Desde cedo me apaixonei pelo jornalismo. Por ser inquieto e filho de professora, aprendi a ler muito cedo. Li a coleção de Monteiro Lobato ainda pequeno e, diariamente, acompanhava os jornais de casa. Mesmo sem compreender toda a complexidade das matérias, fascinava-me a ideia de poder saber tudo o que acontecia ao redor do mundo. Ali, em cerca de 80 páginas, estava o que eu julgava essencial. A Zero Hora, que meu pai buscava diariamente na Tabacaria Milão do Paulo Fauth, abastecia nossa família de informação.
Às sextas-feiras, o Nova Época, então comandado pela família Viezzer, trazia as notícias locais, que pareciam não ser tão frescas quanto as da Zero Hora. Eu me perguntava por que o jornal da minha cidade não era diário. Pensava com meus botões: “No dia em que eu crescer, vou criar um jornal diário como a Zero Hora. Vou me dar muito bem”.
É claro que eu não tinha noção da realidade e da dificuldade que era, e ainda é, fazer jornalismo no interior do estado. Custos de impressão, falta de pessoal, escassez de notícias (o tempo parecia passar mais devagar nos anos 80) e até mesmo o desinteresse das pessoas em acompanhar a informação. Eram outros tempos.
Corte rápido para o final de 2025. Tudo acontece a jato. A todo momento somos bombardeados por informações, algoritmos ditam o que devemos pensar e os portais suprem nossa ansiedade por novidades em tempo real. Alguém foi preso? Os grupos de WhatsApp espalham rumores que serão confirmados (ou não) em minutos por portais de credibilidade; como este em que tenho a responsabilidade de escrever. Qualquer declaração viraliza, qualquer deslize vira manchete e muita fofoca se transforma em “verdade” difícil de desmentir.
Quantas “chocas”, “Canela virando Disney”, “tigradas” e tantas outras expressões entraram no cotidiano da nossa comunidade de forma acelerada? Tudo é veloz, o leitor é voraz, mas também — e aqui vai minha crítica — a maioria peca por não se aprofundar em praticamente nada. Muitos se contentam em ler apenas o título e querem tudo de mão beijada. Não querem se aprofundar na notícia, não querem “perder tempo” lendo um texto construído para informar. Em tempos de áudios de WhatsApp 2.0, gastar três minutos para entender por que uma manchete virou matéria de 826 palavras parece demais. Isso equivaleria a dois reels no Instagram: um de receita de carbonara (que você já viu em 37 versões) e outro de gatos fazendo “gatices”, que aparece a cada dez minutos nas suas redes.
Mas aonde quero chegar com isso? Na importância de se ter um jornalismo ativo. É através da imprensa que você fica sabendo dos desvios no INSS, das falcatruas do Banco Master, do blogueiro preso por fraude ou do político de Canela envolvido em escândalos. Você pode discutir se a imprensa é de esquerda ou de direita, se é situação ou oposição. Mas é por meio dela: hoje, sobretudo por portais e perfis digitais, que a realidade é propagada.
Existem jornalistas mal-intencionados? Óbvio que sim. Não há profissão impoluta; basta olhar para o que acontece até na Igreja Católica. Mas a maioria dos jornalistas merece aplausos. E você só vai perceber isso se algum dia a profissão acabar ou for tolhida. Nesse caso, só restará a versão “oficial” — e ela, muitas vezes, não será a verdadeira.
E o título da coluna, Cabelo? Pois então. Certa vez escrevi um texto para outro veículo exatamente com essa frase. Bombou, e muita gente veio falar comigo. Mas quando eu começava a destrinchar o conteúdo, ficava claro que muitos não haviam lido o texto inteiro nem entendido o contexto. Eu realmente não gosto de Beatles, mas não acho que sejam ruins. Já diria meu amigo Foca: “É bom, mas eu não gosto”. Eu também não gosto de escanteio curto, e o Guardiola já provou que funciona.
E se você chegou até o final destas 660 palavras, meu muito obrigado! É por isso que ainda estou aqui.