como acontece em outras localidades, em função da vinda de muitas pessoas de fora e de religiões diversas que influenciaram a cultura local – alemães, italianos, negros, luso-brasileiros, católicos, luteranos, protestantes, etc. “Até a década de 1960, a maioria das edificações era feita em madeira. É só na década de 1970 que começam a aparecer em maior número residências em alvenaria”, confirma o historiador. É o estilo serrano, observado nos altos chalés feitos inicialmente de tabuão e depois de madeira beneficiada, alguns com detalhes em lambrequim, telhados, sótão, e paredes revestidas com estuque.

Essa mudança no padrão construtivo também chegou ao prédio da antiga Igreja Matriz, construída em 1926 em terreno doado por Luiza Corrêa – esposa do fundador João Corrêa. O aumento populacional e a importância que Canela passava a ter no Rio Grande do Sul, recebendo muitos visitantes, fez com que tomasse forma o projeto de ampliação. Então, em 1953, é lançada a pedra fundamental da atual Catedral de Pedra, levantada em cima da primeira capela, em alvenaria, estilo neogótico inglês, projetado por Bernardo Sartori. O prédio levou algumas décadas para ficar pronto, sofrendo com falta de recursos em alguns períodos. Em 1964, foram construídas as paredes; em 1965 instalado o telhado; em 1966 foram comprados os vitrais; em 1978 foi colocado o forro; e, em 1982, o piso em pedra basalto. Em 1972, a Catedral recebeu o carrilhão com 12 sinos, fabricados na Itália, mas só em 2005 eles começaram a soar. Já a porta de madeira em mogno chegou em 1987.

Arquitetura começa a mudar

Até a década de 1940, a maior parte das construções, principalmente de cunho residencial, eram constituídas em madeira, especialmente por causa do grande número de serrarias e madeireiras que havia na região. Além do Castelinho do Caracol (da família Franzen), erguido entre 1914 e 1915 – um dos mais antigos e famosos de Canela -, há mais alguns exemplos de casas que resistem ao tempo das décadas de 1910, 20 e 30:
-da década de 1910, a casa em alvenaria de Manoel Wasem, no Banhado Grande;
-de 1920/30, a Estação Férrea; prédio da esquina da Av. Júlio de Castilhos com a rua Felisberto Soares onde está a Farmácia Panvel; o casarão da família Sander (na rua Dona Carlinda); a parte antiga do Grande Hotel Canela (feita toda em madeira); a casa onde morou Luiza Corrêa, esposa de João Corrêa na Vila Luiza; e o casarão de madeira da família Raymundo, na Travessa Tuiuti.  

A mudança também atingiu os meios de hospedagem da época, que para oferecer mais conforto aos hóspedes que vinham para a região, passaram a construir em alvenaria. O Grande Hotel Canela seguiu essa linha, ampliando suas instalações para melhor acomodação dos veranistas.

Em 1939, é instalada na cidade a fábrica de celulose e papel. Isso atingiu o desenvolvimento da atividade turística no local, pois os dejetos eram descartados na natureza, causando a degradação ambiental da Cascata do Caracol. Na mesma época, começa a construção do Cassino Palace Hotel na parte central da cidade – um empreendimento considerado ousado para a época e que acabou por não ser concluído pela proibição de jogos de azar pelo então presidente Eurico Dutra em 1946.

Outra situação registrada no Inventário de Patrimônio Histórico é a escassez da madeira extraída na região, que nesse período passa a afetar as serrarias e, por consequência também, o ramo hoteleiro. As madeireiras encerram as atividades e os trabalhadores deixam Canela. Muitas famílias com posses começam a enviar os filhos para estudarem fora e o movimento de residentes cai.

Ainda na década de 1940, a cidade vê crescer o número de veículos motorizados, que passam a disputar espaços com aqueles puxados à tração animal. Com isso, a estética das ruas mudou, pois os palanques que serviam para amarrar os cavalos cedem espaço para o estacionamento dos carros – que eram de propriedade dos veranistas, em maioria, e transitavam por pistas ainda sem pavimentação. No interior essa mudança ainda demora, pois as estradas de terra eram inacessíveis para esses automóveis inicialmente.

Em 1963, uma nova crise: o terminal ferroviário encerrou as atividades, deixando a cidade saudosa da movimentação de pessoas e cargas. Apesar disso, em 1970, novos hotéis começam a ser erguidos, necessitando de mão de obra na construção e depois na operação. São desse período os hotéis Laje de Pedra e Continental, que impulsionaram novamente o turismo local e o turismo regional que começava a crescer.

Um novo tempo

Com o fechamento das serrarias e o declínio do turismo, na década de 1950 empreendedores locais projetam empreendimentos para impulsionar novamente a economia da cidade. Surge o primeiro atrativo temático, o “Mundo a Vapor”, que evidenciava as máquinas movidas à vapor. Hoje são mais de 20 empreendimentos turísticos, que deram à Canela o título de Capital Nacional dos Parques Temáticos.

O turismo de eventos também estimulou a rede hoteleira e de gastronomia, a exemplo da procissão de Nossa Senhora de Caravaggio, que remonta à década de 1950, e atrai muitos fiéis à cidade até hoje. Nos anos 1980, surgem o Festival de Teatro Amador, o Sonho de Natal e o Festival Internacional de Bonecos, ajudando a alavancar o turismo e a cultura em Canela e região. Com o tempo, entram no calendário a Páscoa e a Semana Santa, a Festa Colonial, a Temporada de Inverno, e outros.

Dia do Arquiteto e Urbanista

A data, comemorada em 15 de dezembro, foi instituída pela Lei Federal nº 13.627/2018, para homenagear Oscar Niemeyer, que nasceu nesse dia e é considerado um dos grandes nomes da arquitetura brasileira.

Texto: Adriana Rabassa/Prefeitura de Canela